Folha de S. Paulo


Como vivem e quanto custam os bichos de cinco paulistanos

Gato, cachorro, pássaro, cobra, coelho. Para o paulistano, sempre haverá um bicho para chamar de seu, cuidar e cujos gastos estejam de acordo com o orçamento da família.

PETS
Tudo o que é importante saber para cuidar bem do seu animalzinho de estimação

Pesquisa do Datafolha revela quanto os paulistanos gastam com seus pets por mês: 28% afirmam desembolsar até R$ 50 por mês; 31%, mais de R$ 50 e até R$ 100; um quarto deles, mais de R$ 100 e até R$ 200; um décimo, mais de R$ 200 e até R$ 400; e 3%, mais de R$ 400, mesma porcentagem dos que dizem não gastar nada. A média do custo mensal é R$ 135,50.

A preocupação com o bem-estar dos bichos, ainda segundo o estudo, cresceu. Dos que têm pelo menos um cão em casa, 65% costumam levá-lo ao pet shop --aumento de 14 pontos percentuais em relação a 2010-- e 95% o alimentam com ração.

O crescimento da população de animais de estimação no Brasil, que, segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), gira em torno de 5% ao ano, e o aumento da renda familiar são apontados como os principais fatores para esse movimento.

"Famílias que não podiam ter um animal devido ao custo agora têm condições. Assim, a indústria passou a oferecer mais serviços e produtos", explica o presidente-executivo da associação, José Edson Galvão de França.

Desde 2008, diz ele, gastos com saúde e beleza passaram a ser tão importantes quanto a alimentação no orçamento doméstico. "É como ter um filho. E, como tal, exige cuidados."

A sãopaulo ouviu donos de cães, gatos, aves, répteis e pequenos mamíferos da cidade para contar como vivem e quais são os gastos com eles.

GATINHA TOP (MAIS DE R$ 400)

Nikole tinha dois anos quando chamou a atenção da imprensa, em 2002. Hoje, sua dona, a empresária Cecy Passos, 43, já perdeu as contas de quantas revistas a gata, 13, já estampou.

Laboratórios como Pfizer e Vansil, patrocinador de Nikole (www.nikole.com.br ), também já usaram a imagem dela. Sozinha, custa cerca de R$ 900 mensais à "mãe", dona de outros quatro gatos. "Não gostava de felinos. Ganhei Nikole quando estava em depressão e descobri um mundo novo."

Cecy dá cursos para empresários e veterinários sobre como gerenciar um bicho de estimação -a especialidade é gatos. Por dia de aula, ganha R$ 1.500.

Amon, 7, Tatisumi Shidohara, 12, Monet, 4, e Shineamon, 2, custam outros R$ 9.000 mensais em veterinário particular, ração "premium" e até babá quando a mãe viaja.

Mas a estrela da família só anda em carros climatizados e não entra por nada em porões de avião. "Viajamos apenas por uma única empresa aérea, que nos deixa ir juntas na cabine."

Os vestidos sob medida de seda e as tiaras (uma é banhada a ouro) são a marca registrada de Nikole, assim como o "esmalte" rosa. "Na verdade, é um protetor para não arranhar as crianças, que adoram tirar foto com ela."

CUPIDO CANINO (ATÉ R$ 400)

O amor pelos animais pode ter contribuído para os dois divórcios que o publicitário Luiz Vareta, 41, enfrentou, mas, segundo ele, "rendeu um número de namoros que é melhor nem publicar".

Se as ex-mulheres tinham ressalvas quanto ao fato de Lennon, 4, um boiadeiro bernês, e, Bono, 8, um dogue de Bordéus, dormirem dentro de casa, as "ficantes" derretem-se com a beleza dos animais. "Na rua, só dá eles", diz.

Luiz construiu uma casa em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, especialmente para criar seus bichos de estimação e cupidos.

"Quando minha mãe morreu, em 2010, as gatinhas dela vieram morar com a gente também. Gosto de casa assim, com muitos bichos. E aqui eles têm espaço para brincar à vontade", explica o publicitário, que também é dono de um terceiro gato, Romeu (que, no dia da foto para a sãopaulo, não apareceu).

O clima de diversão vai da piscina --na qual Lennon, o mais ouriçado dos animais, joga-se sem medo-- à grama. Os felinos não se acanham com a presença dos irmãos maiores, para a felicidade do dono.

Além da energia para aguentar as peripécias da grande família que formou, Luiz tem gastos --que não ultrapassam os R$ 400 mensais-- com ração "premium", acompanhamento médico frequente para Bono, o mais velhinho de todos, e um brinquedo aqui e acolá. "O cuidado é muito importante, mas o fundamental é carinho", resume.

