Folha de S. Paulo


Em parceria com Renata Sorrah, premiado grupo privilegia inéditos em SP

A curitibana Cia. Brasileira de Teatro estreou neste fim de semana, no Sesc Vila Mariana (zona sul de São Paulo), o espetáculo "Esta Criança", uma parceria com a atriz Renata Sorrah.

A peça, estruturada em dez cenas curtas, retrata a relação entre pais e filhos. O texto do dramaturgo e diretor francês Joël Pommerat aborda o equilíbrio precário das conexões familiares e momentos do cotidiano que podem ser alegres, como os nascimentos, ou tristes, como a morte e o abandono.

A direção é de Marcio Abreu, que teve a assistência de Nadja Naira. O elenco conta com Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzalez e Edson Rocha que vivem, em cena, 22 personagens.

A Cia. Brasileira de Teatro está sediada em Curitiba, onde foi fundada no final de 1999 pelo diretor Marcio Abreu, que também é ator e dramaturgo.

Uma marcante característica do grupo é montar autores contemporâneos inéditos no Brasil, fato que causou uma aproximação natural com a atriz Renata Sorrah, que tem os mesmos interesses.

O ineditismo é o caso, por exemplo das peças "Apenas o Fim do Mundo" (2005), do francês Jean-Luc Lagarce, e de "Oxigênio" (2010), do russo Ivan Viripaev, todas dirigidas por Abreu.

Outra característica da trupe é a releitura de clássicos, contemporâneos ou não. "Volta ao dia..." (2002) é inspirado na obra do escritor argentino Julio Cortázar, "O Empresário" (2004) é uma livre adaptação de uma ópera de Mozart e "Descartes com Lentes" (2009) e "Vida" (2010) são textos inspirados nos escritos do curitibano Paulo Leminski (1944-1989).

Divulgação
Rodrigo Ferrarini em cena da peça
Rodrigo Ferrarini em cena da peça "Vida", montagem que projetou nacionalmente a Companhia Brasileira

O primeiro espetáculo a chamar a atenção, em nível nacional, para o trabalho da companhia foi "Vida", que ganhou o Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura de melhor espetáculo em 2010 e foi indicado, no mesmo ano, para as categorias de melhor texto, melhor cenário e melhor música do Prêmio Shell.

No ano seguinte, "Oxigênio", texto que envereda por temas como o terrorismo, a violência e o consumismo, a partir de um crime passional, rendeu ao ator Rodrigo Bolzan o Prêmio Shell de melhor ator.

Em 2012, "Isso te Interessa?" também obteve êxito: ganhou os Prêmios Bravo! Bradesco Prime de Cultura e o APCA, ambos na categoria melhor espetáculo.

Elenize Dezgeniski/Divulgação
O ator Rodrigo Bolzan em cena do espetáculo
O ator Rodrigo Bolzan em cena do espetáculo "Oxigênio", da Companhia Brasileira de Teatro

Em 2013 é a vez de "Esta Criança", que chegou do Rio de Janeiro onde estreou como sucesso de público e de crítica.

O diretor Marcio Abreu, 41, falou com a sãopaulo.

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ABAIXO, CONFIRA A ENTREVISTA COM O DIRETOR MARCIO ABREU:

sãopaulo - O que você buscou na direção de "Esta Criança"?
Marcio Abreu - Quis construir possibilidades para os atores. O que procurei de início foi que esse período de duração da peça, tão intenso, tão repleto de situações e de linguagens diferentes, desse uma dimensão de compartilhamento com os presentes. Mesmo nas cenas em que os atores não falam diretamente com a plateia, existe uma consciência de que o espetáculo é com o público, não para o público. Expor é diferente de compartilhar.

Poderia destacar uma semelhança e uma diferença, em relação ao espetáculo anterior, "Isso te Interessa"?
Em "Isso te Interessa" a gente falava muito diretamente com o público; em "Esta Criança" quase não existe essa dinâmica narrativa, é mais subliminar. Mas as bases [das duas peças] têm questões comuns: a busca da presença do ator, o entendimento da dramaturgia na relação [com o público] e as duas montagens tratam de relacionamento familiar.

Quais as principais características da Cia. Brasileira de Teatro?
Montar autores contemporâneos inéditos no Brasil e fazer um trabalho de pesquisa dramatúrgica. Criamos espetáculos com textos originais. Temos um namoro com os clássicos e pensamos como podemos criar um diálogo com o público.

O que são os artistas associados da companhia?
São colaboradores. A companhia tem um núcleo fixo e artistas que formam o repertório, que colaboram nos projetos artísticos. Essa camada da companhia é tão importante quanto o núcleo fixo.

E quais são as suas principais características como diretor?
Todo trabalho que eu faço também está ligado ao campo da dramaturgia. Como diretor, sou dramaturgo e, como dramaturgo, sou diretor. Mesmo quando não escrevo [o texto da peça], o pensamento sobre a dramaturgia está presente. As relações entre a dramaturgia, a cena e o ator me mobilizam.

Há alguma particularidade nas montagens quando os textos não são seus?
É como o trabalho de um tradutor, tem um aspecto de autoria. Tudo o que está em cena está escrito e inscrito no espaço. Então é parecido com escrever texto.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Encenador teatral Marcio Abreu, diretor da curitibana Companhia Brasileira de Teatro
Encenador teatral Marcio Abreu, diretor da curitibana Companhia Brasileira de Teatro

Como você escolhe os textos que vai montar?
Geralmente, quando monto textos que não são meus, escolho os que têm a ver com o trabalho desenvolvido pela companhia. Repensamos o que pode ser esse diálogo, esse encontro hoje no teatro [com o público], quais potências precisamos mobilizar para que o teatro se dê na relação. Essa é minha principal busca dos últimos anos, ou seja, que o público seja uma etapa do que, de fato, vai acontecer [no espetáculo], uma tentativa de buscar aquilo que a gente não vê, que está entre o público e a cena.

É uma metodologia sua?
Não posso dizer que essa seja uma pesquisa só minha. Não me baseio numa teoria, numa linguagem específica anterior. É uma maneira de ver o mundo. A relação teatral é um encontro, necessariamente.

Você tem uma profunda relação com Curitiba, mesmo sendo carioca, não?
Sim, sou nascido no Rio. Mudei para Curitiba com 16, 17 anos, mas não perdi o vínculo com o Rio. Curitiba foi importante para a minha formação artística, literária, musical. Minha relação com a literatura começou em Curitiba, que é uma cidade culturalmente muito rica, sobretudo na cultura "underground".

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