Folha de S. Paulo


'Urbanismo feito à mão' é tema de livro e mostra no edifício Copan

Apresentando ações inovadoras em cinco cidades de países emergentes (Mumbai, São Paulo, Istambul, Cidade do México e Cidade do Cabo), o livro "Handmade Urbanism" inspira exposição no Pivô, espaço experimental de arte no edifício Copan.

O "urbanismo feito à mão" é representado na exposição por meio dos desenhos originais de Paulo Ayres, que ilustram o livro, e de um tabuleiro em tamanho real com propostas para mudanças em São Paulo.

Aplicando as ideias propostas no título, o vernissage, realizado no último dia 6, contou com carrinhos de pipoca, de milho cozido e de frutas levados por comerciantes ambulantes do centro da cidade.

O projeto, idealizado pelo arquiteto Marcos Rosa, teve início com o prêmio Deutsche Bank Urban Age Award, que tem inscrições abertas para a submissão de projetos do Rio de Janeiro até 18/7.

A partir das parcerias vencedoras nas cinco edições anteriores do prêmio, o livro e a exposição propõem traçar linhas de conexão entre o potencial transformador das cidades.

Informe-se sobre o evento

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ABAIXO, CONFIRA ENTREVISTA COM O ARQUITETO MARCOS ROSA, UM DOS IDEALIZADORES DO "HANDMADE URBANISM":

sãopaulo - Qual é a história do prêmio Deutsche Bank Urban Age Award?
Marcos Rosa - É uma ideia de Wolfgang Novak, que foi colocada em prática pela primeira vez em Mumbai, em 2008. Depois vim organizar a edição em São Paulo. Procuramos projetos implementados e que já tivessem parcerias firmadas. O prêmio, que dava 100 mil dólares para a continuação do projeto, atraiu muitas pessoas. Em São Paulo tivemos 140 inscrições. Surgiu a vontade de dividir essa informação de alguma forma e pensar em um formato de publicação.

Qual é a especificidade das ações em São Paulo?
Buscamos projetos organizados para produzir espaços coletivos. Queria literalmente ver onde as pessoas estavam sentando juntas no espaço público. Um texto base foi o doutorado de Fernando de Mello Franco, atual secretário municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo. Ele explica que o desenvolvimento da cidade criou a infra-estrutura necessária para a cidade industrial se desenvolver, mas não se preocupou com a escala local. Surgiram uma série de urgências e faltas que projetos como os que trabalhamos tentam resolver com os recursos humanos locais.

Quais foram os projetos vencedores?
O Edifício União, na Luz, que foi encontrado como um esqueleto e depois ocupado pouco a pouco por habitantes que terminaram a construção. O Instituto Acaia, na Vila Leopoldina, que criou uma praça no coração da favela e promoveu opções de educação, arte e lazer. E o Biourban, que está exposto no Pivô. Instalado no escadão de acesso e nos becos da favela Mauro, na Vila Mariana, o projeto apresentou relações ricas de vizinhança a partir de práticas cotidianas simples.

As mudanças estão mais rápidas?
Estas questões foram debatidas em um contexto teórico e acadêmico na década de 1970. Agora temos tanta coisa para recapitular, tantas faltas, que sentimos a necessidade de aumentar a velocidade para fazer as coisas acontecerem. A circulação de informação é muito maior. Pensamos "olha o que aquele cara fez, vou fazer também". Vivemos um momento de fazer.

São Paulo está vivendo o momento de fazer?
Não só São Paulo. A ideia das pessoas tomarem responsabilidade pelas suas cidades está na moda. A ideia de urbanismo tático fala de operações para transformar o aqui e o agora. Desde piqueniques urbanos até o estabelecimento de dias em que os carros não são estacionados e abrem o espaço da vaga para uma utilização pública. Colaboração e participação se tornaram palavras da ordem do dia.

Você é otimista?
Sim, mesmo fazendo uma leitura dos problemas. Há muito mais projetos do que há cinco anos. Fico em Berlim até o fim do ano mas aos poucos volto a São Paulo. É a hora de fazer, as coisas estão acontecendo aqui, há espaço e necessidade. Os estudantes de arquitetura precisam ter acesso e oportunidade para pensar o desenho da cidade de outra forma. Ficamos muito tempo em uma cultura de consumismo. Agora as pessoas voltaram a se envolver. Mesmo que existam planejamentos para 2030, as pessoas vão viver até lá. O que é possível fazer agora? Me interessa pesquisar de que forma podemos viver melhor nesse meio tempo.


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