Folha de S. Paulo


Leia a transcrição da entrevista de Henrique Eduardo Alves à Folha e ao UOL - Parte 2

Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara dos Deputados, participou do "Poder e Política", programa da Folha e do UOL conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 17.jul.2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

Leia a transcrição da entrevista de Henrique Eduardo Alves à Folha e ao UOL - Parte 1

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E daí vai para o Senado.

Mas tem um dado importante, que eu não estou valorizando tanto, e essa é a mudança por completo da relação do Executivo com o Legislativo, que é a apreciação dos vetos. Antigamente os vetos do Poder Executivo, a propósito de ser aprovado pelo Parlamento, quando chegava ao Congresso, estabelecia o protocolo, registrou, passava a valer, pela Constituição, 30 dias para a sua aprovação. Não sendo apreciado, trancava a pauta por completo.

O que que se fez há 10 anos atrás? O jeitinho brasileiro, aí no mau sentido. Não era o registro do veto, a sua chegada ao Parlamento que estabelecia esse prazo da Constituição. Era a leitura dos vetos. Só que o veto nunca era lido. Passamos 12 anos sem ler nenhum veto. Ou seja, nenhum veto era apreciado. Agora, há dois meses a Câmara aprovou, foi para o Senado, agora o Senado se convenceu e aprovou conjuntamente conosco e o Congresso Nacional, a partir de 1º de julho todo veto do Poder Executivo terá o prazo de 30 dias improrrogável para a sua apreciação no plenário.

Olha a mudança que isso vai ocasionar. Por quê? Eu ia discutir com a área econômica, como líder do PMDB, uma alteração numa medida provisória, numa proposta, discutia horas, e eu sentia a insensibilidade daqueles que estavam participando, por parte do Executivo, é natural. Porque a gente falava falava falava e vinha a resposta: "Tudo bem, o governo não concorda, os senhores apresentem, mas o governo vai vetar. E vetava. E ficava por isso mesmo. Agora não, agora o governo democrático da presidenta Dilma, antes de encaminhar as propostas ao Executivo, ao Legislativo, é melhor conversar antes, porque o fato de mandar não quer dizer que aquele texto vai prevalecer, porque na hora que a Câmara mudar, por alteração, e ela vetar depois, esse veto pode ser derrubado em 30 dias.

Isso vai mudar muito a relação do Legislativo com o Poder Executivo. Vai ser mais qualificada, mais respeitosa de parte a parta. Essa foi a grande transformação na nossa administração como presidente da Câmara, ao aprovar na Câmara e agora no Congresso Nacional..

A aliança nacional entre o PT e o PMDB deve ser mantida no ano que vem, em 2014?

Deve ser mantida, eu não tenho a menor dúvida, até porque nós estamos participando do governo, com todas as reclamações, que são verdadeiras, da base. Tem uma participação mais qualitativa, mais representativa, mais transparente, de maior interação, maior diálogo, mas acredito que sim, que a presidenta Dilma faz um bom governo, a nossa avaliação é que ela vem sendo uma presidenta com as qualidades fundamentais para o administrador, que é honestidade, que é transparência, eu acho que ela tem portanto um perfil de administradora importante, que o povo brasileiro reconhece e aplaude.

Teve essa turbulência, e vamos avaliar que eu acho que vai ser recuperável, acho que até o final do ano ela volta aos patamares iniciais pela sua administração, pela sua seriedade, pela sua competência, pela sua história, seguindo o presidente Lula, que deixou esse patamar de muitos avanços na vida politica brasileira. Eu acho que sim, que será esse o caminho do PMDB. Agora, tem que ser cada vez mais conquistado por convencimento, acho que esse trâmite do melhor relacionamento terá inevitavelmente que acontecer.

O sr. fala, ela vai recuperar até o final do ano os níveis de popularidade e intenção de votos que tinha lá atrás. Mas tudo isso condicionado a essas mudanças que o senhor falou ao longo da entrevista --um rearranjo no ministério, uma mudança na articulação política, uma oxigenação do governo. É isso?

É lógico, é isso.

E se ela não fizer nada disso?

