Folha de S. Paulo


À noite, o Minhocão vira pista para ciclistas, famílias e passeio com cães

"Aqui é bem tranquilo. Não precisamos ficar atravessando ruas, competindo com os carros..."

Pode acreditar: o músico Vinicius Ramos, 35, está falando do Minhocão. Nesse mesmo elevado, nos horários de pico, são cerca de 3.849 carros entre 7h15 e 8h15 e mais 2.383 das 17h às 18h, segundo a CET.

Mas o único veículo que Vinicius dirige por ali é o carrinho de seu bebê de dois anos. Ele e a mulher, a enfermeira Fernanda Vidal, 33, gostam de passear pelo asfalto com os filhos (há outro menino de seis anos).

A partir das 21h30, de segunda a sábado, a pista é toda deles: famílias, ciclistas, donos com seus cães...

Até as 6h30, o Minhocão é bloqueado para tráfego (o que acontece em tempo integral nos domingos e nos feriados). Quando o ronco dos motores silencia, o barulho que predomina vem de latidos, bolas quicando e pessoas conversando.

A família de Vinicius e Fernanda, por exemplo, frequenta o local ao menos três vezes por mês e caminha durante uma hora e meia.

Em 1976, cinco anos após ser inaugurada, a via foi bloqueada à noite para veículos: a barulheira era tão intensa que seria difícil para moradores vizinhos dormirem.

Mesmo depois de tanto tempo, é possível encontrar gente da região que só recentemente descobriu o "parque noturno" que estava perdendo. É o caso do porteiro Mário Ribeiro, 46, que mora há 27 anos perto da estação Marechal Deodoro.

Desde 2009, aproveita os cerca de 3 km do elevado para correr --a dica veio de amigos que se exercitam lá.

A visão de uma via completamente livre de carros provocou uma reviravolta na rotina do jornalista Pedro Sibahi, 24. Quando se mudou de Interlagos (zona sul) para o centro, há pouco mais de um ano, ele não fazia ideia de que o Minhocão virava uma área de lazer dos notívagos. "Demorou um pouco para perceber. Via a placa de 'fechado', mas nunca relacionei uma coisa com a outra."

'CAI TUDO!'

O Minhocão também faz as vezes de "cachorródromo".

O microempreendedor cubano Roberto Garcia, 45, há seis anos no Brasil, gosta de levar seu pastor alemão Ringo para passear. Mas evita fazer "cooper": não acha saudável, para seus órgãos genitais, praticar exercícios no asfalto. "Cai tudo!"

E se andar numa megalópole como São Paulo já inspira cuidados, o que dizer da região marcada pela presença de usuários de drogas?

A aposentada Ciralva Pereira, 68, dona da cachorrinha Olívia, diz nunca ter sido incomodada. "Até às 23h, é supertranquilo. Aí começam a aparecer umas figuras estranhas, mas nunca vi nada demais aqui."


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