Folha de S. Paulo


ONG de sucesso nos anos 2000, Meninos do Morumbi diminui por falta de recursos

A sede da ONG Meninos do Morumbi, que já foi visitada por Madonna e pelo então presidente dos EUA George Bush, está quieta neste julho.

É a primeira vez em anos que a maior parte das classes que lá treinam música, dança e inglês terá de ficar em casa durante as férias.

"Por questão de dinheiro, deixamos só as aulas da turma mais avançada", diz o fundador do grupo, Flavio Pimenta, 54. Sem dar valores, ele define a situação atual como um "período difícil, de muita mudança".

A trupe já não é mais menina: completa 16 anos em 2013. E, como todo jovem, precisa decidir o que quer fazer da vida.

ONG, NÃO: BANDA

"A ideia nunca foi ter uma ONG", diz Pimenta, "e sim uma banda que fizesse shows e se bancasse com eles".

Até porque a batucada nasceu na casa do professor de percussão, onde ele dava aulas para crianças abonadas como Dudu Braga, filho de Roberto Carlos.

Aos poucos, começou a aceitar garotos carentes, para ter aula de graça, e a roda foi crescendo. Assim nasceu a associação Meninos do Morumbi, que durante os anos 2000 viraria símbolo da cidade.

E queridinha de patrocinadores como o grupo Pão de Açúcar: em 2001, tiveram orçamento de R$ 7 milhões para atender a 3.000 crianças.

Em 2004, conseguiu comprar o casarão onde funciona até hoje, perto do estádio do Morumbi, com ajuda de uma fundação inglesa.

Mas os ventos mudaram. "Os apoiadores abriram suas próprias fundações, têm seus projetos sociais com suas marcas", afirma Pimenta. O dinheiro rareou. Hoje, são 700 alunos. Algumas atividades, como as oficinas de jiu-jítsu e de fotografia, foram suspensas de vez. Ainda assim, os custos de 12 funcionários mais a manutenção da sede ficam em torno de R$ 140 mil mensais.

Está acabando quase todo mês no vermelho desde maio de 2012, ano em que não conseguiu captar recursos por lei de incentivo. Ou o grupo fecha mais contratos de shows, a R$ 22 mil cada um, ou corre risco de ele próprio fechar.

"Penso em fazer um levantamento entre os alunos, ver quem pode pagar e passar a cobrar mensalidade. Coisa de R$ 350. Quem não puder, fica com bolsa [de estudos]", diz Flavio.

"Imagina na Copa" é uma frase boa para eles. A ONG tem contrato com a Coca-Cola para se apresentar a grupos de estrangeiros que vêm ao país em 2014. "Vamos ver se até lá o som continua rolando."

O líder passa a mão no cabelo, preso em rabo, e finaliza: "Ganhar um [prêmio] Grammy seria ótimo".


Endereço da página:

Links no texto: