Folha de S. Paulo


Leia a transcrição da entrevista de Aloizio Mercadante à Folha e ao UOL - Parte 2

Aloizio Mercadante, ministro da Educação, participou do "Poder e Política", programa da Folha e do UOL conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 10.jun.2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

Leia a transcrição da entrevista de Aloizio Mercadante à Folha e ao UOL - Parte 1

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O que eu tenho ouvido dentro do governo e até dentro do Congresso é que o plebiscito seria a forma de forçar o Congresso a votar uma reforma política.
O plebiscito é uma forma do que o povo tá dizendo. Ele quer ser sujeito da política. Essa é a ideia que o papel do cidadão é votar um dia... Democracia Mistsubishi. Quatro anos depois você vai ver a garantia. Aí você vai lá e vota de novo? Isso aqui não dá mais? Você lembra aquela propaganda da Copa que tinha lá, quatro anos de garantia? Não é mais assim. A sociedade hoje tem muito mais informação, quer mais participação, quer discutir, o Brasil precisa usar mais o plebiscito. Precisa mais de democracia participativa, precisa colocar mais temas na agenda de debate, a sociedade participar, discutir e interferir.

A democracia direta.

É. Por exemplo, eu achei o debate presidencialismo parlamentarismo, em que eu participei. Perdi, inclusive. Perdi dentro do partido e depois não pude participar do plebiscito como eu gostaria. Eu era parlamentarista, ganhou o presidencialismo, perdeu a monarquia parlamentarista e o parlamentarismo. Foi um belo debate da democracia brasileira, por que não retomar isso?

O sr. está falando de mudar a forma de governo?

Não, isso não vai mudar, já teve 2 plebiscitos no Brasil, 63 e recentemente, isso não muda mais.

Mas então qual debate?

O debate sobre financiamento de campanha, sobre o sistema eleitoral, se é proporcional, se é misto, se é distrital, se nós vamos ter coligação ou não, porque qual é o incômodo do eleitor? Ele vota num parlamentar e aí o outro que teve menos voto que o parlamentar dele se elege, isso fere a representatividade, fere o reconhecimento do voto no poder legislativo. O voto aberto, se você é um representante, você tem que ter o voto aberto do ponto de vista de suas decisões, para que o eleitor e a opinião pública discuta o voto que você teve. Pode questionar, critica, bater, mas tem que ter transparência no voto, porque é um voto delegado. Esses princípios que a presidenta colocou que poderia ser o esboço de um plebiscito, a nossa tentativa, do governo, é a iniciativa dela, foi "gente, vamos acabar com esse impasse, não vamos desassociar as instituições políticas da sociedade na rua".

Ministro, todos nós já entendemos isso, mas deixa eu falar uma coisa pro sr. Todos nós já entendemos isso. A presidente queria ampliar o processo de debate sobre a reforma política, propondo um plebiscito... Foi a última... Só que o Congresso disse não... A Câmara disse não. A Câmara praticamente enterrou a proposta para o ano que vem. A Câmara disse que neste ano não dá para fazer um plebiscito para valer em 2014, que era a intenção principal da presidente. A minha pergunta para o sr. a minha e a do Valdo é a seguinte: por que o governo, que tem uma base tão ampla não consegue articular para não sofrer um revés desses?

Primeiro, vamos ver politicamente quem é que vai sofrer revés com essa decisão.

Quem vai?

Eu acho que é o Congresso. O Congresso precisa ouvir a rua.

O Congresso vai ser visto como vilão da história?

Não o vilão. E nem é a intenção nossa...

Mas não parece...

O Congresso...

Ministro, o que parece é que a presidente está dizendo assim: "Lá [apontando para o Congresso] estão os políticos responsáveis..."

