Folha de S. Paulo


Veterano de "Terra em Transe", Pereio não foi a protestos por medo de apanhar

Paulo César Pereio, 72, quase é pego com as calças na mão.

O ator acabou de se trocar. Desencarnou do personagem Zeus, o deus de todos os deuses gregos, que usa paletó branco com metais em forma de espeto na peça "Krisis" (hoje acontece a última sessão, na qual contracenará com Elke Maravilha, no Sesc Bom Retiro). Aguarda a sãopaulo em seu camarim: o banheiro.

Em cena, ele diz que cansou dos humanos. Fora dela, fica "muito feliz em ser identificado com essa divindade suprema". De camisa verde (o último botão, fora da casinha, deixa parte da barriga à vista), calça branca e Havaianas laranja, Pereio está em "Krisis", mas em crise, acredita, está o mundo inteiro.

Quer saber em que parte da Folha esta entrevista sairá pois, para ele, "os quadrinhos são os melhores".

Ezyê Moleda/Folhapress
Veterano de 'Terra em Transe' não foi a protestos pois tinha medo de apanhar e diz que ser candidato não tem mais graça
Veterano de 'Terra em Transe' não foi a protestos pois tinha medo de apanhar e diz que ser candidato não tem mais graça

sãopaulo - Te vejo sempre na praça Roosevelt.
Paulo César Pereio - É um grande laboratório de experimentação dramática. Lá as peças do [Mário] Bortolotto são debatidas, lidas. Até gravei um blues com um grupo do Mário, de minha autoria: o "Blues da Punheta".

E como é?
Quer que eu cante? Com vídeo junto? Não vou, não. Blues não é para cantar a capela. [A inspiração veio] da solidão. "Blue note"... É uma nota melancólica.

São Paulo te dá melancolia?
Sou atraído pelo blues, mas não por ela. O fim da melancolia é a própria morte.

Você é atraído pelo que mais?
Estou me tornando uma pessoa virtuosa. É um bom negócio pra segunda metade da vida. Vício a gente cultiva na primeira.

Participou dos protestos em SP?
Tenho medo de sair na rua e nego me pegar de porrada. Mas fui muito militante. Sou autor do "Hino da Legalidade", aquele movimento do Brizola no Rio Grande do Sul, quando o Jânio renunciou e não queriam dar posse pro Jango. Agora sou do Partido Socialista [PSB]. Fui candidato a vereador [em 2012].

Pretende concorrer a algo em 2014?
É uma aventura que eu tinha prazer de curtir junto com o meu irmão mais moço. Mas o Jota Pingo morreu [em dezembro], aí não achei mais graça.

O que achou das manifestações?
Sempre falavam em vandalismo. Acho uma estupidez. São palavras que entram na moda. O papa veio, todo mundo falava em carisma. Meu deus, carisma significa epilepsia [no sentido teológico, dons espirituais]. Até hoje nego, quando recebe santo, tem uns trancos que parecem um pouco com crise convulsiva.

E o vandalismo?
Dizem: 'Tem que ser pacífico'. Às vezes, se não houver um pouco de violência, não funciona. Quebrar um pouco as coisas, qual o problema?

Você já quebrou algo militando?
Falei pra você que não fui por medo.

Estava falando do passado...
Isso aí a história vai contar. Não sei.


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