A manifestação de quinta-feira (13), no Centro de São Paulo, foi o segundo ato da semana dispersado pela Polícia Militar do Estado com a utilização de armamento não letal com prazo de validade expirado.
Segundo a própria PM, isso não afeta a saúde das pessoas. O risco "seria apenas para o agente de segurança, pois o tempo para o início da queima poderá ser abreviado".
A cápsula de gás lacrimogêneo obtida pela sãopaulo no protesto de terça (11) --lote QI-H fabricado em agosto de 2007-- tem validade sugerida pelo fabricante até agosto de 2010.
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Bruno Soraggi/Folhapress | ||
Cápsula de gás lacrimogêneo utilizada pela PM encontrada na av. Paulista (centro) durante manifestação no dia 11/6 |
A informação está impressa no corpo do projétil, produzido pela brasileira Condor Tecnologias Não-Letais. Nele, ainda segue o aviso "atenção: oferece perigo se utilizado após o prazo de validade". Durante o protesto desta quinta, imagens de casos iguais circularam nas redes sociais.
A PM disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que a "suposta imagem mostrada por alguns veículos de comunicação aparenta ser, em uma análise preliminar, de uma munição fumígena (produz fumaça apenas)".
"Se, de fato, constatado o vencimento, o único risco inerente seria o da munição não funcionar. Não existe nenhum perigo à saúde das pessoas. O prazo de validade não altera o princípio ativo da munição. O "perigo" seria apenas para o agente de segurança, pois o tempo para o início da queima poderá ser abreviado", continua. "Cabe salientar que a Polícia Militar obedece as normas técnicas para o uso de munição."
FABRICANTE
Procurada pela sãopaulo, a Condor também afirmou que, em princípio, os produtos em questão não oferecem risco à saúde da população, "desde que utilizados de forma adequada". "Nossa recomendação formal é que, ao se aproximar da data de vencimento, o material seja usado para treinamento de pessoal", complementou.
De acordo com a companhia, em 2008 a empresa decidiu estender o prazo de validade de seus produtos para cinco anos, após testes de "segurança, envelhecimento, estabilidade compatibilidade e eficácia".
Ainda segundo a empresa, o alerta estampado no projétil serve para alertar o usuário sobre uma "eventual redução da eficácia da operação policial, podendo comprometer a incapacitação temporária das pessoas, objetivo deste tipo de operação".
A nota, assinada pelo diretor de marketing da fábrica, encerra dizendo que não há conhecimento por parte da Condor das razões que teriam levado a Polícia Militar de São Paulo a utilizar os produtos após o vencimento, "mas acreditamos que uma eventual exceção seria aceitável, face à gravidade dos distúrbios que precisavam ser enfrentados, o tempo exíguo para a aquisição de novos materiais e a grande quantidade de produtos que seriam necessários, especialmente considerando que a alternativa de empregar munição letal para lidar com os distúrbios que vem ocorrendo em São Paulo seria totalmente descabida".
Os efeitos desse gás são amenizados com a inalação de vinagre, o que fez com que muitos manifestantes levassem recipientes contendo o líquido para o ato, que teve concentração no Theatro Municipal. Algumas pessoas chegaram a ser detidas por trazerem o produto consigo, como o repórter da "Carta Capital" Piero Locatelli.