Folha de S. Paulo


Fãs de vestimentas de época se reúnem para piqueniques no Ibirapuera

Os cavalheiros se cumprimentam com um aceno de cartola. As damas fazem uma reverência com a saia longa. Eles beijam as mãos delas.

Não, o grupo não está na Inglaterra do século 19, mas sob o sol do meio-dia no parque Ibirapuera. O evento, chamado Pic Nic Vitoriano, é um resgate do costume que é marca do período em que o Reino Unido foi comandado pela rainha Vitória (1837-1901).

Ironicamente, o que permite que os fãs de vestimentas e trejeitos antigos se reúnam é justamente uma tecnologia moderna: a internet.

Amante de história, o professor Rommel Werneck, 25, criou o grupo em redes sociais em 2010, após conhecer um evento similar em Curitiba. Ele teve ajuda de "revivalistas", como o geógrafo Guilherme Mello, 29, para organizar o primeiro evento, em 2011.

Eles explicam o termo. "É o chamado 'revivalismo utópico': a ideia é resgatar tradições de tempos passados, mas só as que consideramos positivas", conta Guilherme. Assim, a paixão não se restringe a roupas. "Tentamos aplicar no dia a dia", diz Rommel.

Isso se confirma durante uma conversa com a reportagem no Café Girondino, na região central. Usando terno e um chapéu estilo fedora, da década de 1930, Guilherme olha as horas em um relógio de bolso e, sem querer, derruba um vaso com água. Antes que o garçom traga um guardanapo, ele saca o seu lenço de tecido do bolso e limpa a mesa. "Sempre ando com ele."

Rommel explica que, apesar do nome do grupo, diversas épocas e estilos são permitidos, não só o vitoriano. Mas comida industrializada, só se vier "disfarçada" dentro de louça antiga.

Além de comes e bebes, os encontros (que não têm regularidade) têm sarau, esgrima e música, que vai da clássica ao jazz. Celulares são evitados. "Até pode atender, mas pedimos para não deixarem à vista", diz Guilherme.

Os piqueniques são os maiores eventos do grupo. No primeiro, em 2011, foram 50 pessoas. No ano passado, mais de cem compareceram. Há também chás da tarde e passeios por locais históricos. "Tem gente que pede para tirar foto e pergunta: Onde é a peça?", conta Rommel.

Alguns dos participantes montam os próprios "looks", costurando e garimpando peças em brechós. Outros até importam roupas de Londres.

"Uma colega encomendou uma réplica de um vestido da Ana Bolena [segunda mulher de Henrique 8º, rei da Inglaterra de 1509 a 1547], mas ele chegou um dia após o piquenique", lamenta Rommel.

Para participar do próximo encontro, em 28 de julho, acesse o site do grupo.


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