Aí corre um risco grande, primeiro do sucesso do seu governo. O que ela não quer, nós não queremos. Então isso aí está fora de cogitação porque ela sabe como ninguém, ela não tem a prática da política, porque nunca foi deputada, nunca passou pelo Parlamento, mas quem conviveu, como ela conviveu, com o presidente Lula, ela sabe exatamente o que é necessário fazer na hora da bonança e na hora das crises. Agora, na hora da crise, ela saberá conduzir.

O que nós queremos apenas é que ela ouça mais, converse mais com a classe política, tenha uma maior interação. Seja mais aberta àquilo que os partidos, os líderes, até a oposição, querem contribuir conjuntamente, pois está na hora de ajudar o Brasil a reencontrar esse caminho que as ruas estão reclamando, o Brasil novo que está surgindo. É natural essa transformação, essa mutação. E nós temos que estar muito abertos a esse reclamo que vem, para que a gente mude também e não sejamos mudados.

Quem o sr. enxerga como principais adversários na disputa presidencial no ano que vem?

Eu acho que naturalmente o PSDB, pela sua estrutura partidária, governou oito anos o país, deixou sua marca, lideranças como o Fernando Henrique Cardoso, o senador Aécio Neves, o ex-governador José Serra, são muito qualificados na história política brasileira, têm serviços prestados ao país, fizeram um governo de transformações, de mudanças, então por essa história, por essa tradição, acho que é o adversário natural, de novo, para um confronto PT-PMDB.

E os outros candidatos que já estão pré-lançados como Eduardo Campos, do PSB, Marina Silva, que constrói um novo partido agora, e até de vez em quando citado o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa?

Eu acho que a Marina tem o seu potencial, vi uma entrevista dela dia desses na televisão, vi ela bem posta, acho que avançou muito nos seus conceitos mais abrangentes, saiu da questão meramente ambiental, acho que está se qualificando, mas eu acho que a falta de uma estruturação maior, de uma maior representação nos municípios e nos Estados brasileiros, não sei, pode ser uma dificuldade que ela venha a enfrentar.

O Eduardo Campos eu conheço bem, como nordestino, é um político muito qualificado, é um governador que marca história em Pernambuco, um dos maiores de sua história, é hoje uma excelente conversa política de qualidade, mas o seu partido tem divisões, por exemplo, no Ceará há divisões claras, entre o projeto de Eduardo Campos, e o que quer o governador Cid [Gomes], Minas Gerais também tem dificuldades com o prefeito [de Belo Horizonte] Márcio Lacerda, então falta ao governador Eduardo Campos talvez também um arco maior de alianças que lhe dê um desempenho, uma desenvoltura maior para se apresentar como candidato, mas é aí um talento que eu tenho reconhecer. Vamos aguardar os próximos meses.

Eu acredito que a presidenta Dilma, com o governo que até então vinha tendo médias altíssimas de aprovação, houve um movimento, sim, de um Brasil que está se sacudindo, querendo mais, querendo melhorar, querendo avançar, mas isso não vai tirar os méritos de um governo Lula, que fez tanto, que mudou esse Brasil, e da presidenta Dilma, que está avançando nesse sentido. Então é possível recompor todo esse patrimônio político, administrativo, cultural, econômico, social, e fazê-lo avançar.

Joaquim Barbosa. O sr. acredita que ele possa vir a ser candidato?

Não, eu não acredito não. E sua postura tem demonstrado isso, ele tem declarado isso. É um presidente importante do Supremo, pelo que fez, pelo processo que está tendo, e o Brasil está todo acompanhando. Agora, é diferente daí pra ser candidato, conhecer o Brasil, andar o país, a necessidade dos municípios, dos Estados, das regiões, é outra configuração para ser candidato, eu acho.

O ministro Aloizio Mercadante, que já citamos aqui, que tem trabalhado muito na área política do governo também, acha que a presidente tem como se recuperar e deve ganhar no 1º turno no ano que vem. O sr. acha que é mais ou menos por aí?

Eu acho, eu acho que ela tem condições, porque veja bem, antes desse movimento da rua, se você me trouxesse aqui para entrevista antes dessa movimentação em todo o Brasil, nós íamos conversar sobre os níveis de popularidade dela, da aprovação recorde de seu governo, maior do que o do Lula, em todos os tempos.

