Folha de S. Paulo


80% dos votos de Aécio irão para Marina no 2º turno, diz vice

O candidato a vice-presidente da República pelo PSB, Beto Albuquerque, acha que 8 em cada 10 eleitores de Aécio Neves devem votar em Marina Silva para presidente num eventual segundo turno. Os outros dois "talvez votariam em Marina".

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Em entrevista à Folha e ao UOL, Beto, 51 anos e deputado federal do Rio Grande do Sul há quatro mandatos, diz não pretender ser "desrespeitoso com nenhuma das candidaturas", até por se declarar amigo de Aécio Neves, o nome do PSDB nesta corrida presidencial.

Para justificar a possível transferência em massa dos votos tucanos para Marina Silva, o gaúcho diz que isso vai ocorrer "porque são eleitores que querem mudar o país". E Aécio, também iria de Marina? "É natural. Seria até uma incoerência pensar o contrário. Acho que ninguém pode ficar neutro".

Beto é um congressista que fala sempre de maneira cuidadosa sobre adversários. Pontua com ressalvas suas assertivas a respeito de um eventual segundo turno. Quando menciona o eventual futuro aliado PSDB, sempre usa um tom ameno. "Desejo ao Aécio que ele tenha êxito na empreitada dele, para não ficarmos nos imiscuindo na realidade de cada um. [Mas] no segundo turno, para quem pregou na campanha inteira mudar o Brasil, o lugar é um lado só. Não há dois lados".

A entrevista foi concedida na terça-feira (2.set) à noite. Não eram conhecidos os números da pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (4.set). Beto ainda estava sob o efeito da grande euforia a respeito da possibilidade de crescimento das intenções de voto de sua companheira de chapa.

Para ele, "pode, sim, alguém ganhar no primeiro turno" a disputa pelo Planalto. Quem? "Neste momento, quem pode ganhar no primeiro turno é a Marina Silva". Faz, entretanto, uma ponderação: "Há espaço para ela crescer mais. Mas há também espaço para cair se a gente não continuar de forma humilde, com os pés no chão".

APOIO NO CONGRESSO

Se eleita, Marina procurará apoio da maioria dos partidos. Mas ela própria escolherá, diz Beto, as pessoas de legendas aliadas para estarem no governo. Ou seja, muitas siglas poderão estar numa eventual administração marinista, só que será sempre a presidente quem vai decidir quais quadros desejará para estar ao seu lado.

Como hoje essa prática não funciona, o candidato a vice pelo PSB acredita que possa ocorrer "um ou outro impasse", mas um novo modelo de relação com o Congresso será perseguido.

O PSB espera fazer uma bancada próxima a 50 deputados nesta eleição. Hoje, tem apenas 24 cadeiras na Câmara. E quando a Rede Sustentabilidade, partido montado por Marina, estiver com registro na Justiça Eleitoral? "Ela não está obrigada a continuar no PSB. Nós sabemos disso. Nós pactuamos isso com ela. Isso não diminui a nossa responsabilidade com o governo da Marina. Ela pode e continuará tendo apoio irrestrito do Partido Socialista Brasileiro".

AGRONEGÓCIO

Nesta quinta-feira (4), Marina Silva estará no Rio Grande do Sul num dos maiores eventos agropecuários do ano, a Expointer, que começou no último dia 30 e vai até o 7 de Setembro. A ideia é que a candidata faça um discurso de conciliação para o público local.

Segundo Beto, em síntese, Marina dirá que vai manter o crédito para o setor agropecuário e que não atrapalhará o agronegócio.

Como será a atuação do vice-presidente no caso de vitória de Marina? "Quem dará limites para o vice é a presidente", responde.

A seguir, trechos da entrevista:

*

Folha/UOL - Por que o PSB evita reunir e apresentar de uma vez todos os documentos e informações que tem a respeito do jatinho usado por Eduardo Campos?
Beto Albuquerque – Ninguém mais do que nós tem interesse numa profunda investigação e em todos os esclarecimentos sobre, primeiro, o acidente que vitimou sete companheiros, entre eles o Eduardo [Campos]. Segundo, nós temos todo o interesse que não pairem dúvidas, que haja uma investigação rigorosa sobre o empréstimo do avião e as razões da compra do avião –que a rigor não tem participação do PSB. Pelas informações que temos, recebemos esse avião emprestado de pessoas conhecidas dele [Eduardo Campos], empresários conhecidos em Pernambuco, para a pré-campanha e posteriormente para a campanha. Como se tratava de pessoa física, poder-se-ia transformar isso em estimativa de custos e contabilizar o crédito e o débito na conta eleitoral, baseado no número de voos. Os rumores sobre a compra e o uso de laranjas nos deixa muito preocupados. É um negócio que cabe aos proprietários do avião explicar as razões, verdadeiras ou não verdadeiras. A nossa parte nessa relação com o avião é a do empréstimo. O Eduardo, de boa-fé, recebeu desses empresários o empréstimo. Passou a usar. Talvez pudéssemos ter tido um cuidado maior sobre essa questão, sobre a origem do avião, enfim, coisa que nem sempre se faz, e agora estamos diante desses rumores.