Espera um pouquinho. Eu peguei o Fernando Henrique Cardoso [mostrando a reprodução de uma primeira página da Folha, de 1998], poderia ser a iniciativa do presidente Lula, e eu lutei muitos anos dentro do Congresso por reforma política. Então, eu não cheguei agora para falar sobre esse tema. Eu como parlamentar reconhecia que nós tínhamos que reformar. O problema de financiamento de campanha, por exemplo, não pode continuar como está no Brasil. É um dos problemas mais sérios da democracia brasileira. Nós temos de dar transparência...

E se o Congresso não quiser? Como é que faz?

Não, espera. Deixa eu cegar lá. O que que eu acho que o Congresso está... as preocupações... Primeiro há um problema de prazo mesmo. Quando o TSE chegou e falou que precisa de 70 dias para organizar. E o TSE vem e diz assim: anualidade é cláusula pétrea... O tempo político ficou muito curto para você fazer o plebiscito e fazer a reforma. É verdade, isso. Mas de qualquer forma nós podíamos fazer a reforma política, mesmo o plebiscito. Bom, não dá para fazer a reforma toda? Vamos fazer alguma reforma para 2014. Vamos tentar mudar alguma coisa? Eu achei positivo criar uma comissão hoje [10.jul.2013]. Achei positivo. A Câmara chegar e falar: nós vamos montar uma comissão e vamos ver o que é possível fazer.

Já montou várias [comissões]...

...Mas os pontos fundamentais não serão alterados sem a participação popular. Só a participação popular fará uma reforma política profunda no Brasil. Essa é a minha experiência de quem chegou no Congresso...

E se o Congresso se recusar a fazer isso? Erra?

Eu acho que o voto vai cobrar caro...

Como assim?

...Essa recusa.

Vai cobrar caro?

Vai.

Como assim?

Eu acho que vai ter uma renovação forte no Congresso se o Congresso não ouvir esse sentimento que está na rua. Isso eu disse para todos os líderes. É a minha visão pessoal.

O Congresso vai ser...

O tempo vai dizer.

A atitude do Congresso vai ser interpretada como um óbice para essa mudança?

É uma demanda da sociedade absolutamente legítima. Nós precisamos aprimorar as instituições políticas. E a reforma política é um dos pontos centrais da agenda.

Quando sr. fala que a presidente Dilma ela não quer ceder a populismo. A gente queria pedir algum exemplo para o sr.

Exemplo: a questão... Vamos pegar alguns pontos. Nas matérias fiscais. O primeiro ponto do pacto que ela colocou foi a responsabilidade fiscal. Ué, se todo mundo achar que pode resolver todas as demandas imediatas por serviço, aumentando os gastos sem ter a contrapartida da receita, isso vai dar endividamento público e inflação. Nós já sabemos esse caminho. Então, nós precisamos fazer... Atender as demandas dentro da capacidade fiscal do país. Eu hoje [10.jul.2013] com ela [presidente Dilma Rousseff] na marcha dos prefeitos. Ela anunciou uma série de medidas importantes...

Foi vaiada...

Não. Ela foi muito aplaudida de pé durante todo o discurso. Ao final, eles queriam aumento do FPM [Fundo de Participação dos Municípios]. Ela falou: o que eu posso fazer este ano é dar R$ 1,5 bilhão agora, em agosto, e darei mais R$ 1,5 bilhão em abril do ano que vem para o custeio. Estou dando médicos de R$ 10 mil para todos os municípios que precisam. Está aberto edital, você entra e ônus é inteiramente do governo federal. Estou dando três equipamentos: uma pá carregadeira, um caminhão e uma motoniveladora para todos os municípios. O cronograma é esse e vai ser entregue desta forma. Nossa prioridade hoje é o semiárido. Estamos dando caminhão-pipa porque a situação lá é de abastecimento, é absolutamente prioritária para a gente. E foi mostrando todas as medidas, e várias outras que o governo está fazendo. Agora, nós temos uma restrição financeira. O governo está fazendo contenção de despesas. Nós vivemos numa economia mundial em crise. A Europa está em recessão. A China está desacelerando a economia. A economia americana melhorou um pouco, mas é um pouco, não é ainda um crescimento pujante. O Brasil está numa situação de quase pleno emprego, com 5,8% de desemprego, os melhores índices da nossa história.

