Folha de S. Paulo


Sobrevivente relata noite de horror após naufrágio no rio Yangtze

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O guia turístico Zhang Hui, um dos poucos sobreviventes do navio chinês que naufragou na segunda-feira (1) no rio Yangtze, com 458 pessoas a bordo, relatou a noite de pesadelo que viveu até alcançar a margem do rio.

Zhang, de 43 anos, que supervisionava um grupo de turistas no cruzeiro que zarpou de Nanquim (leste da China) com destino a Chongqing (centro), disse que pouco depois de 21h no horário local, o vento e a chuva se intensificaram sobre a embarcação.

A escuridão era entrecortada pelos clarões de trovões que agitavam as nuvens do céu carregado e as águas do rio, provocando um incessante movimento de ondas.

Segundo relatou à agência oficial Xinhua, "as gotas de chuva martelavam o casco direito do navio e a água começou a entrar em muitos quartos, mesmo com as janelas fechadas", disse o sobrevivente.

Às 21h20, muitos passageiros idosos precisaram deixar suas cabines inundadas, carregando cobertores encharcados para o salão de recepção.

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acidente navio chines atualizado as 2h37

Poucos minutos depois, enquanto Zhang Hui retornava para sua cabine no segundo andar, o navio "inclinou subitamente em 45°". Em seguida, começou a afundar.

SEM ALERTA

De acordo com a agência estatal Xinhua, o testemunho de Zhang não mencionou nenhum aviso oficial ou ordem de retirada por parte da tripulação aos passageiros.

O capitão do Dongfangzhixing, que também está entre os sobreviventes, contou às autoridades que o navio afundou em menos de um minuto. "Foi impressionante", lembra Zhang.

Ele e um colega tiveram tempo apenas para vestir coletes salva-vidas e pular da janela mais próxima, mergulhando nas águas turbulentas do Yangtze.

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RAIO-X ESTRELA DO ORIENTENavio de passageiros virou depois de ser atingindo por um ciclone

Zhang Hui diz ter distinguido "uma dúzia de pessoas na superfície, algumas pedindo ajuda e gritando". Depois de cinco minutos, apenas três ou quatro vozes continuavam a ser ouvidas.

Como a maioria dos chineses, o guia não sabe nadar. Envolto em um colete salva-vidas, ele flutuou à deriva a maior parte da noite. "Engoli litros de água."

Navios passavam sem reparar nos sobreviventes, enquanto as rajadas de vento e chuva o aterrorizavam.

"Disse a mim mesmo: preciso aguentar", revelou Zhang, que assegura ter alcançado a costa apenas nas primeiras horas de terça-feira, por volta das 6h. Ele faz parte do pequeno número de sobreviventes da catástrofe.


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