Folha de S. Paulo


'Deusa da Pornochanchada' lamenta fim da região da 'Boca do Lixo'

Entre 1977 e 1987, a atriz Nicole Puzzi foi uma das grandes responsáveis por lotar cinemas Brasil afora. Por películas como "Reformatório das Depravadas", veio o título: "A Deusa da Pornochanchada".

Quando a Cinelândia da Boca do Lixo se perdeu, Nicole desceu do panteão para viver com os mortais ao rés do chão. Fez teatro e novelas (a última foi "Amor e Revolução", do SBT, em 2011). Telona, nunca mais. "Não consigo ser apadrinhada. Existe um nepotismo no cinema nacional."

Ano passado, anunciou em seu blog que leiloaria o corpo para conseguir financiar "Eu Só Estava Amando em 70", um "stand-up romântico".

Hoje, vive com a filha, Dominique, e cinco cachorros (quatro chihuahuas), na Vila Sônia, zona sul. Lançou (com pseudônimo) um livro espírita e um evangélico, além de "A Boca de São Paulo", com os bastidores da Boca do Lixo. Planeja ainda uma coletânea com contos de terror.

Nicole quer fazer um curso técnico e irá prestar o Enem. A meta é se superar: em 2008, participou do exame e tirou 78 de 100 pontos. Ainda é pouco para uma divindade.

sãopaulo - Qual foi a importância da pornochanchada para o cinema brasileiro?
Nicole Puzzi- Os anos 1970 eram de "ou vai ou racha". O público brasileiro precisava assistir a filmes com uma carga sexual porque estava muito carregado de tabu, complexado sexualmente. Fomos ousados e falamos de sexo. Falei com meu corpo.

Acha que ficou marcada pelo tema?
Antes sofria, mas esse preconceito bobo passou. Hoje, tenho muito mais fãs.

E como era essa vivência na área?
A Boca do Lixo tinha prostitutas, marginais, mas o cinema marginal tinha que morar ali. A gente precisava ser rebelde de alguma maneira. O certo era esse. Não pode ficar nua? Então tiro a roupa.

Você chegou a voltar lá?
Estive lá para um documentário sobre a rua. Fiquei muito triste, porque era um lugar onde poderia ser preservada a memória do cinema de São Paulo. Não é nem mais Boca do Lixo, é Boca do Nada.

Você tem um livro espírita e outro evangélico. Segue alguma religião?
Sou uma niilista passiva, ao mesmo tempo em que admiro Jung [psiquiatra suíço]. E sou apaixonada pelo papa, ele é a cara do Gepeto, o pai do Pinóquio, muito divertido e positivo.

E seu livro sobre a Boca do Lixo?
Só não saiu por uma editora grande porque queriam que colocasse momentos quentes da minha vida. Na minha idade, quem vai querer saber para quem eu dei ou não? Não sou uma velha assanhada.

E o leilão do seu corpo que anunciou?
Não tenho talento para prostituta, era só para chamar atenção para a minha peça. Recebi muitas propostas. Aos 55, é um privilégio. Ainda nem fiz plástica.

Qual é o seu tipo de homem, então?
John Travolta, gordinho e tudo. Pelo Danny Glover tenho verdadeira paixão.


Endereço da página:

Links no texto: