Folha de S. Paulo


'Dá para viver com R$ 500 por mês em SP', diz baterista vendedor de alfajor vegano

Se você já foi a algum restaurante vegetariano no perímetro Augusta-Paulista-Vila Mariana, provavelmente o rosto de Lucas Mariano de Melo, 25, não lhe é estranho.

A inseparável barba e os óculos retangulares estampam as embalagens do alfajor vegano (tem biscoito maisena, mas nenhum produto de origem animal, como ovo e leite) que ele prepara em casa, nos sabores chocolate e amendoim, e vende a R$ 2.

Baterista da banda punk Deaf Kids, ele trabalhou num hostel no começo do ano. Hoje, sua única renda são os R$ 500, em média, que tira com os doces.

Mariano garante que o ganha-pão é suficiente para passar o mês inteiro em São Paulo. Mas melhor se precaver: "Não tenho problema nenhum de passar a receita do alfajor, desde que me prometam não vender no mesmo lugar que eu. Querendo ou não, é um mercado muito limitado".

Pétala Lopes/Folhapress
O vegano Mariano readequou seu modo de vida para conseguir sobreviver com R$ 500, na zona Oeste de São Paulo
O vegano Mariano readequou seu modo de vida para conseguir sobreviver com R$ 500

sãopaulo - Como gasta só R$ 500 por mês?
Mariano de Melo - Pago R$ 350 de aluguel, num casarão antigo com sete quartos no Butantã, que divido com sete pessoas. O resto é para comida e banda.

O que é um milagre em SP...
A família com dois filhos que pega ônibus para ir ao museu, de graça, mesmo assim gasta R$ 24. Então é muita grana. Me sinto como uma espécie de classe média para as pessoas que estão sendo mais exploradas do que eu.

Acha São Paulo viável?
A cidade é muito cara para viver, especialmente no centro. Tudo é muito caro, comer é muito caro. Não digo que é uma preocupação ética, mas o alfajor custa a mesma coisa desde que comecei a fazer.

Mas os custos da produção devem ter aumentado.
Sim. Quando preciso muito, vendo a R$ 2,50. Tenho noção de que não quero vender caro porque um alfajor vegano pode custar R$ 5, dependendo do lugar. Mas me interessa me ferrar um pouco mais para me envolver com quem quero estar envolvido. E sei que tenho rede de amigos para me apoiar se preciso. Não estou dizendo "vivam frugalmente como eu" [risos].

Podemos deixar SP mais barata?
Uma alternativa é seguir a lógica de solidariedade. Isso mexe com o brio que São Paulo tenta imprimir na gente, essa coisa de precisar ser dono de algo, da liberdade, do próprio nariz, do espaço, do carro, da casa própria. Comprar juntos, dividir gastos é alternativa. Se você vive no Capão, Marsilac, lugares onde transporte público até o centro não é fácil, o negócio é tentar fazer horta comunitária. Quanto menos grana você precisar, mais barata a cidade vai ficar.


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