Folha de S. Paulo


Motéis substituem camas redondas para atrair quem só quer dormir em paz

O sexo anda mais quadrado dentro dos motéis paulistanos. Ao menos no que se refere a design mobiliário: casas como o Lumini, Astúrias, Lush, Tropical, Pedacu's e Harmony aboliram as camas redondas das suas suítes, onde agora imperam os ângulos retos de leitos estilo box.

"Começamos a descaracterizar as coisas mais cafonas", diz o diretor do Harmony, Lourenço Pires. Entre os itens banidos da casa, na rodovia Raposo Tavares, estão quadros de mulheres em poses insinuantes e o teto de espelhos. "O negócio está para o lado do spa butique."

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O Tropical, que fica na mesma via, diz que a transição é por causa do gosto da clientela. "A parte carregada da decoração está ficando cada vez mais 'clean'", diz o diretor, Carlos Negro.

Caiu também o número de suítes temáticas. "Sobrou só uma, a oriental, mas acho que a tendência é ter quarto tipo de hotel", afirma Pires, do Harmony. A libido, diz, mora no detalhe. "O cara vem porque tem claraboia, lareira virtual [em que uma tela faz as vezes de fogo] e cortina elétrica."

E a cama quadrada não entrou sozinha nesses quarto: alguns motéis até passaram a oferecer guarda-roupa. "É para clientes que querem passar a noite, não necessariamente fazer sexo", diz Humberto Ocaido, gerente do Red Roses, no Jaçanã, zona norte.

Durante eventos como Parada Gay, Fórmula 1 e festivais de música, pernoites sem sexo chegam a 60% do movimento de 12 motéis ouvidos.

Nesse processo de troca, a roupa de cama não precisou ser mudada. "Comprávamos a cama sob medida, mas não tinha lençol para o colchão redondo. Então, usávamos quadrado mesmo, enfiando as pontas embaixo do colchão, para ficar bem esticadinho", conta Marly Couzi, gerente do Pecadu's, que fica no Campo Grande (zona sul).

MERCADO BROCHADO

Quem não está nada animado com a mudança é a região de Dois Irmãos, cidade no Rio Grande do Sul que fornecia mobília para vários motéis paulistanos. "Vendíamos quase que metade das redondas para São Paulo. Mas, de uns tempos pra cá, isso caiu para 10%, se tanto", diz Werner Anduílio, dono de uma marcenaria.

Nem tudo está perdido, diz ele. Anduílio diz que cogita com colegas abrir um site para vender a cama redonda direto para o consumidor final da capital paulista. "As pessoas não acham mais a cama redonda em motel e agora querem ter em casa. Já vendi três para turistas só nesta semana."

Enquanto um conjunto de box e colchão esféricos para motel sai por R$ 1.500 ("tem de ser uma coisa mais guerreira, mais simples"), a cama doméstica tende a custar mais. O produto com acabamento de luxo, como malha de fibra de bambu, custa R$ 2.790. "Quando o casal vai escolher, a 'marida' pende para o colchão mais caro. Porque daí também usa pra dormir, né? Aí são outros quinhentos."

AQUI AINDA ROLA CAMA REDONDA:

Acaso. Av. Salim Farah Maluf, 6.190, Vila Prudente, zona leste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/2021-1695.

Vianna Castelo. Rod. Raposo Tavares, km 21, Granja Viana, Cotia, SP. Tel.: 0/xx/11/4612-220.

Farao's. Rod. Anchieta, km 10, Ipiranga, zona sul, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/2947-5000.


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