Mas existe a possibilidade de o PSB reunir tudo o que há de documentos...
Mas havia um empréstimo sem documento. Esse avião estava ainda no nome do seu proprietário original que contratou o leasing, a AF Andrade, que entrou em recuperação judicial, atrasou prestações do leasing. Você não tinha como assinar contrato com quem não era ainda o dono. E aí que eu me refiro à boa-fé: [Eduardo Campos] recebeu enquanto se faria transferência, imaginando que passasse no processo eleitoral a documentação toda.

Houve uma imprudência?
A palavra imprudência é adequada. Não houve má-fé, não houve compadrio. Tenho certeza do total desconhecimento das origens, ou da forma como foi comprado esse avião. Houve boa-fé e talvez uma imprudência de não se passar efetivamente um contrato em razão de não ter sido feito a transferência. Nós, do partido, e a família do Eduardo [Campos] temos o maior interesse em que essas coisas sejam esclarecidas. Nós conhecemos a história do Eduardo, correto e super-rigoroso.

Todas as informações disponíveis para o PSB foram apresentadas?
É essa história que eu estou relatando.

Não há mais nada a ser dito pelo PSB sobre esse avião?
Não. Sobre a compra nós sabemos aquilo que a imprensa tem divulgado.

E sobre o aluguel em si?
Era um empréstimo. A única coisa que nós sabíamos é que havia dois empresários de Pernambuco que ofereceram, por empréstimo, o avião.

Marina Silva deve revelar mais detalhes sobre os contratos que fez para dar palestras nos últimos 3 anos?
Nesse caso, é preciso compreender que quem exige a confidencialidade não é a Marina [Silva]. São aqueles que contrataram a Marina para fazer as suas palestras nas suas empresas. Isso é absolutamente normal. Se fosse a Marina que estivesse escondendo seria uma coisa. Agora, quando eu contrato alguém e digo "vou te contratar para uma palestra, mas eu quero um contrato de confidencialidade", você tem que respeitar porque a vontade é do outro. O importante nessa relação da Marina é que está tudo declarado no Imposto de Renda. Foi uma forma de ela receber, prestar um serviço, ser remunerada. Está declarado no Imposto de Renda. Isso que é importante.

Ela pretende consultar as empresas e indagar se poderia quebrar essa cláusula de confidencialidade?
Certamente ela poderá fazê-lo ou mesmo as empresas poderão.

Ela se manifestou a respeito?
Não chegamos a conversar sobre isso. Mas conhecendo a Marina [Silva], tenho certeza que ela não tem nenhum interesse em esconder. Porque não há nada que se deva esconder. Foi contratada, deu palestra, prestou serviço, foi remunerada. Agora, se quem contratou não quer que se diga, temos que respeitar.

Dilma Rousseff na sua propaganda eleitoral na televisão, nesta semana, comparou Marina Silva aos ex-presidentes Jânio Quadros [1917-1992] e Fernando Collor. Qual é o seu juízo sobre essa comparação?
É lamentável ver a primeira mulher que preside o Brasil, vinculada a um partido de esquerda, de origem dos trabalhadores, adotar a regra do lacerdismo para espalhar boatos, terrorismos. Quase um golpismo às vésperas de uma eleição. É um atraso político e cultural esse gesto. Primeiro porque Marina não é parecida com Jânio [Quadros], muito menos parecida com [Fernando] Collor. Segundo, porque Dilma apoia Collor em Alagoas, assim como apoia Renan [Calheiros], e assim como apoia [José] Sarney. Acho uma injustiça esse tipo de comparação. Acho um gol contra o que a Dilma acabou de fazer.

Por que ela teria feito isso?
Ao sentir a possibilidade de perder a eleição, escolheu o pior método. O método dos que acusavam Lula em 2002. Eu votei nas três derrotas e nas três vitórias do Lula. Lembro-me bem do terrorismo que se fez contra Lula. Que o Brasil ia explodir, que ele não ia conseguir governar, que não ia ter capacidade de mobilizar a sociedade. E acabou que o presidente Lula fez um bom governo para o país. Foi um período de muita inclusão social. Essa política do medo, do terrorismo, essa filosofia lacerdista, de espalhar o terror, não é o caminho. Isso não é maduro para a democracia brasileira.