Então se não houver uma ocorrência grave, importante, se ela for bem entendida e for bem correspondida, e sinalizar com mudanças concretas, com um ato de humildade, de reconhecer. E o fato de você reconhecer, de você querer mudar rumos não lhe diminui. Pelo contrário, lhe engrandece porque mostra sensibilidade, mostra humildade. Todo o patrimônio do governo Lula e Dilma estão aí.

Mas deputado, veja só, o forte dos governos em geral não é reconhecer erros, às vezes em público, pelo menos. Veja o caso daquele problema com o Bolsa Família, há 2 meses, em maio, provocou um infortúnio para milhares de pessoas, o governo, num primeiro momento disse que era coisa da oposição, orquestrada, chegou a dizer que era um crime. Colocou a Polícia Federal para investigar, mas a gente está vendo que a culpa, se houve alguma, foi uma trapalhada interna do governo que liberou dinheiro sem avisar devidamente os beneficiários e provocou o tumulto. E o governo agora fica dizendo que não houve erro nenhum, ninguém foi demitido, por essa métrica devo entender então que não vai haver reconhecimento daqui para a frente.

Você deu um exemplo claro de um equívoco, de um erro do governo.

E o governo está dizendo que não errou. Mas todo mundo está vendo que errou, porque está claro.

Errou e errou mais na hora em que acusou a oposição. Mas são coisas pontuais que, por não ter o reconhecimento, se tornam maiores. E isso eu acho que é uma compreensão equivocada.

Mas quem que garante para quem está observando a política que a partir de agora vai ser diferente?

Porque eu tenho sentido nas últimas conversas, digamos, de um mês para cá, com a presidenta Dilma, essa preocupação. De ouvir mais, de conversar mais, de interagir mais. A presidenta Dilma queria muito era que conversasse mais mesmo, porque como ela conversa, ela é preparada, ela conhece o Brasil, por tudo o que viveu, ela portanto está muito motivada, muito consciente do que fez, do que poderá fazer.

Nós queremos que ela ouça mais, não o Henrique presidente da Câmara, nem o presidente do Senado, nem o Michel Temer, mas as lideranças partidárias, os políticos como um todo, porque todos estão juntos nesse processo. Não é pensar "ah, aqui ela vai perder, vai ganhar", nós vamos perder com ela ou ganhar com ela falando em nome do PMDB.

Eu acho sim que há tempo de recuperar as coisas, eu acho que ela tem uma postura de uma transparência, de uma dignidade, de uma coragem que permite a ela, nesta hora, reconhecer o que não pode ser feito, reconhecer o que as ruas querem que nós façamos e fazer essa mudança.

Preciso falar, tenho poucos minutos só, queria falar de alguns passivos de imagem do Poder Legislativo e da Câmara, no caso. O deputado Natan Donadon [RN] está preso. Foi condenado em definitivo em 2010. Daí, à base de recursos, conseguiu protelar a execução da sentença. Foi preso no dia 28 de junho. Está preso, mas é deputado ainda. Eu entendo que tem que ser respeitado o direito de contraditório, que há ritos a serem seguidos, mas ainda sim, não podia ser mais rápido a cassação do mandato dele?

Não, porque tem o trâmite, como você colocou. É regimental. Tem prazo de defesa de cinco sessões. Ele não apresentou o advogado dele, uma manobra protelatória. Permite o regimento que ele tenha direito a um advogado dativo. Já foi indicado. Falta escolher agora. Trata-se de escolher agora um prazo e na primeira semana de agosto, apreciar.

O Supremo Tribunal Federal, que é a mais alta Corte de Justiça do Brasil, também ficou aceitando essas protelações. Aconteceram os protestos de rua, que emitiram sinais para todos os Poderes da República, o Supremo Tribunal Federal disse: "Chega. Não aceito mais recursos". A rigor, ele [Donadon] tinha como apresentar recursos ao Supremo. Mas o Supremo disse: não. Por que o Poder Legislativo não pode também falar: olha, não, chega. Nós vamos cassá-lo hoje e pronto?

Não. Nós temos de dar o exemplo do cumprimento da lei...

Mas se o Supremo que é o Supremo deu um basta...

Sim, mas a Câmara não pode dar "basta". Eu não sou ditador do Parlamento. Eu tenho de cumprir um regimento que estabelece normas e regras. E olhe, veja como é uma coisa delicada. Quando foi decretada a prisão [de Donadon], muitos parlamentares, mas muitos me indagaram como é que eu permitiria ser preso um deputado no exercício do seu mandato. Houve esse questionamento. E nós tivemos uma posição correta e corajosa, até porque correta, de que realmente reconhecer que ele deveria ser preso, assim como foi. E talvez as pessoas não saibam. Na semana passada, semana passada, nós decidimos a demissão de todos os funcionários do gabinete [de Donadon]...

Bom, ainda bem, não é?

Pois é, mas é bom informar. Todo o seu salário foi, portanto, eliminado. O apartamento que ocupa a sua família está um drama. A mulher, os filhos. Foi solicitado pela Câmara. Então, essas medidas da prerrogativa do mandato nós já encerramos todas elas. O que falta agora é o cumprimento, pelo advogado dativo, que será agora no prazo de cinco sessões, no início da semana de agosto, apresentar o seu parecer que irá depois para o plenário da Câmara dos Deputados. É importante esse procedimento... Porque se você quebra normas a favor; amanhã, contra. Então, a Câmara tem de seguir o rito.

Evidentemente que eu não estou sugerindo, e ninguém acho que sugeriria, que o Poder Legislativo fosse contra as leis...

Nem quebrar normas.

O que o sr. está dizendo é que ele foi preso em 28 de junho. Então a Câmara vai conviver com um deputado federal preso... Junho, Julho, Agosto... Daí vai correr o processo...

Em agosto. Eu acredito que pelo prazo. O advogado assumiu sexta-feira [12.jul.2013]. A CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] designou o advogado dativo na sexta-feira. Portanto ele vai ter o seu prazo para apresentar na primeira semana de agosto. Porque quebrar normas, neste caso, atendendo a esse apelo todo... Tá bom. Que se fizéssemos agora... Amanhã, quebra noutra direção. É bom não quebrar.

Eu entendo. É que é muito difícil para um cidadão comum entender. Que uma pessoa condenada a 13 anos de cadeia pelo STF continue a ser deputado... É difícil de entender.

Porque não conhece o regimento da Casa. Muitas vezes, as normas constitucionais.

O cidadão comum diria o seguinte: 'Mas a Casa, então, o Congresso tem de mudar isso aí. Para que quando isso aconteça seja tudo mais rápido?

Aí é outra discussão. É mudança de um regimento, que tentamos algumas vezes e a oposição diz: 'Se vai mudar regimento vão tirar prerrogativa da oposição'. Então, são sempre difíceis essas mudanças. Agora, é importante dizer que é importante obedecer as regras. Porque hoje poderiam obedecer a um clamor popular que não entende essas práticas. Mas amanhã, vão se valer desse mesmo privilégio, de mudar as regras, para algo que não fosse tão defensável. Então, na média, é obedecer ao regimento, obedecer estritamente a Constituição. E na primeira semana de agosto eu espero levar esse processo ao plenário da Câmara, o que vai culminar, formalmente, com a cassação do mandato do parlamentar.

Transparência. Que pede dados sobre, por exemplo, salários de funcionários da Câmara dos Deputados --no Senado também--, recebe os dados. Porém, tem os seus próprios dados [daquele que requereu a informação] informados para os funcionários dos quais as informações foram fornecidas. O Poder Legislativo é o único que tem essa regra. Isso não existe no Executivo nem no Judiciário, no Supremo. O sr. não acha que é um constrangimento para quem quer olhar informações ter os seus próprios dados entregues para as pessoas dos quais os dados foram pesquisados?

Não entendi, Fernando. Poderia explicar melhor?

Se eu entrar no site da Câmara dos Deputados, agora, e quiser verificar o salários de alguns servidores...

Tem o portal, está aberto...

Aberto, porém, para que eu tenha esses dados eu tenho de fornecer o meu nome, endereço, CPF, quem eu sou etc. Esses dados são imediatamente informados para aqueles funcionários dos quais eu olhei o salário. Isso também acontece no Senado. Mas isso não acontece no Poder Executivo nem no Poder Judiciário. Lá, é livre. Você pode olhar os dados e pronto, sem ser constrangido a dizer o seu CPF, nome, endereço. E mais: a ter os seus dados informados para a pessoa de quem você olhou os dados. O sr. não acha que esse procedimento é um constrangimento para quem pede os dados?

