Folha de S. Paulo


Presidente do PTB anuncia apoio a Dilma

O presidente nacional do PTB, Benito Gama, afirma que seu partido já decidiu dar apoio formal para a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Segundo ele, "não é porque está forte, porque está fraco" o projeto eleitoral da petista que seu partido embarcará na coalizão.

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"Isso é ponto pacífico", disse Gama em entrevista ao programa Poder e Política, da Folha e do UOL. Há chance de recuo? "Não, não há chance", responde. Afirma também que o PTB estará pronto "para reagir, ajudar a levantar, a contornar o que aparecer", se Dilma Rousseff enfrentar dificuldades mais adiante.

Em 2010, a petista teve dez partidos em sua coalizão eleitoral. A meta do PT é repetir esse número de legendas ou até ampliar. Haverá algumas trocas. O PSB, por exemplo, terá candidato próprio ao Planalto –Eduardo Campos. No lugar deve entrar o PTB. Outra legenda nova que será dilmista em outubro é o PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

Ex-filiado ao PFL (antigo nome do DEM) e ao PMDB, Benito Gama fez carreira sempre como opositor ao PT. Agora, mudou de lado. A convite do Palácio do Planalto, ocupa o cargo de vice-presidente de governo do Banco do Brasil.

E se Dilma for substituída no processo eleitoral pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva? "O presidente Lula hoje é um mito na política brasileira (...) A tendência nossa é continuar. Não vejo mudança", declara. O PTB continuaria do mesmo jeito? "Do mesmo jeito. Não vejo dificuldade nenhuma nessa direção. Esse não é um complicador da nossa conversa".

Gama, 65 anos, deve deixar seu cargo no Banco do Brasil até abril para se candidatar a deputado federal pela Bahia. Sobre o PTB receber agora uma oferta para ocupar um ministério no governo Dilma, ele responde de maneira ambígua.

Primeiro, afirma que um convite direto da presidente faria "voltar a discussão" sobre o PTB ocupar uma vaga na Esplanada dos Ministérios. Em seguida, completa com uma frase na forma adversativa: "Mas a tendência da maioria hoje no partido é de não aceitar uma participação no ministério".

O PTB é fisiológico? Benito Gama responde com uma peroração filosófica: "A fisiologia no Brasil é a questão de governo. Não é o PTB, nem os outros partidos que querem o governo. O Brasil é governo".

Como assim? "Todo brasileiro é governo. O empresário é governo, o grande empreiteiro é governo, o grande banqueiro é governo, a grande imprensa –não os jornalistas, que têm a opinião e escrevem sobre os fatos. O governo hoje no Brasil é o maior agente econômico, político e social. Esse fisiologismo que se associa a partidos está em todo o lugar (...) O grande empreiteiro que foi oposição no passado ao PT hoje está lá no PT. O grande banqueiro que estava contra o PT hoje está lá no governo. Não é do PT, ele é governo".

No ano que vem, o PTB espera voltar para Brasília com 32 deputados federais (hoje tem 20) e participar do governo. Benito Gama pretende ser reeleito presidente da legenda em 2015, com o apoio de Roberto Jefferson, réu condenado no processo do mensalão e até hoje "o maior líder do partido".

A seguir, trechos da entrevista:

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Folha/UOL - O sr. preside o PTB desde outubro de 2012, quando Roberto Jefferson se licenciou desse cargo. Jefferson está em tratamento de saúde e é réu condenado no processo do mensalão. A transição no comando do PTB já aconteceu?
Benito Gama - Está acontecendo naturalmente. O desfecho completo será em agosto do próximo ano [2015], quando vai haver a convenção nacional do partido para redefinir os quadros da Executiva Nacional.

Quantas comissões provisórias nos Estados o PTB tem no momento?
O partido está organizado nos 27 Estados. Temos diretórios eleitos, permanentes na maioria. Em 11, executivas provisórias.