A crítica específica é que esses presidentes, Jânio e Collor, tiveram dificuldades ao assumir o mandato sem uma base sólida de apoio no Congresso. O que é um fato. Marina Silva terá uma base formal de apoio pequena. Como Marina, se eleita, conquistará apoio no Congresso para tocar o país?
A nova política que nós falamos, que Marina fala, que Eduardo falava, exige uma mudança na relação com o Congresso. Na governabilidade com o Congresso.

Todos falam isso sempre...
Achamos que deve ser diferente. Primeiro, existe uma forma de conquistar a base, alugar a base. Já fizeram isso. Teve gente que se deu mal com a Justiça. Segundo, lotearam a Esplanada dos Ministérios para ter base, e sempre teve dificuldade para aprovar as coisas. É preciso conhecer o Congresso que sairá das urnas. Pode mudar muito ou pode não mudar. Vamos tentar apostar numa coalizão de programa. Coalizão programática. Temos um programa de governo e não vamos ficar discutindo no varejo.

Mas deputado...
...Só para concluir. A Marina tem insistido: nós temos quadros políticos nas carreiras públicas muito bons. Há gente qualificada no mundo empresarial, e há gente qualificada nos partidos políticos. O discurso de que só o nosso partido tem gente boa não é nosso. É um discurso do PT.

Há cerca de 20 partidos representados no Congresso. Para apoiar o governo, esses partidos sempre pedem cargos na Esplanada [dos Ministérios]. É ilícita essa forma de colaboração?
Não há ilicitude em um partido apoiar um outro partido...

E receber um cargo?
Não há ilicitude. O problema é se sou eu que escolho o quadro do partido, ou se é o partido que me empurra goela abaixo o cara que vai governar. Quando falo de composição de governo programática, não colocar na pasta da Saúde alguém que não entenda de saúde.

Digamos que um partido X apoie um eventual governo Marina Silva, com um acordo programático. O partido então diz: "Gostaríamos de participar do governo". A partir daí a presidente diria quais quadros daquele partido ela gostaria de ter no governo ocupando cargos?
A ideia é se o acordo e programático, não é fisiológico ou patrimonialista, é que a opinião de quem vai presidir o país vai ter responsabilidades com o êxito ou com o insucesso, tenha a possibilidade junto a esse partido de influenciar, de escolher, de sugerir o perfil.

E se o partido bater o pé e falar: "Tem que ser escolhido entre esses três [quadros] aqui"?
Não. Nós estamos em um momento em que vamos um novo aprendizado na política. Essas práticas políticas...

Elas existem...
Existem e não têm dado certo. O governo do presidente Lula tinha mais de 400 deputados, teoricamente, apoiando o governo. A cada votação, eu estive nessa base, era muito difícil ter maioria. Não adianta ter uma base só referida por cargos em ministérios ou empresas públicas, porque não funciona.

Mas como seria nessa situação objetiva. Se um partido concorda em ir para o governo, terá de deixar a presidente escolher quem vai para o governo? E se a presidente não aceitar os nomes propostos. E se o partido falar que "então, nada feito". Não haverá acordo?
É possível que haja um ou outro impasse. Mas temos que perseguir a proximidade de fazer diferente.

O que vai acontecer quando ficar pronto o partido Rede Sustentabilidade, que foi idealizado por Marina Silva?
Nós do PSB apoiamos do início ao final a tentativa da Marina de ter o seu partido. Não deu certo. A Marina decidiu vir para o PSB e pactuamos uma filiação democrática. Assim como o MDB lá na ditadura era o guarda-chuva de muitos partidos.

Isso é conhecido...
...Então. Ela não está obrigada a continuar no PSB. Nós sabemos disso. Se ela quiser fazer a Rede e ser a presidenta filiada à Rede, nós não vamos ter problema, porque nós pactuamos isso com ela. Isso não diminui a nossa colaboração com a Marina. Isso não diminui a nossa responsabilidade com o governo da Marina. Isso estava pactuado partidariamente.

Ou seja, se ela...
...Se ela fizer o seu partido, nós não temos nenhum problema.

A respeito de ela sair e se filiar oficialmente à Rede?
Ela pode e continuará tendo apoio irrestrito do Partido Socialista Brasileiro.

Quais são as forças políticas que não vão participar de um eventual governo Marina Silva, que serão oposição?
Nós não vamos fazer aliança com [José] Sarney, com Renan Calheiros, com [Fernando] Collor, com [Paulo] Maluf. É uma escolha nossa, com todo o respeito a essas figuras.