Mas por que a presidente foi vaiada, ministro?

No final. Eu estava lá... As pessoas: "Queremos fundo. Fundo de Participação dos Municípios. Fundo de Participação dos Municípios. Aí ela falou: "Não tem mágica. Nós temos, eu e vocês, temos restrição. Eu estou fazendo tudo o que eu posso dentro da responsabilidade fiscal que o governo vai ter". Isso é um exemplo. Um exemplo claro... Outro dia um deputado falou assim para mim: "Quando você está lá no Congresso, a galeria está cheia e bateram muita palma? São R$ 2 bilhões. Se bateram palma de pé, você pode botar R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões. Agora, se bateu palma de pé e cantou o Hino Nacional, custa pelo menos R$10 bilhões o que você está votando". Então, é um pouco verdade isso. O Brasil precisa entender que gasto tem que ter receita. Valdo, você não pode criar impostos novos nesta conjuntura. Portanto, para eu criar algum programa novo eu tenho de cortar alguma coisa que eu fazia antes.

Não seria bom reduzir o número de ministérios?

Do ponto de vista fiscal... Isso aí, simbolicamente pode ter alguma importância. Mas do ponto de vista fiscal não tem nenhuma importância.

Mas simbolicamente seria positivo reduzir o número de ministros?

Todo mundo fala: "Por que tem Ministério da Mulher?" Porque havia uma demanda histórica de participação. Quanto custa esse ministério?

Sim, há uma razão política para o presidente Lula ter criado. Mas ainda assim, do ponto de vista simbólico seria um bom exemplo?

Cortar gasto público e como cortar a cabelo. Tem de cortar sempre. Você tem sempre que cortar para aumentar a eficiência. Não há nenhum impacto fiscal importante nessa medida.

... Mas do ponto de vista simbólico, ministro?

Não há nenhum impacto fiscal. Não há. Se você pegar o serviço de um e colocar dentro do outro.

O sr. acha que não adianta nada cortar o número de ministérios?

Não tem nenhum impacto fiscal. Isso aí... O que nós precisamos discutir é coisa mais substantiva. O que nós estamos discutindo aqui são coisas de bilhões de reais.

O governo federal emite sinais para a população. Ainda que seja só sinais, o corte do número de ministérios é um sinal importante. Ou não?

O sinal de austeridade do governo está sendo dado toda hora. Eu estou falando. Esse pactos: responsabilidade fiscal. Nós estamos fazendo uma série de iniciativas dentro dos limites fiscais que o país tem. Na área de educação você acabou de perguntar: o ensino médio não precisa? Precisa. Mas se eu não tiver uma nova receita não terei como fazer. Eu vou aguardar a votação dos royalties. Se aprovarem os royalties, nós podemos fazer um bom programa para o ensino médio. Se o Congresso der 100% dos royalties, 75% dos royalties [para a educação], tratar dessa forma ou daquela, é o tamanho do recurso que eu tenho para fazer o programa.

O sr. prefere não opinar sobre a redução dos ministérios?

Não, Fernando. Eu expliquei para você: não tem nenhum impacto fiscal relevante. Nenhum. Nenhum. Se eu pegar o ministério e puser dentro do outro a despesa é exatamente a mesma.

O ex-presidente Lula sugeriu para ela Dilma essa medida...

Eu nunca vi ele falar isso. E eu falo bastante com ele.

O sr. participou da reunião de ontem [9.jul.2013], entre a presidente Dilma e Lula?

Reunião da presidente Dilma e do presidente Lula, eu não converso e eu não menciono.

Mas o sr. participou?

