Folha de S. Paulo


'São Paulo é um prato cheio para o romancista', diz escritora goiana

São Paulo como protagonista, não como pano de fundo. É esse o novelo que enreda "Pauliceia de Mil Dentes" (ed. Prumo), livro mais recente de Maria José Silveira ("não gosto de dar idade, diga que sou da geração de 68").

"Superpovoado", o romance é um emaranhado de personagens da cidade: motoboys, socialites, prostitutas, evangélicos, índios, japoneses, italianos... "Essa cidade é feita de pessoas."

Em 1969, ela veio de Goiás, onde nasceu, para a capital paulista. Tachada como "subversiva" pelos militares, passou três anos exilada no Peru.

De volta, esperou quase três décadas até lançar seu primeiro romance, "A Mãe da Mãe de Sua Mãe e Suas Filhas" (ed. Globo). Não foi à toa: na estreia, ganhou prêmio de revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Ao lado dos colegas Tony Bellotto e Marçal Aquino, com mediação de Manuel da Costa Pinto (colunista da sãopaulo), ela vai participar de um debate sobre as diferentes representações da cidade na literatura.

Dessa vez, o cenário é a Pauliceia Literária -espécie de Flip paulistana-, cuja primeira edição acontece na semana que vem, no centro, na Associação dos Advogados de SP.

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sãopaulo - Por que esta cidade é um bom cenário para um romance?
Maria José Silveira - São Paulo é um prato cheio para o romancista. É a somatória das nossas mazelas e riquezas, belezas e feiuras, contradições e conflitos. Funciona
como um espelho do Brasil.

Você veio de Goiás para cá em 1969. Morou em quais bairros?
Barra Funda, Paraíso, e dois anos na Pauliceia, um bairro de São Bernardo do Campo. Fiquei lá clandestina na ditadura. Depois, vim morar na Bela Vista.

Qual é seu preferido?
Onde estou agora. Vejo a Paulista da janela. Passam aqui diariamente um milhão e 200 mil pessoas, é uma cidade andando por dia na Paulista.

Qual é a SP de seu último livro, "Pauliceia de Mil Dentes"?
Sempre quis a cidade como personagem. Mas a cidade é feita pelos moradores, então é um livro superpovoado. Tem motoboy, transexual, pastor, diretor de teatro, famílias disfuncionais, meninos de rua, a avó tradicional, socialite, cabeleireira, empresário. E tem o crime, como não poderia deixar de ser.

No exílio, do que sentia mais falta?
Da intensidade sem igual da vida aqui. E das possibilidades de trabalho também.

"Pauliceia Desvairada", de Mário de Andrade, é ponto de partida para o debate do qual você vai participar na Pauliceia Literária.
Esse livro é maravilhoso. Meu título é inspirado num dos versos do Mário, "Pauliceia - a grande boca de mil dentes".

Que outros autores de SP são importantes em sua formação?
Mário e Oswald de Andrade foram básicos. A partir deles criei essa relação literária com a cidade. Os outros eu não acho tão fundamentais.


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