Constrange o PTB o fato de Roberto Jefferson, um dos líderes e ex-presidente da sigla, estar condenado no processo do mensalão a 7 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro?
Não há constrangimento nenhum. Pelo contrário. O Roberto Jefferson é um líder importante. Não somente no PTB, mas um líder importante no Brasil. Teve um papel importante no Congresso e por onde passou deixou sempre uma marca muito forte de liderança.
Nesse caso do mensalão foi um julgamento em que ele foi condenado. Está respeitando a decisão do Supremo Tribunal Federal. Está aguardando a decisão do presidente Joaquim Barbosa.
Do ponto de vista político, o presidente Roberto Jefferson –sempre conversamos– reafirma que faria tudo de novo, dada a importância para o Brasil e para o processo político nacional que o mensalão realmente representou.

Qual a influência de Roberto Jefferson hoje no PTB?
Hoje ele é o maior líder do partido. Ele mantém uma estrutura de oito anos que vinha como presidente. Ele, realmente, tem muitos amigos no dentro do partido. Hoje, individualmente, ele é o maior líder do partido.

Não é estranho que um partido político tenha como um dos seus maiores líderes e ainda político influente na legenda alguém que já esteja condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro?
Tem influência porque construiu esse partido muito bem. Ele se afastou do governo no período do presidente Lula e na maior parte do da presidente Dilma em função dessa questão com o PT, o mensalão. Mas do ponto de vista pessoal ele é um grande líder do partido. É um grande líder político do Brasil.

Mas eu gostaria de repetir: não é estranho que um partido tenha como uma de suas pessoas mais influentes alguém que já foi condenado e está prestes a cumprir pena? Não seria prudente que ele realmente se afastasse de uma vez do partido e ficasse reservado?
Não. A questão não é nem de prudência. A questão realmente é uma questão natural. Ele já se afastou do partido.

Formalmente.
Não. Hoje eu exerço a Presidência do partido, evidentemente que eu ouço todos os segmentos do partido. Ele tem um segmento forte no Rio de Janeiro e vários amigos em todo o Brasil. Mas a Presidência do partido eu exerço na plenitude.
Até por iniciativa própria, ele não interfere, não intervém em nenhuma decisão partidária.
As questões são decididas aqui. As relações com o governo federal, com os Estados, as coligações, as gestões, evidentemente, ele participa.
Você não pode apagar uma liderança e nem vai apagar uma liderança como ele exerceu com muita persistência e com muita competência. Ele é um político da maior competência.

O PTB pretende ajudar Roberto Jefferson a pagar a multa de R$ 720 mil que ele recebeu junto com a condenação por causa do mensalão?
Ele não quer essa questão de fazer "vaquinha", como se fez nos outros casos. Mas do ponto de vista pessoal, individual, alguns companheiros do partido têm demonstrado interesse em ajudar.

Como seria feito?
Não se pensou ainda em como fazer. Não será "vaquinha" via internet. Nada disso.
Individualmente, se as pessoas estabelecerem diálogo, ele está aberto. O partido não pode, inclusive, pela questão legal. Mas tem grandes amigos no partido que seguramente vão participar.
Ele já me disse que vai vender o escritório dele no Rio de Janeiro, que fica no centro. Não dá para pagar tudo, mas a metade ou um pouco mais. Fica um saldo que pode ser parcelado.

O sr. foi deputado federal durante vários mandatos.
Fui por quatro mandatos, 16 anos.

Durante um período no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso o sr. foi o líder do governo na Câmara. Há diferenças hoje no modelo de coordenação política exercido no atual governo em relação ao período que o sr. liderava o governo dentro da Câmara?
Não conheço como funciona hoje porque só vejo na hora a votação e quando o PTB é chamado para discutir as questões localizadas. Posso fazer um depoimento.
Quando eu era líder do governo, Luiz Carlos Santos era ministro da Coordenação Política, eu me lembro que nós tínhamos um processo de decisão talvez diferente do que é hoje. Nós tínhamos reuniões semanais dos líderes de partidos e do governo, às terças-feiras, às 9h da manhã, com o presidente [Fernando Henrique Cardoso] e o vice-presidente, Marco Maciel. E depois, procurávamos inclusive para conversar os líderes da oposição.