E com Henrique Eduardo Alves, hoje presidente da Câmara?
O Henrique nós temos muita consideração por ele.

Romero Jucá?
Romero Jucá. Nós temos inclusive no Estado dele uma relação boa. Agora, o formato da relação com o Congresso [Nacional] não precisa ser sempre com a existência de um preposto. Quando você faz o fulano virar preposto num governo com os deputados e deputadas, você está elegendo um interlocutor. O governo pode se dirigir diretamente com esses deputados, dar atenção a eles, prestigiá-los, levá-los nas suas agendas, conversar, receber. Isso é tão fácil fazer. Você prestigiar e dialogar.

Um governo Marina Silva fará alianças formais com partidos políticos?
É claro. Já temos uma coligação com partidos. O PSB, o PPS.

Quais partidos estariam mais propensos a entrar em uma coligação de governo com Marina Silva?
É muito difícil, a 30 dias da eleição, ajuizar as instituições que já estão um pouco conosco, um pouco com outros.

Mas existe algum partido, que pela sua característica fundadora, dificilmente estaria coligado a Marina Silva formalmente no governo? O PT não vai se coligar a um governo Marina, ou vai?
Nós vamos convidar.

O partido?
Vamos convidar quadros do PT, dos tucanos, do PMDB para integrar o governo.

E o partido?
A dimensão que terá a adesão partidária é uma escolha de cada um dos partidos.

O Democratas, por exemplo, é um partido que institucionalmente poderia apoiar Marina?
Depende de ouvi-lo, depende da concordância com o nosso programa de governo. Tem um programa de governo. Quem vier para o governo tem que concordar com o programa em primeiro lugar. Depois, indicar nomes.

Por hipótese, consideremos o PMDB. Se o PMDB, institucionalmente, como partido quiser apoiar oficialmente o governo Marina Silva e quiser indicar pessoas, poderá entrar?
Vamos ter que examinar num debate sério.

Mas descarta o partido?
Não. Nós não podemos nem aceitar e nem descartar nada nessa altura do campeonato. Lá na frente, se houver interesse de um partido ou de outro, vamos ver se há o respeito ao programa e se o perfil de quem quiser governar conosco está adequado a esse programa.

Em resumo, é certo dizer que Marina Silva, se eleita presidente, aceitará o apoio do PMDB, mas ela é quem vai escolher as pessoas do PMDB que vão estar dentro do governo. É isso?
Vai discutir.

É isso?
Se você receber um partido e entrar em acordo com o partido você vai ter que discutir com esse partido as condições de atuação dele. Vou dar um exemplo: os Correios, a Empresa Brasileira de Correios. Era uma empresa que até 10 anos atrás tinha três cargos livres de nomeação. Hoje, são 100. Os nossos bancos têm mais vice-presidentes para acomodar os atores políticos do que para fazer o banco dar resultado. Temos que mudar isso. Temos que aproveitar os quadros de carreira que fizeram concurso. Temos que ter limites nessa intervenção partidária na gestão pública.

A candidata Marina Silva, sua colega de chapa, tem esse discurso que tem sido interpretado de maneira positiva por muitos, as pesquisas dizem, mas a impressão que eu tenho, olhando politicamente como o sr. olha, é que ela muitas vezes se coloca acima dos partidos políticos.
Não. Eu acho que não.

Isso, o sr. acha positivo?
Não acho que Marina negue os partidos ou esteja acima dos partidos. Tanto que ela tenta fazer um partido, não para ela, para chamar de seu. Um partido sob um programa diferente da maioria dos nossos partidos, com critérios do que pode ou não pode receber de doação para a campanha. Tem critérios de que ninguém poderá se reeleger mais de uma vez no partido, quer dizer, é um partido com concepções novas. Ela não nega essa relação partidária. Ela é candidata a presidenta numa coligação com partidos políticos, que tem dois minutos de televisão que, portanto, não resultará na vitória dos acordos dos segundos e minutos caros, que muitas vezes são feitos para você ter um programa de Hollywood na campanha eleitoral como está fazendo a presidenta Dilma, programa super cinematográfico de um Brasil que não existe na vida das pessoas. Ela não nega isso. Acho que o Brasil está cobrando a reforma política porque também quer olhar diferente para a política, e o governo pode ajudar muito a fazer a reforma. Pode ajudar muito. E dependendo do que vem das urnas nessa eleição de renovação, tanto na Câmara e no Senado, nós podemos ter menos dificuldades para você implementar essas mudanças que são necessárias.