É, pode ser um dado inibidor sem justificativa. Eu acho que a identificação de quem está pedindo, para não ser uma coisa irresponsável, você não sabe quais são as intenções, hoje em dia você não sabe porquê. A identificação, pura e simples, eu acho que é importante. Que seja repassado a quem vai fornecer, eu acho que aí, realmente, talvez seja um dado inibidor, constrangedor, porque não teria sentido... Eu vou até examinar essa crítica construtiva para verificar se há lei que talvez não justifique. Eu acho que identificação de quem está solicitando, para não ser uma coisa irresponsável, aleatória, é importante. Mas que quem vai informar saber quem está pedindo, acho que realmente aí é um exagero. Eu vou verificar isso. Acho que é uma crítica construtiva.

O sr. acha que isso poderia ser, no caso da Câmara, extinto esse tipo de procedimento?

É possível. Eu vou verificar isso, porque eu acho que não tem porquê. Volto a dizer: você se identificar: 'eu sou fulano de tal'. Não tem porquê. Se você quer os dados de uma pessoa, não tem porque esconder os seus próprios: 'Eu sou fulano de tal, nome tal, CPF tal e ponto'. A partir daí, aí há um exagero que eu acho que pode ser um dado muito inibidor, constrangedor, procede essa crítica. Eu vou verificar.

Eu não tinha como deixar de perguntar sobre os voos dos jatos da FAB. O sr. usou um avião da FAB, requerer na condição de chefe de um Poder, no caso, da Câmara dos Deputados, 48 vezes neste ano, pelos números que eu tenho aqui. E teve um caso rumoroso que foi quando o sr., de Natal, foi ao Rio de Janeiro, e deu carona para algumas pessoas -se eu não me engano sua noivas, ou seus parentes... E foi ao Rio de Janeiro. O caso foi noticiado e o sr. devolveu R$ 9.700. O que que aconteceu nesse episódio e porque que o sr. devolveu? E esse dinheiro já foi devolvido, esses R$ 9.700?

Veja bem. Eu fui ao Rio de Janeiro porque eu tinha uma agenda e ela aconteceu e eu lhe afirmo, inclusive, documentalmente, com o prefeito Eduardo Paes. Marcamos na sexta-feira e ele marcou essa agenda no sábado. Até disseram que foi num restaurante. Não foi. Foi na sua [de Eduardo Paes] oficial, na Gávea Pequena. E por que essa agenda com ele? Porque na outra semana, que se seguiria, eu sabia que o senador Renan Calheiros [presidente do Senado] queria votar, por exemplo, o passe livre. E estava crescendo na Câmara a questão da CPI da Copa do Mundo.

Eu digo, 'prefeito', por telefone: 'Eu estou preocupado que poder ser que na terça ou na quarta-feira caia, portanto, no colo nosso, da Câmara dos Deputados, a questão do passe livre, que é uma proposta que o Renan queria votar logo, no dia seguinte, e a questão da CPI da Copa do Mundo'. Que eu acho que numa hora dessas, CPI da Copa do Mundo, eu queria ouvi-lo como cidade anfitriã da Copa do Mundo. [E Eduardo Paes]: 'Olha, Henrique, eu quero conversar com você. Eu acho importante. Tenho uma avaliação muito própria e importante para lhe dar'. Então, marcamos sábado às 13h. Tanto que eu fui com esse objetivo.

O avião não foi para me levar para o jogo do Brasil. Essa que é a distorção. O avião me levou para esse compromisso. Aí qual foi, talvez, tenha sido o equívoco? De na hora que eu iria para o Rio de Janeiro, no sábado, aliás, na sexta-feira à noite, como havia disponibilidade de lugares, aí levei pessoas que me acompanharam. Como aí eu identifiquei que isso talvez possa ser um equívoco --a ser discutido, ainda--, preventivamente eu resolvi pagar o valor das passagens comerciais das pessoas que foram e que voltaram comigo. Ponto final. Recolhi o recurso. Agora eu acho que numa boa hora o Ministério Público Federal levantou a questão para apreciar. Vamos antecipar logo. Não vou esperar os 90 dias. Vou informar exatamente o que aconteceu e aguardar serenamente a conclusão de todo o processo.

