Folha de S. Paulo


Líder de frente parlamentar, Marquito quer discutir transporte em SP

Marquito garante: não está de brincadeira. Tampouco quer o rótulo de "laranja podre", como tantos políticos lembrados nos protestos que tomaram as ruas. "Sou inocente."

Desde janeiro, Marco Antonio Ricciardelli --sim, o assistente de palco do "Programa do Ratinho"-- é um dos 55 vereadores da capital. E quis o destino que, a exatos cem dias da primeira manifestação contra o reajuste da tarifa, ele propusesse a criação de uma frente parlamentar na Câmara para defender a melhoria do transporte público. Marquito, 53, é o presidente da comissão.

Sentado no sofá de sua sala no gabinete de número 914 do Palácio Anchieta, o vereador, que se locomove pelas ruas num utilitário esportivo, anunciou as intenções do grupo.

Começa: "Já convidamos o secretário dos Transportes, que é o senhor Jilmar Tatto, para vir conversar conosco pessoalmente, porque pelo telefone não resolve nada".

Tem mais... "Por problema de agenda, ele ainda não conseguiu marcar a reunião por motivo do que está acontecendo". Enfim: "Tenho certeza de que em breve ele virá ouvir o meu pedido para dizer para a gente suas propostas. Entendeu?".

Marquito leu os três trechos acima para o repórter, com ajuda de uma "colinha". As duas páginas haviam sido entregues por seu assessor, a quem chama de Doutor Edson.

BRAÇO DIREITO

Trata-se de uma espécie de braço direito do vereador. Elogia, comenta, intervém e até responde a algumas perguntas pelo chefe --que foi padrinho do seu último casamento.

"Falou bem", solta doutor Edson, após o parlamentar dizer que quem manda na Câmara é o povo.

Questionado sobre o motivo de ter votado pela CPI do Transporte Coletivo instaurada na casa, Marquito fez a introdução:

"Por causa do..." E Doutor Edson tratou de continuar.

Ocasionalmente, há sinais de discordância entre eles. Marquito não queria falar muito sobre um projeto que inclui o nome do ex-governador Mário Covas no viaduto do Chá.

"Na minha opinião, o viaduto já tem um nome. Vão colocar a mais?"

"É só para acrescentar...", minimiza o assistente.

Até agora, teve duas ideias aprovadas: a criação da frente parlamentar e a entrega da medalha Anchieta a um delegado da Polícia Civil ("um grande amigo nosso", explica Doutor Edson).

"Não é fácil para passar, aprovar projeto", diz o vereador, que se declara um aprendiz. "Então, você fala: 'Marquito, você entende?'. Não, não entendo. Estou aprendendo. Mas não sou nenhum bobo da corte."

RATINHO E RAUL GIL

Em 2008, ele tentou ser vereador pelo PMDB em São Lourenço da Serra, a 54 km da capital. Não foi eleito. Em 2012, candidatou-se em São Paulo pelo PTB. Teve 22.198 votos e virou suplente de Celso Jatene --que se licenciou para ser secretário de Esportes.

Filho de um ex-jogador do Palmeiras (Liminha, dos anos 1950) e de uma dona de casa, criado no Tremembé e escolado até o sexto ano do fundamental, Marquito virou político contrariando as expectativas. "Ninguém acreditava. Nem o Ratinho."

Agora, o vereador divide o seu dia a dia com participações nos programas do Ratinho e do Raul Gil, de quem é sobrinho. Ainda faz shows. "É barato, R$ 5.000, R$ 6.000. Em festas, aniversários. Até em velório estou indo."

Ele defende que sua avaliação seja feita de 2015 em diante. E vê diferença entre ele e o deputado federal Tiririca: "Minha assessoria é muito boa". Por fim, faz um pedido: "Só quero que coloque aí que dá para mostrar que estou trabalhando".


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