Qual trajetória terá Marina Silva nas pesquisas até o dia 5 de outubro?
Há espaço para ela crescer mais. Mas há também espaço para cair se a gente não continuar de forma humilde, com os pés no chão, fazendo o nosso trabalho, levando as nossas propostas, não elevando o tom, e tampouco devolvendo na mesma moeda as agressões que já começaram a ocorrer.
Nós não vamos mudar o tom que a Marina usa nos debates, nós vamos continuar propositivos.

A eleição pode ser liquidada no 1º turno?
A eleição no Brasil está aberta. Pode, sim, alguém ganhar no primeiro turno.

Quais candidatos estão aptos a vencer ainda no 1º turno?
Nesse momento quem pode ganhar no primeiro turno é a Marina Silva.

Qual é o grau de exequibilidade disso?
Depende muito da avaliação que a sociedade faz.
Relembro que tem um ano e meio que todos os institutos de pesquisa apresentam 80% do eleitorado querendo mudança. Talvez essa mudança esteja sendo despertada. Ou talvez a tragédia que vitimou Eduardo tenha ajudado a despertar isso, e o patrimônio político que a Marina já tinha se soma a isso.

Que cenário o sr. vislumbra para o 2º turno?
Todos têm condições de ir ao segundo turno...

E os favoritos?
A política é dinâmica. Não vou ser desrespeitoso com nenhuma das candidaturas. A eleição está nas mãos do povo, a quem cabe escolher.

Supondo-se que as duas candidatas que hoje lideram...
...Seria fantástico ter o segundo turno com duas mulheres.

Se o 2º turno for entre Dilma Rousseff, do PT, e Marina Silva, hoje no PSB, como o vão se comportar os candidatos que ficarem de fora e como se comportarão os eleitores desses candidatos?
É inegável que no Brasil hoje há um desejo muito grande de mudança. Há um esgotamento do atual ciclo político e econômico. Há um cansaço da polarização que há 20 anos governa e desgoverna o Brasil.

Mas o que aconteceria no 2º?
Acho muito provável no segundo turno que todos os que querem fazer a mudança estejam juntos. Essa é uma probabilidade muito grande. Havendo segundo turno, poderá se consolidar.

O PSDB pode ficar de fora. O que aconteceu com o PSDB?
Talvez não tenha acontecido nada com o PSDB. Talvez esteja acontecendo muita coisa com o eleitorado brasileiro, que está tendo um outro viés de reflexão nesta eleição. O PSDB tem quadros bons. Fez para o Brasil, na sua época, boas coisas, principalmente a implantação do real, a estabilização da economia brasileira. É um mérito dos tucanos. O PT não admite isso, mas nós admitimos. Assim como o PT consolidou um período de inclusão social muito grande, o que é um mérito muito importante do presidente Lula.

O sr. diria...
...Nem o PT nem o PSDB admitem as duas coisas um do outro. Acho que isso cansou a sociedade. A sociedade cansou de viver essa dicotomia e está procurando alguma coisa nova.
O Aécio é uma liderança política nova, jovem, foi um gestor. Sou amigo dele e me dou com ele. Agora, é o partido que fracassou ou é o eleitorado que está tomando novas decisões? Acho que no Brasil quem está fazendo a mudança não são os partidos nessa eleição, é o eleitorado, é o povo brasileiro.

De cada 10 eleitores de Aécio Neves no 2º turno, quanto o sr. imagina votarão em Marina e quantos votarão em Dilma?
Oito votariam em Marina. E dois, talvez, votariam em Marina.

Então, 10?
Certamente se transfeririam porque são eleitores que querem mudar o país.

O sr. acha que o próprio Aécio, não indo para o 2º turno, consideraria essa hipótese também de apoiar Marina?
É natural. Eu acho que o discurso do Aécio e do PSDB em relação ao atual governo é supercrítico. Seria até uma incoerência pensar o contrário.

Poderia ficar neutro.
Acho que ninguém pode ficar neutro.

Marina Silva ficou neutra em 2010 [no 2º turno entre Dilma Rousseff e José Serra].
Foi uma opção que ela teve dentro do PV. O partido dela teve opinião. Eu prefiro tomar posição.

Se Aécio não for ao 2º turno, o PSB buscará seu apoio?
É possível. Mas eu desejo ao Aécio que ele tenha êxito na empreitada dele, para não ficarmos nos imiscuindo na realidade de cada um. No segundo turno, para quem pregou na campanha inteira mudar o Brasil, o lugar é um lado só. Não há dois lados.

Qual será o lado?
O lado que nós estivermos, ou no qual o outro que tenha pregado a mudança esteja.