O sr. acha que o procedimento atual do uso por autoridade de jatinhos da FAB é o melhor ou deve ser melhorado?

Eu acho... Veja... Você citou vários voos que eu faço, também se for verificar é Brasília-Natal, Natal-Brasília. É praticamente isso. Amanhã eu vou à Petrobras no Rio de Janeiro, tenho uma agenda importante. Aí, vou para o Rio de Janeiro. Isso é questão de serviço, que a lei... o decreto que permite, é claro. Não fomos nós que fizemos o decreto. Está lá o decreto. A questão de segurança implícita no decreto também que tem que cumprir. Por exemplo --eu dou um detalhe aqui, Fernando, para concluir--: Eu chego no meu Estado, Natal. Aí tem lá segurança, carta para eu postar, para eu conduzir... Porque eu não uso, praticamente. Eu quero chegar lá, eu pego o meu carro com o meu motorista, vou para a minha residência, aí vêm dois carros me acompanhando com três seguranças, aí eu chego na minha casa, dispenso, digo que eu não preciso, só se for para uma emergência ou outra. Aí, resultado: Queria eliminar isso mas não consigo por ser terceira pessoa na escala da hierarquia da República. Tem que ter segurança obrigatória. Tem que ter a segurança. Eu estou tornando mínima, mas tem que ter a segurança obrigatória.

Sobre o procedimento a respeito de quem viaja junto no avião com autoridades que fazem o requerimento dos jatos. O sr. acha que o nome das pessoas que viajam junto eventualmente deve ser divulgado também?

Eu acho. Por exemplo, muitas vezes eu vou embarcar aqui para Natal numa quinta-feira. A sessão termina 4h da tarde, 5h da tarde, às vezes de madrugada, na quarta à noite... Aí vem um deputado federal, a gente veio de Natal quando? Várias vezes. Aí, toda a manhã, às 4h da tarde, 5h da tarde, 8h da noite, meia-noite, [ele diz] "eu poderia ir com você?" "Tem um lugar. Levo." Muitas vezes a governadora [Rosalba Ciarlini - DEM] estava aqui [e disse] "você volta quando?" "Ah, eu estou embarcando só a meia-noite, 1h da manhã, porque teve uma pauta aqui, eu não pude encerrar isso antes." "Ah, eu poderia ir com você?" "Levo".

Então, muitas vezes acontece isso. Você dá carona a autoridades, prefeitos que às vezes estavam aqui...

Aí, nesse caso, são autoridades. O sr. acha que a carona pode ser estendida também a amigos ou pessoas da família?

Esse é um critério que eu acho que tem que ser estabelecido de maneira clara numa revisão desse decreto, ver se pode ou se não pode. Isso eu acho que tem que ser melhor estudado. O governo está tomando alguma medida em relação a isso. Há um projeto na Câmara que discute isso. Há outro no Senado.

Mas qual que é a sua opinião?

Eu acho que você viajar, de repente, para um compromisso que você tenha e levar a sua mulher, eu acho que não haveria nenhum impedimento. Você, no avião, tem três, quatro cadeiras disponíveis. Não pode, mesmo sendo a sua mulher. Tem que comprar passagem de avião se tem um lugar vago, vazio. Não vai alterar um tostão. Há uma cadeira disponível. Poderia acompanhar, sendo a sua mulher? Eu acho que é um critério que seria muito rigoroso, mas se mudar o decreto, eu quero que tenha transparência. Se diga o que pode e o que não pode. O que é correto e o que é incorreto para que nós não tenhamos dúvidas nem questionamento a esse respeito daqui por diante.

Tem uma notícia no jornal sobre a sua viagem nessa segunda-feira, quando o sr. veio da Natal para Brasília. Nesta semana, o sr. veio com oito passageiros. Nesse caso, os passageiros eram autoridades? Quem eram?

Ah, pergunta boa. Você viu no jornal hoje. Eu fui surpreendido. Eu vim de Natal na segunda-feira às 11h. A hora está correta. Eu saí de Natal, está correto. Veio comigo o deputado estadual Gustavo Fernandes (PMDB-RN). Ponto. Veio o presidente da Câmara e um deputado estadual que vinha para Brasília para uma agenda aqui de ministérios e por seu município. "Henrique, você vai amanhã que horas?" "Vou às 11h." "Tem lugar?" "Tem." Mandei verificar, tem lugar. Ele veio comigo. Veio eu e ele. Eu e ele.

