Folha de S. Paulo


'Vivemos um momento de vigor na produção brasileira', diz artista Sofia Borges

Em cartaz com a mostra individual "Impossível", na galeria Millan, e prestes a inaugurar sua participação na coletiva do prêmio português "BESPhoto", no Instituto Tomie Ohtake, Sofia Borges, 29 anos, segue em um ritmo intenso e seguro.

Artista mais jovem da última Bienal de São Paulo, no ano passado, Sofia tem chamado a atenção de curadores e críticos com sua investigação sobre a fotografia e mantém a postura de quem se sente confiante com a base construída desde os tempos da graduação em Artes Visuais, na ECA-USP.

Nas últimas séries, apresenta fotos feitas no Museu de Paleontologia, de Paris. Sem manipulações digitais, suas imagens causam um estranhamento entre os limites do que define uma obra fotográfica. Seu interesse está nos lugares de fronteira.

No segundo semestre, participa de uma residência em Paris e expõe nos Estados Unidos e na Noruega.

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Na galeria Millan, durante a montagem de "Impossível", Sofia Borges conversou com a sãopaulo:

sãopaulo - O que norteou a mostra individual "Impossível"?
Sofia Borges - A exposição reúne apenas obras inéditas feitas há pouco mais de um mês no Museu de Paleontologia e Anatomia Comparada, de Paris. São fotografias de superfícies, como de painéis explicativos e de paredes rabiscadas. A natureza das imagens expostas é ambígua. Elas podem facilmente ser confundidas com pintura e localizam-se entre a abstração e a figuração.

O que tanto te fascinou no museu?
Tenho ido a museus, zoológicos e centros de pesquisa há dois anos. São lugares onde os objetos são apresentados dentro de contextos específicos, que representam um grupo e também são uma coisa em si. Investigo como o sentido é deslocado após o objeto ser fotografado.

Qual é a importância de montar uma exposição individual neste momento?
Penso que essa exposição, junto com "Os Nomes" [que integra o prêmio "BESPhoto"], são as principais mostras deste ano, as mais significativas em relação à minha pesquisa. Em 2013 vou participar de dez mostras, sendo cinco individuais, mas dei muita atenção a esta individual porque ela vai acontecer em São Paulo, a primeira depois da Bienal. Não há uma continuidade nos trabalhos, mas sim da pesquisa. É um pouco estranho falar isso, mas é uma exposição radical, sem eixo, por isso chama "Impossível". Nunca havia me aprofundado tanto antes.

E como foi a experiência de ter sido finalista do prêmio BESPhoto?
Foi incrível. Os quatro participantes são muito diferentes entre si, e o prêmio tem uma abordagem rica sobre a produção contemporânea. Procurei me afastar da ideia de tema e de ensaio para criar um lugar de discussão sobre o que é e o que não é uma fotografia. As imagens apresentadas possuem um estranhamento e não são o que normalmente entendemos como obras fotográficas.

Como foi o processo de criação das obras?
Simplesmente fui a um museu e tirei uma foto, sem nem usar um tripé. Não utilizo Photoshop, distorções ou apagamentos. Apesar disso, as imagens são estranhas. Atinjo o resultado que quero com a finalização e a impressão.

Você gosta de acompanhar a etapa técnica?
Gosto de entender todo o processo. Acho que as coisas se misturam. O domínio técnico me ajuda a entender conceitualmente a fotografia.

Você se considera precoce?
Não sei dizer se as coisas aconteceram rapidamente ou se apenas têm a ver com o meu ritmo. Desde que entrei na faculdade mantive uma produção intensa e me inscrevia nos salões. Eu me movia entre Ibiúna, Ribeirão Preto e São Paulo. Agora viajo a Nova York, Lisboa e Paris, mas o ritmo é o mesmo. Em 2011 eu fiz três individuais muito distintas entre si. Elas abriram um campo mais elástico de possibilidades. Hoje eu sinto que posso fazer o que quiser, sem seguir uma linha conceitual ou uma estética tal. Construí uma base mais sólida. Depois, o ano da Bienal foi de muito trabalho. Estou exausta e feliz.

Como você vê o cenário da arte contemporânea brasileira?
Vivemos um momento de vigor na produção, mas isso não é de 2013. Atualmente faz mais sentido morar em São Paulo do que em Paris, por exemplo. Há uma troca intensa entre os ateliês dos amigos artistas. Claro que na Europa também há muitas exposições, mas geralmente são de obras consagradas. Aqui vivemos um frescor.

O que te intriga atualmente? Quais são seus projetos futuros?
Todas as minhas exposições têm sido sobre fazer uma pergunta. Gosto da ideia de uma equação matemática complexa que dê zero ou que não tenha uma solução. Toda exposição é uma questão que não necessariamente tem uma resposta. Se eu tiver que escolher apenas uma pergunta seria: "o que é uma fotografia?". A verticalização do meu trabalho é fazer essa indagação de diversas formas.

Informe-se sobre a mostra "Impossível"

Informe-se sobre a mostra "BESPhoto"


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