Folha de S. Paulo


Professor de cineastas promete 'fórmula' para lucrar com filme e diz: 'parem com os curtas'

A proposta parece mágica: fazer com que um filme de orçamento baixo --digamos, R$ 10 mil reais-- pareça uma grande produção cinematográfica. E lucrar como tal, mesmo sendo o primeiro filme de um diretor. Mas para Dov Simens, o mistério não existe. É questão de matemática.

Há quase 30 anos ministrando aulas do tipo, que já foram assistidas por Quentin Tarantino, Spike Lee e Will Smith, ele desembarcou em São Paulo na última segunda-feira (17), em sua estreia em solo brasileiro, para as duas aulas que dará no sábado (22) e domingo (23). O custo pelos dois dias é de R$ 1.200.

"O Brasil tem bons atores, bons diretores, boa estrutura. Mas não tem tantos bons roteiristas e nem a fórmula. É isso que eu vou ensinar", promete Dov. Ele diz que quer tirar a aura de mistério que o cinema costuma ter. "Sejamos francos, cinema é negócio. Mas não ensino talento. Isso ninguém pode".

Fazendo perguntas retóricas com frequência e se mostrando um sujeito bem-humorado, Dov é adepto das piadas. Até que uma de suas teorias seja contestada. Para um filme ser sucesso de bilheteria, um ator de renome não é importante? "Não", responde, alterando o tom da voz.

"Você não vai começar uma carreira com celebridades no elenco. Mas quantos atores anônimos não topariam participar de um filme?", indaga.

Outro passo, diz ele, é fazer filmes de noventa minutos. Nada de longas produções. A causa é simples: filmes de uma hora e meia encaixam melhor na grade dos cinemas, diz ele. Os de duas horas diminuiriam o número de exibições totais.

Um grande erro de aspirantes a cineastas que contam com pouco dinheiro para as produções é investir em curtas, diz Dov. "Parem de fazer isso! Há uma obsessão, mas me diga um curta que deu lucro? Eles são imbecis", opina.

Para um filme independente, é essencial que poucas locações sejam usadas. Ideias de roteiro não faltam ao professor, que as dispara entre um comentário e outro. "Oito pessoas em um elevador, acaba a luz, elas ficam presas. Aí descobrem que não há oxigênio suficiente e logo morrerão" ou "duas mulheres que dividem um apartamento, se odeiam e disputam a mesma vaga de emprego. Enquanto esperam a ligação sobre a vaga, começam a brigar" são alguns exemplos citados.

Entre as diversas "sugestões" de roteiro que Dov dá, nenhuma se enquadra na categoria comédia. "É porque é algo difícil de fazer", responde ele. "Não traduz de nação em nação, e atualmente tudo é global. O terror dura 20 anos. Em 20 anos não vão lembrar de 'Juno', de 'Pequena Miss Sunshine'. Mas vão se lembrar de 'Jogos Mortais'", afirma, dizendo que o Brasil deveria investir mais no gênero.

CINEMA NO BRASIL

Dov não parece conhecer muito da produção nacional, e admite ter tido contato apenas com filmes brasileiros que se tornaram populares, como "Cidade de Deus". Mas comenta a questão do incentivo do governo para produções nacionais, algo que não ocorre no país em que vive, Estados Unidos.

"Gostaríamos que o governo nos desse dinheiro, mas eles dizem, 'vocês não precisam disso'", diz ele, reforçando que o intuito das aulas é fazer com que os títulos gerem lucros depois de prontos.

Mesmo deixando as particularidades nacionais de lado, Dov admite que é impossível competir em certos aspectos com Hollywood, que conta com produções como "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", que teve um orçamento de US$ 250 milhões. "Mas dá para fazer ótimas histórias".

Reprodução
Dov Simens ministra aulas de cinema e arrecadação de recursos em São Paulo neste final de semana
Dov Simens ministra aulas de cinema e como lucrar com filmes em São Paulo neste fim de semana

Endereço da página:

Links no texto: