Folha de S. Paulo


Rock'n'roll motorizado: loja itinerante de discos tem promoção com uísque grátis

Tem gente que aproveita o carro para vender pamonha. Em São Paulo, três amigos usam um Galaxie preto, ano 1967, todo original, para vender (ou não) discos.

A ressalva é importante: volta e meia eles se arrependem. "Estou praticando o desapego, mas já fiquei sem dormir depois de ter 'perdido' disco meu", conta Ítalo Escarparo, 43, sócio da loja itinerante Jack Records --criada há quatro meses em parceria com Alessandro Psycho, 33, e Alex Brazales, 41.

Brazales reitera a vocação para Brás Cubas (empreendedor frustrado do romance de Machado de Assis). "Outro dia quiseram comprar minha camisa do Speed Racer. Falei, 'pô, sai fora, você já tá levando o meu disco'", afirma.

Quando eles finalmente relaxam, a clientela agradece.

O acervo da Jack Records tem mais de 200 títulos, entre clássicos (como Elvis Presley, Johnny Cash e Stevie Wonder) e obscuros (Shop Assistants, Prostitutes e The Vaginas).

PS --quem levar os dois últimos, segundo Ítalo, tem desconto.

No porta-malas, ao lado dos discos e camisetas, uma vitrola fica à disposição dos clientes para um "test-drive". "Ao contrário das outras lojas, aqui dá para ouvir antes de levar para casa", diz Escarparo.

Para os sócios, engordar a coleção é moleza. Desde pequenos (eles são amigos de infância), o programa preferido é procurar raridades em sebos e lojas de discos em bairros como Mooca, Morumbi e Centro.

Mas são viagens recorrentes aos Estados Unidos que garantem os principais achados.

Entre eles, discos de músicos brasileiros "que só rolam na gringa", como a trilha sonora do filme "Cidade de Deus", e a gravação de um show conjunto das bandas punk Ratos de Porão e Cólera, de 1985.

É bom frisar que nem só de rock'n'roll vive o acervo, cujos preços partem de R$ 25. Na coletânea "Brasa, Bicho, Brasa", intérpretes como Os Caretas, Gerson Combo e Os Diagonais imortalizam hinos do samba como "A Tonga da Mironga do Kabuletê" e "Fumacê".

HOJE NA ROOSEVELT

Os rapazes costumam vender na região central --geralmente perto da rua Augusta. Mas também já passaram pelo Museu da Imagem e do Som, na suntuosa avenida Europa, e por uma pizzaria em Perdizes (ambos na zona oeste).

Hoje, na praça Roosevelt (centro), a partir das 16h, o trio abre mais uma vez o porta-malas do Galaxie.

Brazales é o dono do carro, comprado em 1994 por R$ 2.000. "Valia menos, mas eu queria muito. São só mais três no Brasil", diz, remexendo a bagunça no banco de couro vermelho.

Original também é a promoção da loja itinerante: quem leva cinco bolachas para casa ganha um shot do uísque Jack Daniels.

Da bebida, aliás, vem o nome do negócio. Avisa Psycho: "Mas tem o seguinte: a 'promo' só vale se a pessoa virar o copinho".


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