Folha de S. Paulo


'Estilo de morar em SP reproduz casa grande e senzala', diz curador da Bienal de Arquitetura

Não temos um estilo único ou predominante de morar. São Paulo é uma babel de possibilidades. A questão não é de estilo. O que talvez seja um traço marcante, no caso brasileiro, é a persistência do modo horizontal de organizar as relações sociais nas cidades que se verticalizaram.

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Quero dizer, o modelo colonial do par casa grande e senzala foi reassimilado nos arranha-céus de cidades como São Paulo, empilhando apartamentos que abrigam tanto as famílias de proprietários quanto seus empregados, contendo quarto e banheiro de serviços, além de copas que separam a cozinha da área social.

Como notou o sociólogo Roger Bastide já no início dos anos 1950, esse modelo -que ele chamou de paulistano- diferia radicalmente da Europa, onde a classe de empregados vivia nos apartamentos mais altos dos prédios, que são menores e de acesso mais difícil (sem elevador).

Pois, ao contrário da promiscuidade violenta e afetiva da relação entre casa grande e senzala, na Europa a classe de empregados se afirmou (também espacialmente) de uma forma mais independente. Como muito bem notou Bastide, em São Paulo a verticalização não deixou de ser horizontalizada.

E hoje, 60 anos depois, percebemos que sua constatação ainda não perdeu a atualidade.

Guilherme Wisnik, 40, é arquiteto, doutor pela FAU-USP e curador da 10ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, que acontece em outubro.


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