Eram regulares essas reuniões?
Eram regulares. Toda terça-feira, às 9h da manhã, tínhamos a pauta do Congresso discutida com o presidente, o que interessava ou não interessava ao país, ou ao governo.

O presidente da República participava?
O presidente Fernando Henrique participava de todas elas. Às terças-feiras, às 9h da manhã. Lembro-me perfeitamente. Nós esperávamos os líderes e depois íamos conversar com os líderes da oposição para ver onde tinha problemas e onde não tinha, onde podia se transpor os problemas ou não. Era uma reunião permanente, cada emenda era discutida com os ministérios antes de ir à votação e os relatórios eram realmente tratados com os órgãos envolvidos nos projetos.

A impressão que se tem hoje é que o governo da presidente Dilma Rousseff passa por um momento de um certo descontrole na sua articulação política. O sr., olhando de fora, vê algo nessa linha?
Eu sinto muito ultimamente as questões políticas importantes sendo resolvidas em cima da hora. Claro que a política é um jogo de pequena área, para dar um exemplo de futebol. Ali na pequena área você faz o gol e toma gol. Chega o momento da pequena área, mas tem uma hora que você tem que construir a jogada, para usar essa expressão. Então a desarticulação que eu vejo não é nem do governo especificamente, mas nos partidos também há realmente uma questão de falta lideranças fortes para comandar processos importantes do Brasil.

O PTB iria participar do governo com um ministério. Depois, parece ter desistido. Por quê?
O partido hoje está participando do conselho político, com a presidente. Nosso diálogo com ela tem sido extremamente construtivo. As bancadas da Câmara e do Senado continuam trabalhando. Agora a presidente entendeu e entende que o partido precisa participar da coalizão, como participa, e também participar na Esplanada. Há realmente sinais de que a presidente poderá convidar o PTB para ocupar um ministério...

E no caso...
...Não aconteceu ainda, ela não convidou.

No caso de haver um convite o PTB participará da Esplanada?
Essa conversa veio desde de maio do ano passado. O PTB estava disposto a participar do governo. Ultimamente, quando ficou a reforma para dezembro, para janeiro e para fevereiro agora, há uma dificuldade em ocupar um espaço na Esplanada porque falta tempo para você trabalhar programas, trabalhar projetos etc.
O PTB não quer ter ministério para ter ministério. Não é para ter ministro. Nós queremos participar de um projeto de governo. Agora vem o Carnaval, Copa do Mundo, depois eleição. Há realmente um momento extremamente complexo. Há oito meses era um caso. O partido se dispôs a participar do governo, mas agora, a declaração que eu dou...

Qual é a sua declaração?
Minha declaração é que nós não íamos entrar nessa disputa porque o PMDB começou a disputa para ter cinco ou seis ministérios.
Nesse momento começou a ir para a mídia muito fortemente essa questão. Eu não me senti confortável como presidente do partido em ficar disputando espaço público, espaço de ministério. Deixei a presidente à vontade. Não houve rompimento com a presidente, com o governo. Mas eu não me senti à vontade, confortável. Não é que não queira, o PTB não vê necessidade de participar da Esplanada agora.

Mas digamos que a presidente Dilma Rousseff ofereça agora um dos 39 ministérios para que o PTB. Nesse caso, como seria a reação?
Ia voltar a discussão. Mas a tendência da maioria hoje no partido é de não aceitar uma participação no ministério.

O sr. ocupa, no momento, o cargo de vice-presidente de governo no Banco do Brasil. Qual a diferença entre ocupar um cargo assim e um ministério?
No caso do cargo, foi um convite pessoal da presidente. Estou no banco, mas no banco não há política.
Não se pode misturar a questão política. Não posso participar politicamente de nenhum processo em função do banco.
Mas um ministro é um cargo político. Eu poderia participar, fazer viagens em todos os Estados. A diferença é essa.

