Folha de S. Paulo


Funcionários do prédio mais alto de SP sofrem com pane em elevadores

Nem Edifício Itália (151 metros), nem Banespão (161 metros): o prédio mais alto de São Paulo --e do Brasil-- é o Mirante do Vale, no Anhangabaú (centro).

Com 51 andares distribuídos em 170 metros de altura, a construção sofre com a fama dos vizinhos. Por terem sido construídos em áreas mais altas da cidade, eles parecem também mais longos. Mas as mais de 10 mil pessoas que circulam todos os dias pelo Mirante do Vale vêm sentindo na pele o gigantismo.

Desde terça (23), quem visita ou trabalha em escritórios entre o 23º e o 51º pavimento precisa subir a pé. A maratona diária é fruto de um curto-circuito que atingiu os cabos dos elevadores.

Nos exatos 240 degraus que separam o 23º o 39º andar, a reportagem da sãopaulo encontrou mais de 50 pessoas subindo, descendo --e suando-- nas escadas.

Uma delas, uma mulher de 25 anos que não quis se identificar, passou mal e precisou ser carregada por bombeiros. Na véspera, outras três pessoas tiveram o mesmo problema e receberam ajuda.

O empresário Dorival Sereno, 59, trabalha no edifício desde 1980 e diz sofrer com a paralisação. "A gente evita sair e receber visitas. Isso prejudica os negócios, claro, ficamos sempre numa saia justa", afirma, enquanto olha pela janela do 39º andar o vaivém do viaduto Santa Ifigênia.

"Parece ser grave, porque as informações são desencontradas", reclama o designer Wilson Alixandrino, 37, que trabalha no 19º e enfrenta longas filas no térreo.

Seu colega Celso Sampaio, 51, arquiteto, diz que o problema é recorrente. "Há três anos, num sábado, eu fiquei preso 40 minutos no elevador. Semana passada, a moça que trabalha aqui em frente também ficou presa. A administração diz que vai reformar, mas o que faz é trocar portas e revestimento, e não a caixa de máquinas."

OUTRO LADO

"O que você quer que eu faça, que carregue eles no colo?", pergunta o advogado Márcio Barros, que administra o condomínio há 28 anos.

Sobre as reclamações, ele diz que "graças a Deus a semana foi de jogo do Brasil e manifestações, então o prédio está vazio".

Convidado pela reportagem para visitar as escadas e conversar com o povo que sobe e desce, ele se esquiva. "Eu não quero ouvir ninguém, eu tô com a cabeça cansada, 'meu'."

Barros diz não saber quais são os andares afetados pelo problema, mas mostra laudos da seguradora que afirmam que a situação elétrica do edifício é "aceitável". Aproveita e conta que o edifício possui coleta seletiva e um poço artesiano, que garante "água potável para todo mundo".

Questionado sobre as obras de substituição das portas dos elevadores, e não das caixas de máquinas, ele afirma: "Nós temos as melhores máquinas. Elas são dos anos 1960, mas são excelentes". Em relação às pessoas que ficaram presas entre os andares, ele é enfático: "É mentira".

O advogado então convida a reportagem para conversar com o engenheiro responsável pela obra. "A origem do curto-circuito foi fadiga do material", explica Rubilei dos Santos. Perguntado se é engenheiro, ele responde: "Sou técnico. Técnico em eletrotécnica."

A normalização dos serviços, segundo a administração, será concluída até o fim deste sábado (29).


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