Folha de S. Paulo


V de Vândalos: Saqueador de Roma, povo virou sinônimo de destruição

Vândalos tomaram as ruas da cidade. Por dias, aterrorizaram a população, encurralaram o poder, pegaram o que queriam e fugiram. Era o saque a Roma, no ano de 455.

À época, os vândalos não se resumiam a poucos que, em meio a protestos, pichavam prédios públicos, arrancavam bandeiras ou chutavam a porta da sede do governo.

Tratava-se de um povo que, dizem historiadores, levou injustamente a má fama. Não se sabe ao certo de onde surgiram.

"Tudo indica que eram provenientes das atuais regiões da Escandinávia, Ucrânia e Rússia", conta a historiadora Margarida Maria de Carvalho, professora da Unesp.

O termo "vândalo", acrescenta ela, provavelmente partiu da palavra wandeln, cujo significado é nômade.

Em 429, cerca de 80 mil vândalos se basearam no norte da África e logo tomaram a cidade de Cartago. Sob o comando de Genserico, aliaram-se ao Império Romano e o reino cresceu. Ocuparam regiões da Tunísia e Argélia, além de Sardenha e Sicília, na Itália, e Córsega, na França.

Até que entraram em guerra com o império e saquearam Roma. O ataque estendeu-se por duas semanas. "Apoderaram-se dos bens mais valiosos", diz Pedro Paulo Funari, coordenador do Centro de Estudos Avançados da Unicamp.

"Foi por isso que, já na modernidade, foi cunhado o termo 'vandalismo' para se referir ao comportamento destrutivo."

Passado o saque, voltaram ao território deles e deixam de aparecer nos eventos históricos. A "Enciclopédia Britânica" cita 534 como o ano derradeiro do reino. Ao final do século 6, os vândalos não eram mais mencionados.

"Eles mantiveram a má fama pela Idade Média", diz Funari. "Mas o termo 'vandalismo', com o sentido de destruidores [não de saqueadores por valores], foi usado na Revolução Francesa, para se referir aos que destruíam obras de arte por motivos ideológicos."

Daí em diante, no século 19, o termo invadiu outros idiomas, acrescenta Funari. Até chegar ao centro de São Paulo.

Reprodução
Pintura de 1865, do alemão Heinrich Leutemann, retrata o saque de Roma pelo rei Genserico no século 5
Pintura de 1865, do alemão Heinrich Leutemann, retrata o saque de Roma pelo rei Genserico no século 5

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