Folha de S. Paulo


Além de dormirem na casa dos patrões, babás vão a clubes, restaurantes e viagens

Sábado, hora do almoço em um shopping da zona sul. As mesas de uma das lanchonetes estão ocupadas por pais, mães, filhos e... babás. A cena é comum em lugares frequentados pelas classes média e alta paulistanas.

As moças de branco ficam ao lado das crianças dia e noite, nos fins de semana e nas férias. São vistas em restaurantes e clubes, como o Paulistano e o Pinheiros, onde são obrigadas a trajar uniforme, enquanto os pais curtem à beira da piscina.

MÃES E BEBÊS
Tudo o que é importante saber para aproveitar este feliz momento da vida

Na família Santoyo, a babá Alexandra de Oliveira e Silva, 30, a Sandra, é um dessas profissionais onipresentes. Rodrigo, 36, é empresário, e Bruna, 36, gerente de marketing. Ambos passam mais de 12 horas fora de casa e é Sandra que cuida de Tiago, 4, e Rafael, 1. Ela dorme na casa da família e, nos fins de semana, uma folguista cobre sua ausência, o que significa que os meninos têm babá todos os dias.

"Nós já tínhamos uma rotina de horários pesados e cargos altos quando decidimos ter filhos. Sabíamos que isso iria impactar na liberdade que sempre tivemos", diz Rodrigo. Assim, a babá cuida das crianças também nos momentos de lazer. "Quando viajamos, uma das babás sempre vai junto e dorme num quarto com meu filho mais novo. Durante o dia, ela está conosco, nos passeios e almoços."

A rotina é a mesma para a babá de Lorenzo, 5, e Enrico, 2, filhos de Heloísa Braguini. Ela está programando uma viagem em julho para os Estados Unidos e decidiu passar um mês numa casa alugada com mãe, filhos e babá, que deve dormir no quarto com o mais novo. "Para eu ter mais sossego."

Advogada, Heloísa resolveu contratar uma profissional em tempo integral em outubro. "Ficou pesado cuidar deles sozinha", diz. "Quando saímos para comer, ela vai junto. Além disso, posso ir à manicure e não fico preocupada se estou num compromisso e a escola liga para ir buscá-los."

Peu Robles/Folhapress
Rodrigo Santoyo, empresário, casado com Bruna, gerente de marketing, eles têm dois meninos, de 4 anos e 1 ano, e uma babá com eles faz 4 anos, que acompanha em viagens e férias
Rodrigo e Bruna têm dois meninos, de 4 anos e 1 ano, e uma babá com eles faz 4 anos, que acompanha em viagens e férias

CUSTOS REAL E AFETIVO

Segundo a psicóloga Bia Greco, que mantém desde 2010 a Baby Care, agência de recrutamento de babás, a profissional que dorme na casa dos patrões é a mais cobiçada. Para contar com a onipresença delas, eles desembolsam de R$ 1.800 a R$ 3.000, diz Bia.

Mas a escolha de uma profissional acompanhando os passos da família no clube, no restaurante ou em viagens nem sempre é bem-vista. "Já ouvi comentários do tipo 'para quê ter filho se não quer cuidar?'. Não ligo. Eu mesma pensava assim", conta Heloísa.

A psicóloga infantil Rita Calegari, do hospital São Camilo, explica que nem todos os adultos lidam com a paternidade da mesma maneira. "Para algumas pessoas, tarefas como trocar fraldas podem ser chatas. Mas também é esse contato diário que cria vínculos entre pais e filhos."

Para não perder isso, Bruna determinou as tarefas que são feitas sempre por ela. "Gosto de pôr para dormir. Acho importante ter momentos nossos." Sandra nunca dormiu no quarto dos meninos nem tem babá-eletrônica para monitorá-los à noite. O hábito ajuda a família a respeitar as regras da recém-aprovada PEC das Domésticas, que regulamenta, entre outros, o horário de trabalho de domésticas e babás.

Para Taluana Adjuto, da agência Elite Care, a PEC pode trazer mudanças para as famílias. "Com receio dos novos encargos, os pais devem pegar de volta algumas responsabilidades. Será um benefício para a criança."


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