Eu já disse toda vez que me perguntam sobre isso eu digo pergunte para eles. Se eles disserem se eu estava ou não na reunião e o que eles conversaram, eu estou totalmente de acordo. Eu não falo sobre isso. Vamos mudar o assunto.

A articulação política precisa de alguma mudança?

Precisa.

De qual tipo?

A articulação política do governo precisa ter muito mais a participação dos ministros. Os ministros precisam ter mais presença no Congresso. Dialogar mais com os parlamentares. Receber os parlamentares. Atenderem demanda de parlamentares.

Por que eles não recebem?

Eu não sei se não recebem. Eu estou dizendo... Eu, por exemplo, para votar os royalties [do petróleo]... Daqui a pouco, inclusive, tenho de ir para lá. Eu fiquei a noite inteira no Senado.

Sim, sim... Mas se eles [ministros] precisam receber mais é porque estão recebendo de menos...

Eu fiz reuniões com todos os líderes. Aí os líderes lá elogiaram. Falaram: "Se os ministros fizessem isso ajudaria muito. Vir aqui discutir a proposta e defender suas ideias, convencer a gente ou não. Ajuda muito na relação com o Parlamento".

Então, eu acho que os ministros precisam ter mais aproximação, mais proximidade com os parlamentares. As pessoas precisam entender que se nós estamos no governo é porque eles disputaram a eleição. Por exemplo, emenda parlamentar. Ela é uma dimensão fundamental na vida do parlamentar. Ele precisa chegar na cidade e dizer: "Eu trouxe recursos para esta cidade".

Mas por que o governo não libera?

Está liberando agora. Está liberando. Já está encaminhando a liberação das emendas. Atrasou o Orçamento este ano e atrasou a liberação das emendas. Mas tem que liberar. Eu sou totalmente favorável à emenda desde que sejam em programas prioritários. Em programas prioritários tem de fazer.

Mas atrasou...

Isso foi um problema. Atrasou mesmo. E é um erro político. Tem que respeitar o mandato parlamentar.

O foi um erro político? Não liberar no prazo?

Erro político não é o que você faz, é o que o adversário diz que você fez.

Mas o sr. usou essa expressão...

Eu usei essa expressão pelo seguinte... Como houve atraso na votação do Orçamento, atrasou a execução orçamentária este ano. Isso também implicou num atraso na liberação das emendas. Mas os ministérios estão trabalhando fortemente para poder atender essa expectativa dos parlamentares, que é legítima.

A presidente Dilma Rousseff sofreu uma forte queda na sua popularidade, assim como outros governantes pelo país afora. O marqueteiro João Santana, que fez a campanha de 2010, deu uma declaração dizendo que em quatro meses ela recupera essa popularidade, tudo volta ao normal e ela ainda ganha a reeleição no 1º turno no ano que vem. O sr. concorda?

Olha, eu acho que o João Santana conhece muito de eleição, é um grande especialista nessa área. Tem tido uma carreira brilhante. Elegeu vários presidentes da República no Brasil e fora do Brasil. Eu não sei dizer o prazo. E eleição tem muito chão. Mas eu estou muito confiante na recuperação e muito confiante na nossa vitória eleitoral.

Mas é exequível esse cronograma, de quatro meses...?

Eu não sei te dizer isso. O tempo da política eu não sei te dizer. Meu sentimento é o seguinte: a vida das pessoas não se alterou por causa das mobilizações. As mobilizações têm um impacto psicológico ali, na hora. Eu acho que gerou uma insegurança, principalmente aquele negócio de quebrar coisas, vandalismo, aquilo gerou uma insegurança coletiva. Tanto é que a sociedade falou: olha, isso aí não dá desse jeito, não quero isso. E o governo foi muito firme. Por exemplo, aquela mobilização dos caminhoneiros, a presidente [Dilma] falou: isso aqui não tem negociação. É inaceitável bloquear estradas. A Polícia Federal vai entrar, vai processar, vai identificar e vai responsabilizar.

