Folha de S. Paulo


Empresas sofrem com falta de espaço para eventos em SP

Nos últimos anos, a Abup Show, feira de decoração e utilidades domésticas promovida pela Abup (Associação Brasileira das Empresas de Utilidades e Presentes), passou por três endereços: Centro de Convenções Frei Caneca, Pavilhão da Bienal e Transamérica Expo Center.

Não que o evento tenha alma cigana. A migração foi causada na tentativa de solucionar a equação entre localização, infraestrutura e calendário --cada vez mais complexa na cidade. É que os espaços destinados a grandes feiras e eventos estão saturados.

O Anhembi Parque, o maior da capital, com 76 mil metros quadrados para exposição, tem taxas de ocupação que variam entre 70% e 80% até 2016. O número é similar no Transamérica, em torno de 70% ocupado nos próximos dois anos.

"Como há hiatos de um ou dois dias entre os eventos, é como se estivéssemos com nossa capacidade plena", conta Alexandre Marcílio, diretor de vendas e marketing do Transamérica.

Além de conseguir uma data, é importante que ela coincida com o calendário do setor. No segmento de decoração, por exemplo, a cidade reúne investidores de todo o país entre fevereiro e março. Para evitar disputas nesse período, a solução encontrada por um grupo de empresários vinculados à Abup foi construir um pavilhão para chamar de seu.

O espaço, que será aberto para receber outras feiras, está sendo erguido na Casa Verde, zona norte, e deve ser inaugurado em março do ano que vem. A princípio, serão 16 mil metros quadrados de área para exposição e outros 16 mil metros quadrados de estacionamento. No entanto, a ideia é chegar a 50 mil metros quadrados até o final do projeto.

SETOR PÚBLICO

Além desse local, a cidade pode ganhar com duas iniciativas do setor público. Uma delas é a expansão do Centro de Exposições Imigrantes. No mês passado, o governo estadual publicou edital de concessão da área por 30 anos. Os interessados devem se comprometer a reformar o atual pavilhão, de 37 mil metros quadrados, e construir um novo, com pelo menos 50 mil metros quadrados, até 2017.

O vencedor deverá investir pelo menos R$ 290 milhões. Outros R$ 26 milhões devem ser gastos para as compensações viárias e mais R$ 6 milhões em compensações ambientais -o projeto foi criticado por ocupar parte do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, zona sul.

Outra promessa é o megacentro em Pirituba, zona norte, que teria 5 milhões de metros quadrados de área (160 mil deles no pavilhão, mais de duas vezes o tamanho do Anhembi). Pensado para abrigar a Expo 2020 --São Paulo é uma das cinco candidatas--, o Piritubão deve sair do papel mesmo que a cidade não seja a escolhida na eleição que ocorre em novembro, promete o presidente da SPTuris, Marcelo Redher.

COMEÇANDO DO ZERO

Algumas das feiras mais tradicionais não costumam penar para encontrar vaga nos grandes pavilhões, já que eles costumam respeitar a prioridade do locatário, renovando o mesmo período para o ano seguinte.

Para agendar novos eventos, a história é diferente. Mônica Freitas, da Goal Promoções e Feiras, que há 17 anos promove o Expo Noivas & Festas, conta que em 2011 a Goal foi procurada por um cliente interessado em lançar uma feira em São Paulo.

Durante nove meses, a empresa buscou um local para abrigar os cerca de 60 expositores da feira, orçada em R$ 2 milhões e que aconteceria em março deste ano. Não deu certo. "Com um novo título, a dificuldade é enorme", conta.

De acordo com a Ubrafe (União Brasileira dos Promotores de Feiras), São Paulo somará 300 feiras neste ano, que devem gerar uma receita de R$ 3 bilhões. Entre esses eventos, 129 são associadas à entidade, que viu o número crescer pouco nos últimos quatro anos --em 2009, eram 120.

Araceli Silveira, diretora de marketing e operações da BTS Informa --segunda maior promotora de eventos do país, que tem 21 feiras agendadas para este ano-- diz que a empresa chega a esperar de dois a três anos para conseguir vaga nos pavilhões mais concorridos. Assim, diz, postergar novos projetos é comum.

"Estamos analisando lançar exposições em outras cidades, como Rio e Curitiba, já que em São Paulo muitas vezes não é possível", diz.

Até os eventos com "vaga garantida" sentem falta de novos espaços. O Salão do Automóvel, que inaugurou o Anhembi, em 1970, e que em 2012 reuniu mais de cem expositores, tem potencial para ocupar uma área com o dobro do tamanho, diz Juan Pablo De Vera, presidente da Reed Exhibitions Alcantara Machado, líder no país.

"São Paulo precisa ampliar sua capacidade e melhorar a infraestrutura. Como empresários, temos de deixar de ser tímidos e preguiçosos e pensar grande do tamanho que o Brasil merece", diz De Vera, que reclama que instalações precárias acabam elevando os custos dos eventos.

Outros empresários do setor engrossam o coro. "Os pavilhões têm infraestrutura deficiente. Poucos têm ar-condicionado", diz Armando Mello, presidente da Ubrafe.

Para Abdala Jamil Abdala, presidente da Francal Feiras, a cidade está "desprovida". "Falta logística de transporte, com estações de metrô próximas aos centros, sem que expositores e visitantes precisem se preocupar com trânsito e estacionamento."

Marcelo Rehder, da SPTuris, que administra o Anhembi, admite que a cidade perde eventos internacionais por falta de espaço. Mesmo assim, a prefeitura não tem previsão para a entrega do Piritubão --a estimativa inicial era a de que ele começasse a operar em 2016 ou 2017. "Se a gente não conseguir a Expo 2020, temos que ver o [prazo] possível dependendo do orçamento da prefeitura."


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