Quantos cargos de relevância o PTB ocupa no plano federal?
Olha, hoje com a bancada, a Câmara e o Senado, o partido tem a participação na Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], na bancada federal, por meio do líder do partido, e a Vice-Presidência do Banco do Brasil.

Quantos deputados tem hoje o PTB e quantos pretende ter depois da eleição de outubro deste ano?
Hoje o PTB tem 20 deputados federais e 6 senadores. Nosso projeto agora, inclusive com apoio da presidente, o projeto é eleger pelo menos um deputado em cada Estado. Vamos ter Estados em que nós vamos ter dois ou três, até quatro. Em Pernambuco, por exemplo, nós temos a expectativa de chegar a quatro deputados federais. Na Bahia, dois.

O sr. vai deixar seu cargo no Banco do Brasil se desincompatibilizando para ser candidato a deputado?
Exatamente. Vou obedecer ao que diz a lei e vou me desincompatibilizar do Banco do Brasil. Sou candidato a deputado federal pela Bahia.

O PTB pretende declarar oficialmente apoio à reeleição da presidente Dilma fazendo parte da aliança formal que vai tentar reelegê-la?
Sim. Temos esse compromisso com a presidente. Vamos formalizar na convenção, em junho. Na época das convenções nacionais dos partidos o PTB vai formalizar o apoio.

E dará o tempo de TV à coligação da presidente?
Dará. O apoio é incondicional. Nós não estamos condicionando esse apoio a cargo, a ministério, a nada. Nós estamos no projeto que o PTB aprovou na Câmara e no Senado nos últimos oito anos do presidente Lula e nos três anos agora da presidente Dilma. Eu não vejo como não apoiar incondicionalmente esse projeto.

É motivo talvez de embaraço o fato do PTB, por meio de Roberto Jefferson em 2005, ter acusado o PT de corrupção? Não vejo dificuldade nesse processo. Até porque quem mais agrediu os partidos foi o PT, quando era oposição, e hoje ele está aliado a todos os partidos, da grande maioria dos partidos. Mas no caso específico não há nenhum constrangimento.

Mas é uma questão decida institucionalmente no PTB, o partido, PTB, vai se aliar à coligação de Dilma Rousseff e dará o tempo de TV para a presidente na eleição?
Isso é ponto pacífico.

Não tem chance de haver recuo?
Não, não há chance.

E se, em junho, no momento da convenção, a presidente Dilma estiver enfrentando dificuldades nas pesquisas e não se mostrar uma candidata competitiva como hoje?
Nós estaremos prontos para reagir, ajudar a levantar, a contornar o que aparecer. Nosso objetivo não é enfraquecer.
Hoje eu penso que ela é a favorita, mas se for o caso, pelo contrário, nós temos que arregaçar as mangas e trabalhar para que isso seja revertido.
A questão do partido não é porque está forte, porque está fraco [o projeto de reeleição de Dilma]. Essa não é a questão. Essa é uma questão decidida, inclusive, independe de ministério, como eu te falei aqui, independe de ministério. Se a presidente convidar o partido para a Esplanada nós temos nomes dentro do partido para indicar, mas não queremos, não colocamos isso na mesa e tiramos inclusive essa questão da negociação.

Em Brasília ainda se ouve que até junho, no caso de haver muita dificuldade eleitoral para a presidente Dilma se reeleger, o plano B seria o ex-presidente Lula ser chamado para ser o candidato a presidente. O que o sr. acha dessa hipótese?
O presidente Lula hoje é um mito na política brasileira. Qualquer avaliação que se faz sobre um mito é muito complexa, o desdobramento do que pode acontecer. Nosso compromisso é com a presidente Dilma. Esse plano B...

O sr. já ouviu isso?
Tenho ouvido, realmente. No Congresso hoje isso se fala muito em nível do Brasil. Mas a presidente, cada vez mais, ela está caminhando na direção de ser a candidata do PT...

Mas e se isso acontecer? O PTB estaria disposto a apoiar também a eleição do ex-presidente Lula?
Se você trocar nomes evidentemente tem que sentar para discutir como são os nomes. No caso do presidente Lula, ele é um mito. Havendo essa discussão a tendência nossa é continuar com o partido, eu não vejo mudança.

