Folha de S. Paulo


Canção de Chico inspira novo filme de Karim Aïnouz; leia entrevista com o diretor

No meio de um dia normal, Violeta (Alessandra Negrini), a protagonista de "O Abismo Prateado", que estreou na sexta (26), recebe uma mensagem de Djalma (Otto Jr.), seu marido há 14 anos, dizendo que vai viajar e que não voltará. Repetidas vezes, ele também anuncia que não a ama mais.

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Como nos primeiros versos de "Olhos nos Olhos", música de Chico Buarque que inspirou o filme, a personagem, uma dentista de 40 anos, quis morrer de ciúme. E praticamente enlouqueceu.

Dirigido por Karim Aïnouz (leia entrevista abaixo), o drama de poucos diálogos acompanha as 24 horas seguintes da vida de Violeta, que só quer olhar para o ex-companheiro e entender o inesperado rompimento.

Ao mesmo tempo em que tenta encontrá-lo, ela caminha sem destino pelo Rio de Janeiro, cruza com pessoas especiais, chora, dança e sofre.

Informe-se sobre o filme

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sãopaulo - Como surgiu a ideia de fazer "O Abismo Prateado"?
Karim Aïnouz - Começou, na realidade, com uma proposta maluca do Rodrigo Teixeira [produtor], que me convidou para fazer um filme baseado na canção do Chico Buarque que eu escolhesse. Fiquei bastante feliz, mas achei bem maluco. Adoro várias músicas do Chico, mas quando o Rodrigo me falou do projeto ela me veio de imediato à cabeça. E respeitei muito isso. É uma canção com a qual eu tenho uma relação mais forte. Já tinha ouvido muito quando me separei algumas vezes, já tinha ouvido quando não me separei [risos]. Mas, na hora em que a escolhi, não me dei conta de que era uma música muito difícil de adaptar, principalmente no contexto das outras canções dele, que são mais próximas do romance, que têm uma narrativa mais clara. Foi um desafio.

Você disse que foi difícil adaptar "Olhos nos Olhos". Por isso que o filme não tem muitos diálogos? É para o espectador imaginar a história?
O filme tenta traduzir o sentimento de uma pessoa que acabou de tomar um susto muito grande. Por isso ele se passa mais à noite. Sempre o imaginei, mais do que como uma história, como um gesto, como um ato, que é esse ato de levar um soco no estômago, como algo que fosse extremamente físico. E aí algumas pistas foram vindo. Por exemplo, uma pessoa que está vivendo uma situação como essa [a de um rompimento repentino] não vai ficar falando. Ela fica sem saber o que fazer de um momento para o outro. Então, eu tinha muito claro de que não seria um filme tão falado e de que o espectador deveria ficar sem saber o que o personagem vai fazer no momento seguinte.

O filme está o tempo inteiro brincando com a possibilidade de ter um espectador ativo, de não ficar contando tudo. Ele permite que o espectador também imagine a história. Você não sabe o que o marido da Violeta faz, você não sabe exatamente os motivos do rompimento. Você não sabe exatamente o que ela está sentindo, o que ela vai fazer. Tem uma linha narrativa simples.

O filme poderia se passar em qualquer cidade. Por que você escolheu o Rio de Janeiro?
Poderia, mas quando a gente começou a produção, pensamos em São Paulo e depois em Santos. Mas acho que tem uma coisa do universo do Chico que é muito carioca. E é um carioca zona sul. Então, achei que seria bonito poder fazer essa homenagem de filmar no Rio de Janeiro. A gente [ele e a equipe] tentou usar o Rio como elemento dramático. A personagem que está vagando à noite pela cidade, a personagem que está percorrendo espaços da cidade que são perigosos não por questões humanas, mas por questões físicas.

O que é estar em um aeroporto à noite sozinho? O que é estar em um despenhadeiro? O que é estar dentro de uma obra com uma britadeira furando uma pedra? O que é estar com uma bicicleta no meio da rua. Então, eu tinha uma vontade de olhar para o Rio o tempo inteiro não como um espaço pictórico, mas como um espaço dramático para o longa.

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CONHEÇA A FILMOGRAFIA DO CINEASTA CEARENSE

DIRETOR

"O Abismo Prateado" (2011)
"Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo" (2009)
"O Céu de Suely" (2006)
"Madame Satã" (2002)

ROTEIRISTA

"Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo" (2009)
"O Céu de Suely" (2006)
"Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005)
"Cidade Baixa" (2005)
"Madame Satã" (2002)
"Abril Despedaçado" (2001)


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