Faltou a mesma autoridade que houve para enfrentar os caminhoneiros na época das outras manifestações com os baderneiros?

Não... Os baderneiros era uma coisa difícil de você atuar, para a polícia. A polícia é estadual né? A responsabilidade é da polícia estadual, não é do governo federal. Mas você tinha uma manifestação, quando escurecia tinha um grupo organizado pra depredar. Tentaram incendiar o Palácio do Itamaraty, é uma coisa inacreditável alguém assistir aquilo pela televisão, o que que isso constrói? Não pode ter nenhuma legitimidade com a violência, não pode ter nenhuma conivência.

Agora, mais de 100 pessoas foram presas, foram identificadas, estão sendo processadas, e há uma investigação em curso para identificar esses grupos. Em alguns casos, você via que a manifestação tinha um objetivo e de repente tem um pequeno grupo que tenta conduzir para uma outra direção. E é difícil para a polícia agir nessas circunstâncias. Mas eu acho que ela agiu com maturidade, sem violência, nas principais manifestações. Não no começo, acho que lá naquele episódio na Avenida Paulista foi um erro a atitude da polícia, que desencadeou um movimento muito amplo. Houve uma violência fora e incompreensível naquele momento. Talvez por causa da violência dos manifestantes do dia anterior a polícia foi muito violenta. Mas depois, não, a polícia buscou atuar com competência, com responsabilidade, tentando preservar os manifestantes, como uma coisa da democracia.

Se a presidente continuar perdendo [popularidade]...

Valdo, posso falar sinceramente? Todos os políticos tiveram uma queda, todos que nós conversamos, que fizeram pesquisa ou as que vocês fizeram, ou qualquer outro instituto fez, demonstrou o mesmo fenômeno. Eu acho que é um problema político-psicológico circunstancial. Não acho que é um episódio que tenha impacto duradouro. A presidenta... Não há nada no governo dela que tenha se alterado nesse período, nós já fizemos muito e estamos fazendo mais.

Mas eu só quero falar sobre o volta-Lula. Dentro do seu partido tem muita gente dizendo que se ela continuar caindo, se ela continuar numa situação difícil, que vai ter o volta-Lula.

Eu não discuto essa hipótese porque eu acho que ela não só vai se recuperar como nós vamos vencer as eleições. A oposição não conseguiu crescer nessas eleições. Nesse processo. Não conseguiu eleitoralmente. Nenhuma liderança da oposição conseguiu se firmar. Ao contrário, quem respondeu, quem dialogou, quem teve iniciativa, quem recebeu os manifestantes, as centrais sindicais, movimentos sociais, a juventude, movimento do campo, povos indígenas, a LGBT, foi a presidenta Dilma. Quem dialogou, teve iniciativa, teve pauta, e vai entregar, está entregando a agenda do Congresso, como a questão do combate à corrupção, Ficha Limpa, está entregando, teve redução na tarifa, aumentou o subsídio do transporte para melhorar, está lançando o programa de mobilidade, tá lançando um programa de investimentos, R$ 50 bilhões de mobilidade, que vai ser um programa novo de grande impacto, fez um programa fortíssimo na saúde, quebrando tabus, abrindo um grande debate para melhorar a oferta de médicos no país, a infraestrutura da medicina, aprovando os royalties do petróleo, quer dizer, a agenda que ela propôs do pacto, nós estamos implantando. Essa energia da rua trouxe avanços para o Brasil que ela soube dialogar e incorporar e encaminhar, por isso ela sairá fortalecida desse processo, como liderança, com estabilidade do país, como coragem politica, como disposição de negociação, como [Manuel] Castells diz. No mundo, nenhum presidente agiu como ela. E isso talvez até faça a diferença pro futuro, diante de mobilizações como essa.

O sr. teme uma candidatura do Joaquim Barbosa?

