Os trilhos de bonde estavam na rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, desde 1909 -- quando a linha que ia do rio até o centro foi construída. Aposentados nos anos 60, ficaram esquecidos até essa segunda-feira (5), quando foram desenterrados durante obras que fazem parte da requalificação do Largo da Batata.
Agora uma equipe de arqueólogos vai limpar os trilhos, fazer fotos e desenhos para catalogação. Segundo a prefeitura, ainda está em discussão com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) qual será o destino final do material.
A descoberta já era esperada e, por isso, não vai haver atrasos nas obras, diz a prefeitura. Mas isso não diminuiu a perplexidade dos operários e a excitação dos pedestres que passavam pelo local --diversos pararam para tirar fotos.
Esses não os primeiros trilhos encontrados em Pinheiros. Nas ruas Butantã e Paes Leme, parte da linha já havia sido recuperada. Uma parte desse primeiro achado vai ser instalada na nova praça em Pinheiros, onde ficará exposta ao público para lembrar a história da cidade.
Os primeiros bondes de São Paulo, puxados por burros, começaram a circular ainda no século 19, em 1872. Foram substituídos por bondes elétricos em 1900, com uma linha que ia do largo São Bento até a Barra Funda.
Na região de Pinheiros o bonde ia até a margem do rio até a década de 30, segundo Juliano Meneghello, arqueólogo da A-Lasca, empresa responsável pelo acompanhamento arqueológico da obra. Depois disso, parte da linha já havia sido inutilizada. "Há mapas dos anos 50 que mostram o traçado da linha menor, não chegando até a igreja de Pinheiros."
As diversas linhas instaladas na cidade foram operados pela Light até 1945, quando sua administração foi transferida para a prefeitura. Os bondes foram sendo tirados de circulação até serem totalmente substituídos por ônibus na década de 1960.
A última linha (entre Santo Amaro e o centro) deixou de funcionar em 1968, na gestão do prefeito Faria Lima.
OUTROS ACHADOS
A história que está sendo desenterrada no bairro não se resume aos trilhos.
"Foram encontrados cerca de 180 mil fragmentos arqueológicos nas ruas e quadras da região", explica o arqueólogo Meneghello. Há louças, vidro, armas de fogo, ferraduras, restos de ossos de animais e outros materiais de uso cotidiano do século 19 e do início do séculos 20.
Todo esse material está sendo catalogado. Boa parte será descartada e o que for relevante será encaminhado ao DPH (Departamento do Patrimônio Histórico).