Folha de S. Paulo


Civilizados na medida do possível

Nada em nós é simples, tudo é ambivalente, e também nossa gentileza. Às vezes, somos gentis com segundas intenções, às vezes simplesmente porque acordamos bem naquele dia, outras porque temos vergonha de não sê-lo (como no caso de ceder lugar pra velhinhas), noutras porque a pessoa é uma mulher gostosa, enfim, as causas são infinitas, nem todas puras, nem todas interesseiras.

GENTILEZAS
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Quem quiser pureza que troque de espécie e vá morar numa cidade de golfinhos. Numa cidade como São Paulo, onde quase o tempo todo temos pressa e medo de perder compromissos --e dinheiro e, quem sabe, a vida--, as coisas poderiam estar piores em termos de gentileza. Se observarmos, mesmo no trânsito, diante do estresse da Rebouças, da 23 de Maio ou das marginais, acho que xingamos pouco uns aos outros.

Os paulistanos são civilizados na medida do possível. Que pessoas que moram em cidades pequenas não nos venham acusar de mal-educados, queria vê-los na nossa pele. Dentro da objetividade que nos é cobrada e que cobramos dos outros (garçons, frentistas, balconistas, vendedores em lojas) até que nos viramos bem. Claro, o que deixa um paulistano uma fera é a incompetência nos serviços.

Mas talvez por isso mesmo não haja lugar no Brasil onde o serviço se compare ao daqui. E a hipocrisia? Essa, claro, existe. Afinal, sem ela não há convívio social possível. Mas a hipocrisia que não tolero é a de campanhas bregas como "mais amor por favor". Amor não se pede. Ou se tem, ou se chora.


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