Mais ninguém?

Eu não sei de onde tiraram essa avaliação. Eu acho que foram os seguranças. Tem dois seguranças. Eu não sei que conta esta, mas, de repente, está nos jornais. Eu me surpreendi hoje. 11 passageiros? Viemos eu e ele. Ele de um lado, ele de outro, cadeira vazia na frente, cadeira vazia do outro lado da frente. Os seguranças, que é obrigatório, me acompanham. E ponto. E, de repente, tem uma matéria que 11 passageiros vieram comigo. Vou até apurar isso, esclarecer. Porque, muitas vezes, é a previsão porque, às vezes, pode acontecer. Quando eu venho de Natal, às vezes vem um deputado, vem um secretário de Estado, vem um governador. Então, talvez, essa possibilidade de acontecer eles projetem a uma possível disponibilidade ou não. Mas, na realidade, viemos eu e o deputado estadual Gustavo Fernandes e ponto. E eu estou nos jornais hoje como 11 pessoas, ou 9 pessoas que eu não sei quais foram.

Teve um caso rumoroso recente que indiretamente citou o sr.. Foi noticiado pelos jornais, um assessor seu, Wellington Ferreira da Costa, que foi assaltado em Brasília com uma mala com R$ 100 mil em espécie. O sr. chegou a conversar com ele a respeito desse episódio? Sabe do que se trata?

Lógico, lógico. Conversar, não. Ele prestou queixa. Se fosse algo que não fosse explicável, era só não prestar queixa. Mas ele prestou queixa, inclusive. Foi à delegacia, abriu-se um inquérito policial e eu quero a conclusão desse inquérito para apurar responsabilidades. Eu acho que, a essa altura, o pior já se passou. Acho que esse dinheiro é difícil reaver. Mas eu quero apurar a responsabilidade. Quem foi, por que foi, como foi... É um assunto privado, particular. O dinheiro que era meu, eu tenho até como provar. Por coincidência, eu peguei um empréstimo no Banco do Brasil dois dias antes, mas eu quero é a conclusão do inquérito que está aberto.

O dinheiro pertenceu ao sr. neste caso?

Lógico, é meu.

E do que se tratava? Era um empréstimo que o sr. tinha feito?

Eu fiz um empréstimo no Banco do Brasil. E era R$ 100 mil reais. Dinheiro meu que era conduzido. E o que é estranho é como se sabia que naquele carro, naquela hora, tinha esse dinheiro. Então, eu quero apuração rigorosa dos fatos.

Mas por que o dinheiro estava em espécie nesse caso? Estava transportando em espécie. Não podia ter feito uma transferência bancária?

Poderia. É um direito meu, não é? De realizar um pagamento que eu ia fazer.

Claro, mas, nesse caso, esse pagamento o sr. já divulgou a respeito do que seria, não?

Não. E nem preciso divulgar. Aí é um assunto privado, particular. Se eu vou precisar explicar o que eu vou fazer com o dinheiro que é meu, eu acho que é um pouco de invasão de privacidade. Mas eu quero é que o inquérito policial se encerre que eu quero descobrir como é que isso aconteceu. As causas que levaram, portanto, a essa ocorrência.

Agora, basicamente, o sr. tomou um empréstimo no Banco do Brasil, o dinheiro foi sacado, estava com o Wellington, que é seu assessor, e, aí, foi assaltado. É isso?

Exato, ponto. É assessor meu há mais de 20 anos. Portanto, não há nenhuma desconfiança com uma atitude dele. Mas, como não é um fato normal, uma ocorrência que registrada, foi aberto o inquérito... Volto a dizer, se houver qualquer anomalia... Não é para abrir inquérito, encerra, esqueça, não. Vá, prestes contas, declare, relate o fato. Eu quero apuração. Eu estou aguardando a apuração da polícia.

Muito bem. Deputado Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados, do PMDB do Rio Grande do Norte, muito obrigado por sua presença aqui no estúdio do Grupo Folha.

Eu que agradeço. Eu estava devedor a fazer essa entrevista aqui. Muito obrigado pelo respeito como sempre fomos tratados aqui.


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