Folha de S. Paulo


'Exposições só para colegas não dá', diz diretor do MAC-USP

Tadeu Chiarelli, 57, sobe todo dia ao terraço do novo MAC (Museu de Arte Contemporânea) da USP, instalado no início de 2012 no antigo prédio do Detran. "É uma experiência de prazer", diz o diretor das três unidades que a instituição mantém na cidade.

Menos prazerosas foram as críticas recebidas na abertura do espaço, apelidado de "museu do vazio" por conta de acervo e público escassos (o número cresce: de 2.218 visitantes em janeiro de 2012 a 14 mil em junho de 2013).

Para o especialista no que há de mais novo na arte, o problema é arcaico: uma "dimensão extremamente burocrática" que impede projetos de saírem do papel. Como o de um novo MAC, na praça dos Museus, na Cidade Universitária, toda projetada por Paulo Mendes da Rocha. As licitações começam neste semestre. Não há data para inauguração.

Chiarelli tinha 18 anos quando entrou na USP, calouro de Artes Visuais. Foi estagiário no museu e professor no campus. Em abril, encerra sua gestão de quatro anos na direção do MAC.

Um dia antes de sair de férias, para "ver arte na Itália", ele fala das críticas, da "turma da Oscar Freire" e do público que torce o nariz para as esquisitices da produção contemporânea.

sãopaulo - SP gosta de arte contemporânea?
Tadeu Chiarelli - O público mais adulto parte do pressuposto de que não vai entender, mas vejo com otimismo. Os museus precisam ter estratégias. Não dá mais para fazer exposições só para colegas curadores.

O CCBB teve filas gigantescas na exposição dos impressionistas.
Vejo um mito criado pela indústria cultural, que reforça os mesmos artistas, como uma grife. Do carro Picasso a lançamentos imobiliários, como edifícios chamados Monet ou Renoir. Martelam que estes são os importantes. [Mas] o Modigliani só continua relevante se tiver relação com a nossa época.

Por que a ocupação da nova sede do MAC está sendo tão lenta?
Existia uma expectativa da Secretaria da Cultura de que tudo fosse inaugurado de uma vez só, como um grande show. Isso se chocou com a dimensão extremamente burocrática da secretaria e da USP. E não dá pra pegar um monte de cacareco, colocar no carro e trazer pra cá.

Você já disse que algumas obras de arte viraram itens da Oscar Freire.
Não pode cair na esparrela de achar que a arte contemporânea só está nas galerias. A turma da Oscar Freire [galeristas da rua] tem boa relação com o MAC pois sabe até onde dá para ir. O museu pode ser um espaço para serenar os ânimos.

As manifestações das últimas semanas vão reverberar no seu campo?
Os grupos que vinham trabalhando de maneira subterrânea agora têm um momento propício de muita energia.

Você costuma ir ao terraço do MAC?
Pelo menos três vezes por dia. É uma experiência de prazer. Nosso terraço mantém uma dimensão humana, não é alto demais. Adoro ver o obelisco do Ibirapuera e, no fundo, o pico do Jaraguá.


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