Folha de S. Paulo


Executivos da Air France são agredidos em protesto contra 2.900 demissões

A Air France revoltou seus funcionários nesta manhã com a confirmação de um plano de reestruturação que prevê 2.900 demissões.

Quatro sindicatos anunciaram uma greve nacional, que deve provocar atrasos nos voos. Trabalhadores enfurecidos invadiram uma reunião da diretoria e, de acordo com a companhia aérea, agrediram o diretor de recursos humanos, Xavier Broseta e o diretor-assistente para voos de longa distância, Pierre Plissonnie. A empresa prestará queixa pela agressão.

"A direção da Air France condena fortemente a violência física que aconteceu depois da interrupção da reunião", declarou um porta-voz da holding Air France-KLM.

"Essas violências foram atos de indivíduos isolados, particularmente violentos, que atacaram durante uma manifestação de grevistas até então pacífica. Prestaremos queixa por violência com agravantes", afirmou, sem revelar a identidade das pessoas visadas pela queixa.

De acordo com representantes dos sindicatos, Broseta escapou por pouco do "linchamento" e teve de pular obstáculos para fugir. O CEO Frédéric Gagey também teve de sair às pressas, adiantando o fim da reunião, inicialmente prevista para terminar algumas horas mais tarde.

Durante o protesto, os manifestantes exigiram a demissão do chefe da holding, Alexandre de Juniac —o que anteciparia a saída também de Gagey, que comanda a subsidiária francesa.

PLANO DRACONIANO

O novo plano de reestruturação busca reduzir o efetivo considerado excessivo pela diretoria e implica na demissão de 300 pilotos, 900 comissários de bordo e 1.900 funcionários de solo, a categoria mais atingida.

Parte dessas demissões poderia ser compulsória, pela primeira vez na história da empresa. De acordo com Juniac, os desligamentos forçados seriam um "último recurso", mas Gagey afirmou que eles podem ser imprescindíveis para o aumento da produtividade.

Ela seria uma "alternativa" a um plano inicial apresentado na semana passada, no qual pilotos e funcionários de bordo deveriam voar cerca de 100 horas a mais por ano sem nenhum aumento de salário e renunciando a dias de folga.

A decisão foi imediatamente rejeitada pelos sindicatos dos comandantes. O governo francês, que detém 17,6% de participação no grupo, criticou o que o primeiro ministro Manuel Valls chamou de "linha dura" dos pilotos. "Se a Air France não evoluir, ela se colocará em risco", afirmou o premiê neste fim de semana.

SOBREVIVÊNCIA ÁRDUA

A companhia aérea, maior da Europa em termos de tráfego e responsável por 52 mil postos de trabalho, afirma que o plano alternativo visa "garantir os objetivos econômicos e o futuro da companhia".

Buscando melhorar sua competitividade contra as maiores rivais europeias, Lufthansa e British Airways-Iberia, a empresa também pretende reduzir a frequência de alguns voos, postergar a compra de novas aeronaves e cancelar cinco trajetos de longa distância. Catorze aviões também devem ser retirados da frota nos próximos dois anos.

Entre 2012 e 2014, a companhia suprimiu 5.500 postos de trabalho. Em setembro de 2014, uma greve de pilotos causou um prejuízo de US$ 416 milhões para a companhia e foi descrita como "catastrófica para o setor aéreo francês" em um comunicado conjunto dos principais sindicatos da indústria.


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