Qual é sua posição pessoal sobre legalização do aborto, legalização das drogas, especificamente da maconha, e casamento gay?
Concordo com a lei atual sobre o aborto. E acho que o sistema de saúde brasileiro não está preparado sequer para atender os casos que a lei permite. Nós precisamos melhorar isso.

Liberalização do uso de drogas.
Temos uma fronteira muito aberta, por onde entra todo o tipo de droga. Parece-me precipitado liberar o uso antes de resolver essa entrada franca de qualquer tipo de droga no Brasil. Tenho muita dúvida sobre isso. Precisamos ver alguns "cases" de sucesso.

Como avalia a experiência do Uruguai?
Está muito cedo para avaliar. Por enquanto, não é um sucesso e não é seguro. É um país muito menor que o Brasil, tem poucas áreas de fronteira e mais condições de administrar isso.

Eu não gosto da criminalização das drogas como solução para o problema. O Brasil precisa amadurecer nesse sentido, mas primeiro tem que fazer a sua parte. Se o país tiver a capacidade de acabar com a boca livre que existe hoje nas fronteiras brasileiras, você pode fazer uma discussão mais séria. O usuário de drogas tem que ter tratamento de saúde e orientação, você não combate só com polícia. Agora, a liberação num país que não consegue ter portão em lugar nenhum me parece precipitada.

O casamento gay já existe na prática por conta de uma do Supremo Tribunal Federal. É necessário formalizar ainda mais a união entre pessoas do mesmo sexo?
Um princípio fundamental, que serve a todos os gays, aos não gays, aos crentes, aos não crentes, é que a gente respeite os direitos civis de todos os brasileiros. E respeitar as organizações religiosas, que não precisam concordar uma com a outra ou com o comportamento de um ou de outro, também é uma conquista democrática. Vamos respeitar esses limites religiosos. Agora, o Estado é laico. E se ele é laico, como disse o papa, "quem sou eu para condenar o casamento gay?".

E condenar homofobia por meio de uma lei?
Se o Brasil fosse um país mais sério ele não precisava de lei, porque qualquer discriminação deve ser condenada. Seja por opção sexual, racismo ou qualquer tipo. Mas eu acho importante ter uma lei. É minha opinião e uma filosofia que comungamos no partido. E respeitamos aqueles que divergem dela.

Por que houve recuo no programa de governo do PSB sobre o casamento gay e a criminalização da homofobia?
Um programa de governo precisa de mediação. Temos que aprender muito ainda a conviver com as diferenças. Quem coordenou a execução do plano transferiu integralmente as sugestões do movimento LGBT para o programa. Não havia consenso sobre isso. Então houve de fato ajustes. Mas dos programas de todos os candidatos, o que mais aprofunda o assunto é o nosso. É uma proposta avançada e coerente com o Estado laico.

O programa de governo da sua chapa defende o fim da reeleição para prefeitos, governadores e presidente da República, mandatos de cinco anos sem reeleição e eleições coincidentes. Hoje o brasileiro vota a cada dois anos. Por essa proposta, o brasileiro votará só a cada cinco anos. É bom isso?
Se votar de dois em dois anos fosse muito bom a política brasileira estaria melhor.

Mas votar menos é melhor?
Unir as eleições implica em criar partidos com cara nacional. Hoje você tem um partido com uma composição no município, outra composição no Estado e outra no governo federal. Os partidos vão perdendo identidade nacional. Se você unificar as eleições, isso começa a mudar. Também defendo cláusula de desempenho. Um partido para dizer que é um partido tem que ter pelo menos 2% do eleitorado brasileiro.

Votar uma vez a cada cinco anos e não a cada dois, na sua avaliação, não reduz a qualidade da democracia?
Ao contrário, talvez permita que o poder público funcione melhor. Hoje, a cada quatro anos, você tem um [ano] interrompido. Em razão dos meses anteriores à eleição municipal e dos meses anteriores à eleição nacional e estadual, você tem paralisação no repasse de recursos, descontinuidade. Isso não gera uma cultura de eficiência no poder público.

O sr. tem uma boa relação com o agronegócio. Marina Silva, historicamente, tem uma relação mais arestosa com esse setor. Como será composta a relação de Marina, se presidente for, com o agronegócio?
Acho muito engraçado, porque eu virei candidato a vice da Marina e começaram a dizer que eu sou ruralista. Eu sou o primeiro ruralista sem terra, sem nenhum boi para criar e sem cavalo na propriedade. Eu sou um advogado.