FOFICE SELVAGEM (ATÉ R$ 200)

Foi amor à primeira espetada. O músico e estudante de veterinária Kamal Achoa Filho, 32, já nem conta quantos furos levou de Ted, 8 meses, desde que o levou para seu apartamento, em Sacomã, na zona sul.

É que o pequeno "hedgehog", ou ouriço pigmeu africano --nova mania pet dos descolados americanos e inspiração para o personagem Sonic, do videogame homônimo-- não é lá muito fã de chamegos. De hábitos noturnos e presa de raposas na natureza, vira uma bola de espinhos toda vez que se sente ameaçado.

"Ele está se acostumando ao cheiro da minha pele. Procuro me adaptar à sua rotina, fator importante quando se cria um animal silvestre. Às vezes, não durmo direito só para lhe dar atenção", conta Kamal, também dono das calopsitas Fred, 4, e Nini, 1.

Entre assobios do tema de "A Família Addams", entoados por Nini, e as espetadas de um Ted irritado com a presença dos pássaros, a foto para a sãopaulo foi feita a duras penas.

"Nunca juntei os três. Não é como um cachorro, que se adapta a tudo, entende? As gaiolas são do tamanho certo para cada um deles, e a alimentação é balanceada, para que vivam bastante tempo", afirma Kamal, cujos gastos não passam de R$ 200 mensais.

As calopsitas, ele explica, devem apenas comer ração, e não sementes de girassol, como alguns criadores costumam fazer. "E Ted fica no quarto, onde controlo a temperatura de 23° C
recomendada para a espécie."

CARÊNCIA ZERO (ATÉ R$ 100)

Quando Giovana, 14, filha da advogada Daniela Toscano, 32, pediu um animal de estimação, a maior preocupação da mãe era o tempo que teria que dedicar ao bichinho e os cuidados que deveria tomar.

Whisky, 2, que custou R$ 80 e consome pouco mais de R$ 50 por mês às donas, só toma banho e tem o pelo tosado a cada dois meses. "Além disso, não é tão carente como um cachorro", diz Daniela, moradora da Vila Mascote, na zona sul.

"É perfeito para quem mora em apartamento, pois é fofo e não dá trabalho", resume. A ração, especí­fica para ele, custa apenas R$ 15, e as verduras escuras, essencial na dieta do coelho, não mais que R$ 20 por mês.

O maior gasto é com o granulado usado na gaiola para absorver a urina de Whisky, que custa cerca de R$ 30, dependendo da marca comprada.

A reprodução do animal, que costuma ter vários filhotes ao longo da vida, também não preocupa Daniela.

"Ele não sai na rua. Whisky nunca teve contato sexual e não abrimos brecha para isso. Quando ele viaja conosco, fica na gaiola sem problemas", diz a advogada.

AMOR ENROLADO (ATÉ R$ 50)

A bióloga Mariana Madeira, 29, já teve caranguejo, siri, lagartixa e salamandra de estimação quando pequena. Enquanto as outras crianças pediam uma bicicleta de Natal, ela insistia no sonho de ter uma cobra.

"Adorava a ideia, mas meus pais não queriam de jeito algum. Só pude ter uma quando fui morar sozinha", relembra. Zion, uma jiboia de sete anos, três metros e 18 quilos, chegou assim que ela conseguiu um teto próprio, e continua na vida dela, mesmo que a dona tenha voltado a morar com os pais, em Barueri, na Grande São Paulo, há dois anos.

"Hoje eles aceitam, mas ninguém mexe", explica. "E nem precisaria, porque os donos de cobras podem até dizer que elas os amam, mas são tão paradas que não dá pra saber. Definitivamente, não espere retorno de carinho da parte delas."

A "corn snake" (ou cobra do milho) Bela, 2, veio para ser um presente para sobrinha, que, segundo a bióloga, "ficou com medo de tocá-la e acabei cuidando também".

Os bichos, que não são venenosos e têm manutenção barata, comem uma vez por semana ou a cada 15 dias, a depender da digestão do animal consumido anteriormente. Zion devora um coelho ou três pintinhos por refeição, e Bela, um pequeno camundongo. Todos vivos, vale ressaltar.

"Eles também precisam de uma pedra quente para recostar e uma lâmpada para aquecer o cativeiro", conta. Picadas? "Só levei uma vez, do Zion, quando tentei colocar um curativo numa ferida dele. Faz parte, né?"


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