Folha de S. Paulo


Agência de modelos com deficiência é pioneira no mercado de moda

A modelo está com um vestido decotado, luvas e sapatos de salto, tudo combinando. O que mais se destaca é o sorriso, espontâneo. Há também, na foto, uma cadeira de rodas. A imagem foi clicada pela fotógrafa Kica de Castro, dona de uma agência voltada para a moda de inclusão.

A profissional começou a clicar pessoas com deficiência em 2002, quando ficou responsável por imagens científicas em um hospital de São Paulo. Para melhorar o ambiente, passou a levar acessórios, a fim de deixar o local mais descontraído. Junto a uma psicóloga, iniciou a fototerapia, trabalho voltado para melhorar a estima dos modelos.

"Eu fazia fotos dentro do estúdio e falava para eles procurarem oportunidades fora", conta a fotógrafa. Mas o mercado de trabalho não abriu espaço. Pensando nisso, Kica criou a agência. "Decidi investir não só neles, mas em mim também."

Hoje com 80 modelos, a agência costuma levar profissionais para desfiles em todo o país. "Tem tanto os voltados para a moda inclusiva, com estilistas que fazem roupas adaptadas, quanto aqueles que valorizam a diversidade."

DEVOTEEISMO

A fotógrafa, que já teve parceria com uma empresa alemã, tem como atuais clientes internacionais uma agência italiana e uma portuguesa. Kica, no entanto, diz não se inspirar no mercado estrangeiro.

De acordo com a fotógrafa, as agências de fora do país estão voltadas para abastecer o mercado de devoteeismo --atração sexual por pessoas com deficiência. "Nunca ninguém foi enganado, nem eu nem as modelos. Mas chegou um ponto em que pessoas queriam marcar encontro com as meninas, e isso estava fora de cogitação."

"Eles não estão preocupados em colocar a modelo em desfile ou em um editorial de moda, não querem quebrar barreiras. As fotos são um pouco apelativas, explorando mais a questão da deficiência e não a própria beleza da pessoa."


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