Mas que vem de um Estado onde o agronegócio é importante.
Sim, que mora num Estado agrícola e que há muito tempo já compreendeu a importância do agronegócio na vida das pessoas. Ninguém toma café de manhã, um suco, leite, come um pão, um presunto com queijo, margarina, almoça e janta se não tiver agricultura produzindo no país. A agricultura é presente na vida das pessoas. Toda a cadeia produtiva do agronegócio representa, praticamente, um quarto do PIB desse país. Não acho que haja contradições da Marina com o agronegócio. Tem muita gente ouvindo outros falarem de Marina e não querendo ouvir Marina falar. Nos encontros que temos feito, onde Marina fala e as pessoas escutam, inclusive no meio do agronegócio, os conceitos sobre a Marina mudam. Quando a Marina fala em sustentabilidade, o que significa? É adequar o agronegócio a uma exigência do consumidor mundial, que está a cada dia mais exigente. Quem não se modernizar vai perder mercado. Sustentabilidade significa dizer o seguinte: o cara que vai comer carne na Europa, hoje já é um mercado muito promissor para quem tiver essa regra, quer saber até a água que esse boi bebeu. O pasto que ele pastou, que ração ele consumiu. Isso é sustentabilidade.

Há muitos pedidos de encontros de empresários do agronegócio com Marina?
Muitos pedidos.

De que ordem?
Hoje diria que 90% do agricultor brasileiro é um agricultor que sabe que tem um mercado exigente, que é preciso preservar o ambiente, que sabe que a mudança climática é hoje o principal empecilho para o sucesso da agricultura brasileira. Marina e o agronegócio vêm mantendo encontros, como nós fizemos em São Paulo e vamos fazer na Expointer, no Rio Grande do Sul [na quinta-feira (4)]. É a maior exposição agropecuária da América Latina.

Que mensagem ela deve transmitir?
A mensagem que nós já passamos na época do Eduardo e que está de pé. Em primeiro lugar: no atual governo, o Ministério da Agricultura está sem poder político e o orçamento que lhe é devido. Hoje as decisões estão terceirizadas para a Casa Civil. Isso é um desrespeito com um setor tão importante no PIB nacional. Precisamos valorizar esse ministério e ter no comando alguém com o acordo do setor. O Ministério da Agricultura não pode continuar no rateio político-partidário.

Qual seria síntese da mensagem de Marina Silva ao setor?
Vamos continuar mantendo políticas de crédito, não vamos atrapalhar. Vamos fazer o georreferenciamento das áreas rurais. E vamos produzir. Temos que deixar esse país produzir. Atrapalhar o menos possível e preservar o ambiente. Isso tudo pode ser feito sem nenhum tipo de conflito.

Houve ruído sobre as propostas de Marina Silva para o pré-sal. Como seria tratado esse tema no seu eventual governo?
A primeira coisa que faremos é salvar a Petrobras do patrimonialismo, do aparelhamento político partidário que foi feito. Se não salvar a Petrobras, se ela continuar tendo prejuízos, terá muita dificuldade para fazer o investimento que cabe a ela no pré-sal. Segundo, o pré-sal é um programa de desenvolvimento para o país e de financiamento para áreas sociais importantes. Nós temos que fazer a exploração e faremos. Isso é a proposta de Marina. O que Marina está acrescentando é que nós não podemos viver somente dessa visão. Não concorre com o avanço do pré-sal você dizer que o Brasil é um país ensolarado e deve apostar na geração de energia solar. Ampliar a geração de energia limpa. Isso é absolutamente pacífico. Pernambuco conseguiu fazer, no governo do Eduardo Campos, um leilão de energia solar. Porque que o Brasil não faz? O Brasil tem que comprar essa parada, a Petrobras inclusive pode ser parceira dessa parada e isso não significa preterir o pré-sal para fazer energia solar. Significa fazer as duas coisas. O que ela defende é isso.

Haverá alguma restrição para o PSB receber doações de empresas ou setores para os quais a Rede, partido criado, ainda não oficial, de Marina, pode receber? Por exemplo, tabaco, álcool, agrotóxicos, armas?
O PSB tem uma regra bem clara, só não se pode receber contribuição de fonte ilícita. Nós não temos esses senões, mas respeitamos os senões que a Rede tem.

E no caso de campanha de Marina?
Na conta da candidatura da Marina seguramente essas vedações que a Rede tem serão respeitadas.

E para as candidaturas do PSB há outra regra?
Nós não temos outra regra que não seja essa: ninguém pode pegar dinheiro de origem ilegal. Não vejo pecado nenhum em receber alguma contribuição para fazer campanha de quem está legalmente constituído no país, trabalhando, gerando empregos.