Continuar com...
...Com o PT, na coligação com a presidente Dilma.

Se for Lula continuaria do mesmo jeito?
Do mesmo jeito. Eu não vejo dificuldade nenhuma nessa direção. Esse não é um fato, esse não é um complicador da nossa conversa.

O PTB esteve oficialmente em algumas eleições presidenciais com candidato do PSDB, certo?
Esteve, sim. Na última apoiou o José Serra, do PSDB.

Por que o PTB mudou tanto de opinião?
Ali não é opinião, foi a contingência natural do processo. A ação do mensalão estava em julgamento ainda, o Roberto era o presidente do partido, não tinha o diálogo com o presidente [Lula]. Estava rompido com o governo. Então, o partido trabalhou na direção oposta. Isso não foi uma mudança de opinião, foi circunstância do momento que nós tivemos. Tanto que nós do partido só procuramos a presidente Dilma dois anos depois.

Hoje há dois pré-candidatos de oposição: Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSD. Qual dos dois o sr. enxerga como mais competitivo?
Os dois são extremamente competitivos. O Eduardo Campos no Nordeste e em Pernambuco, especificamente, tem um trânsito interessante. Aécio em Minas Gerais e no Sul do Brasil está começando a construir. Em Minas ele já tem uma base muito forte. Do ponto de vista geopolítico essa eleição é diferente da de 2010.

O sr. enxerga o quadro geopolítico mais favorável ou menos favorável para a presidente Dilma?
Eu diria mais complexo do que em 2010.

Por quê?
Pelo seguinte, porque Minas em 2010 estava aberto. Não teve um candidato a presidente de Minas Gerais na eleição. Teve o Aécio como candidato ao Senado, o [Antonio] Anastasia candidato a governador. Teve aquele voto "Dilmasia"...

Dilma para presidente e Anastasia para governador...
E o Aécio soberano no Senado.
Agora tem o Rio de Janeiro que não é uma questão resolvida. No Sul do Brasil, o Paraná, que ainda é uma disputa muito forte. No Rio Grande do Sul, a [senadora] Ana Amélia [do PP] é um fato novo que está levando a algumas considerações políticas importantes.

Quem é mais competitivo para ir ao segundo turno, se houver segundo turno?
Não vejo um preferencial, nem o Aécio nem o Eduardo Campos...

O sr. acha que haverá segundo turno?
Haverá segundo turno, isso aí...

Qual é o principal obstáculo para a reeleição da presidente Dilma?
A campanha vai ser fundamental nisso. Ela não pode misturar a campanha com o exercício da Presidência. Quando ela [a campanha] chega, começa a mudar muitas coisas. Ela tem um partido extremamente organizado em nível nacional. Tem um líder muito forte que é o presidente Lula.
Tem duas coisas em política que é difícil enfrentar: o mito e o cadáver. São duas coisas que quando você vê na eleição, cuidado! Aí realmente você vai enfrentar duas coisas difíceis. O mito e o cadáver. O cadáver é gerado politicamente.
Este é um ano político. Chega-se no final como se fosse na Fórmula 1. Você chega com a pista toda cheia de óleo, pouca gasolina, piloto cansado, o carro quebrado. A torcida já ali agoniada. É um momento final. A eleição não é o início de um processo, é o fim de um mandato, de um processo de quatro anos que tem governo e oposição. A opinião pública vai julgar.

O PTB vai ter quantos candidatos próprios a governo?
Nós temos hoje dois candidatos fortes e competitivos. Armando Monteiro, em Pernambuco, inclusive discutindo uma coalizão com o PT. E o Eduardo Siqueira Campos, em Tocantins.
No Senado nós temos seis senadores hoje. Dos seis, cinco vencem o mandato agora. E desses cinco nós estamos buscando repetir essa mesma quantidade.