Ainda que sejam indústrias polêmicas, como agrotóxico ou armas?
Quanto aos agrotóxicos, a maioria dessas empresas sequer contribuem, praticamente todas são internacionais. Armas, nós precisamos de armas para as Forças Armadas. É possível ter defesa nacional sem armas? Acho que não. Bebidas, refrigerante, cervejas, qual é o problema? O problema é o ilegal, isso sim nós temos que banir da política. São as relações ilegais, as contribuições ilegais, o caixa dois. Isso que é o feio da contribuição partidária.

Se eleita a chapa, o sr. imagina que função teria como vice-presidente numa administração Marina Silva?
Nada além do que as minhas atribuições constitucionais. Ser um parceiro que colabore e ajude na construção política do governo, nas relações institucionais, na substituição eventual. Nada que ultrapasse os limites.

O ex-vice-presidente José Alencar, por um determinado período, ajudou a administração Lula como ministro da Defesa. O sr. imagina contribuindo um pouco mais além de ser um substituto eventual?
É verdade. Isso é muito pouco. Você tem que estar envolvido na alegria e na tristeza, na dificuldade, com o governo. Agora, os limites do vice quem dá é o presidente. Se a presidente achar que eu deva cumprir mais tarefas na articulação política, ou na área de infraestrutura, na qual eu tenho um razoável conhecimento por já ter tido experiência como secretário de transportes de infraestrutura no Rio Grande do Sul, estarei pronto. Mas os limites do que eu poderei fazer ou não serão ditos e assegurados pela presidente Marina.

Qual é a expectativa do PSB sobre bancadas na Câmara e no Senado a partir de 2015?
Gostaríamos de chegar a 50 deputados nessa eleição e termos uma bancada de oito ou, muito otimistamente, 10 senadores. Estamos trabalhando para isso. A candidatura da Marina animou muito o eleitorado da nossa legenda. E talvez eleger seis governadores.

Não há neste momento, nas pesquisas já divulgadas, nenhum candidato do PSB liderando as pesquisas para governador.
Mas o Brasil está mudando muito nas eleições. As pesquisas de 15 dias atrás nem para presidente estavam coerentes.

Quais são os Estados onde o sr. imagina haver candidatos competitivos do PSB?
No Espírito Santo, temos uma candidatura viável que é a reeleição do Renato Casagrande. Nós vamos virar o jogo em Pernambuco [com Paulo Câmara]. Em Roraima, o Chico Rodrigues, estamos trabalhando em conjunto.

Qual mais?
A Lídice [da Mata] está crescendo na Bahia. No Amapá, o Camilo [Capiberibe] concorre à reeleição. Temos uma candidatura no Ceará [Eliane Novais] que começa também a ter sentimentos de crescimento. Daqui até a eleição, muitas coisas poderão mudar. Tarcísio Delgado, em Minas Gerais, era uma eleição que estaria polarizada, mas uma das partes que polariza empacou. Então abre espaço para que uma terceira força chegue ao segundo turno.

Na propagando do PSB, com Marina Silva, ressalta-se pouco o número do partido, o 40. Que é o que conta muito para eleger deputados estaduais e federais.
Mas isso ainda está começando. Começou há pouco tempo.

A própria candidata Marina vai pedir que votem no número 40?
Nós vivemos um dilema. Nós só temos dois minutos de televisão. Mas é evidente que nós vamos...

Mas ela vai falar?
Na reta final vamos valorizar o número. Agora, na estratégia de construção política, de defesa de programa, nós estamos fazendo afirmação em torno do nome da Marina. Na reta final, vamos valorizar o número, que é o que mobiliza, efetivamente, o eleitor.

Acesse a transcrição completa da entrevista

A seguir, os vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets, com opção de assistir em HD):

1) Principais trechos da entrevista com Beto Albuquerque (9:09)

2) 8 de cada 10 eleitores de Aécio vão para Marina, diz Beto (3:06)

3) Quem pode ganhar no 1º turno é Marina, diz Beto (1:49)

4) Beto: Partidos devem concordar com o programa antes de indicar nomes
(2:26)

5) Dilma sente que vai perder e usa pior método de discurso, diz Beto (1:57)

6) Marina pode ir para Rede e PSB continuará a apoiá-la, diz Beto (1:52)

7) No caso do avião, houve imprudência, mas de boa-fé, diz Beto (2:20)

8) É importante criminalizar a homofobia, diz Beto (4:03)

9) Marina vai manter crédito e não atrapalhará agronegócio, diz Beto (3:33)

10) Quem dará limites para o vice é a presidente, diz Beto (1:44)

11) PSB prevê 50 deputados e 10 senadores em 2015 (1:42)

12) Quem é Beto Albuquerque? (1:29)

13) Íntegra da entrevista com Beto Albuquerque ] (61 min.)

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