O sr. sempre foi um adversário do PT. Hoje, está aliado ao PT. Como se sente?
Eu fui oposição ao PT naquela época. No processo político, ou você sai ou você começa a costurar. Em nenhum momento estou aliado ao PT por fisiologismo, por oportunismo. Estou ali num processo dinâmico porque todos os meus aliados, quando eu era oposição ao PT, são aliados do partido [PT].
Há um momento em que você tem que pensar no país.

Mudou o PT ou mudou o sr.?
Eu não mudei. Eu continuo o mesmo. Até acho que o PT mudou muito de quando eu era oposição. Eles continuam com a deles e eu continuo com a minha. Do ponto de vista de coalizão de governo eu sinto que o partido pode contribuir com o Brasil sim.

O sr. presidiu a CPI que resultou no impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Hoje o senhor é do PTB, o ex-presidente Fernando Collor se elegeu senador por Alagoas, pelo PTB. Estão no mesmo partido. Como convivem?
É uma convivência muito civilizada. Foi um momento importante da vida política pessoal.

O sr. conversa com ele sobre aquele período?
Sobre essa questão do impeachment eu nunca conversei com ele. Sinceramente nunca conversamos. Mas não há nenhum constrangimento, é uma relação civilizada. Ele é do partido. Ele é senador do partido. Eu mantenho um diálogo civilizado. Mas aquela é uma página que os dois tratam com muita civilidade.

O PTB, assim como vários partidos do Brasil, tem uma péssima imagem, de partido fisiológico, que quer cargos e não vai muito para lugar nenhum. Por que isso acontece? E o que pode ser feito no seu caso?
A fisiologia no Brasil é a questão de governo. Não é o PTB, nem os outros partidos que querem o governo. O Brasil é governo.

Como assim?
Todo brasileiro é governo. O empresário é governo, o grande empreiteiro é governo, o grande banqueiro é governo, a grande imprensa –não os jornalistas, que eles têm a opinião e escrevem sobre os fatos. Você vai para os meios de comunicação, é governo.
Porque o governo hoje no Brasil é o maior agente econômico, político e social. Então esse fisiologismo que se associa a partidos está em todo o lugar. A universidade é governo.

Quando o sr. diz que é todo brasileiro é governo é no sentido de que todos desejam um favor do governo, um dinheiro do governo?
O brasileiro não quer o favor, ele precisa dessa harmonia. Ele precisa estar convivendo com o governo. Tivemos há 15 dias agora a posse de dois ministros do governo. Da Saúde e da Educação. Estavam presentes as universidade privadas, as universidades públicas, os professores, os bancos, os universitários, os financiamentos do Fies [Fundo de Financiamento Estudantil] etc. O governo brasileiro pegou uma importância tão grande que não é fisiologismo de um partido. Todo mundo precisa.
O grande empreiteiro que foi oposição no passado ao PT hoje está lá no PT. O grande banqueiro que estava contra o PT hoje está lá no governo. Não é do PT, ele é governo. A questão de fisiologia no governo se mistura.
Agora, tem pessoas que se trocam: "Vou lá se você me der isso e tal". Mas não é só no partido político. Não é só no PTB ou em outro partido.

Acesse a transcrição completa da entrevista

A seguir, os vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets):

1) Principais trechos da entrevista de Benito Gama (7:13);

2) Forte ou fraca, Dilma terá apoio do PTB, diz Benito Gama (1:40);

3) Se candidato for Lula, PTB apoia do mesmo jeito, diz Benito Gama (1:12);

4) PTB reabre discussão se Dilma oferecer ministério, diz Benito Gama (2:42);

5) Roberto Jefferson é o maior líder do PTB, diz Benito Gama (0:53);

6) PTB tem 20 deputados e estima ir a 32, diz Benito Gama (1:11);

7) Articulação política do governo é feita em cima da hora, diz Benito Gama (2:18);

8) Fisiologismo está em todos os lugares do Brasil, diz Benito Gama (1:35);

9) Quem é Benito Gama? (1:58);

10) Íntegra da entrevista com Benito Gama (52 min.);

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