Absolutamente democrático, que todos sejam candidatos, que acharem que têm condições, e dispute a eleição. Acho absolutamente democrático qualquer um que ache que tenha condições de disputar eleição. O que eu tenho convicção é que nós temos 10 anos de história nesse país de estabilidade econômica, de avanço da democracia, a maior distribuição de renda da história do Brasil, os maiores avanços sociais da história do Brasil, e estamos vivendo grandes avanços da democracia do Brasil. E isso tudo tem nome, sabe como chama? Dilma.

Falando em estabilidade econômica hoje nós temos reunião do Copom e tudo indica que o Banco Central vá subir pra 8,5% os juros, o senhor acha que tem que subir tudo isso?

Eu gostei muito de uma frase de uma matéria que você escreveu que falava assim. Tem gente plantando tomate e colhendo juros. Achei muito inteligente.

Usando a saída do Guido como adubo...

Usando a saída do Guido como adubo. Eu acho que tivemos, acho que teve uma pressão muito forte, a inflação está 0,26%, caindo nesse segundo semestre, e o Banco Central vai avaliar, ele tem todas as informações e autonomia operacional para decidir sobre juros.

O Banco Central não demorou a reduzir os juros lá atrás?

Não, acho que não, nós tivemos um choque externo de oferta, por isso que há o sistema de bandas. O que tivemos foi uma deterioração de expectativas, porque houve muita pressão pela inflação. Tivemos muitos jornais importantes, televisivos, falando de inflação, houve uma deterioração de expectativas. Acho que o Banco Central atuou, a inflação está caindo, o problema do mundo e do Brasil não é inflação, o problema do mundo é crescimento.

Até quando o sr. acha os juros vão subir?

Sobre isso eu não opino.

O governo tomou muitas medidas para reaquecer a economia, mas por conta de vários fatores o crescimento não foi o esperado. Poderia ter tomado mais medidas?

Você viu o relatório do FMI, já é o quinto rebaixamento de previsão de crescimento no mundo neste ano. Então, é uma conjuntura internacional muito complexa. O que é importante é nós entendermos primeiro que é um cenário internacional difícil e que o Brasil vem atravessando, preservando o que é essencial, o emprego. Somos o país que mais gerou empregos nos últimos cinco anos de crise, que melhor teve desempenho de taxa de desemprego na economia mundial, que é o relatório do FMI. É o país que teve melhor desempenho no emprego, isso está mantendo a renda da população, que é outra coisa fundamental. O Brasil é um dos poucos países no mundo que está melhorando a distribuição de renda, diminuindo a desigualdade. Mantivemos as políticas sociais. E, mesmo nessa crise, essa mobilização está exigindo mais dos homens públicos, mais competência, mais eficiência, mais iniciativa, mais resposta. Agora, isso tem de ser feito como a presidente Dilma vem defendendo, com responsabilidade fiscal. Não podemos entrar numa visão que tudo pode ser atendido num curto espaço de tempo sem olhar de onde vêm os recursos, quem paga essa conta, ou então quem vai pagar é a inflação ou imposto.

Está certo que parte da queda do crescimento se deve ao cenário internacional, mas outra parte é devido à queda do investimento no país. Os empresários reduziram investimento porque criticam o intervencionismo da presidente Dilma.

Eu vi esse discurso. Então vamos pegar esse discurso. Se você falar o seguinte: o governo, quando reduziu a taxa de juros de 27% para 7%, tirou proporcionalmente de 2003 para cá R$ 163 bilhões de juros da economia. O governo deixou de pagar e alguém deixou de ganhar. Então, a economia estava acomodada a viver com juros altos, é uma transição difícil, perdeu o lucro financeiro das empresas e das famílias. Só neste ano foram mais ou menos R$ 40 bilhões a menos de pagamento de juros. Aí tem uma acomodação difícil. Na questão da energia, qual a crítica, a presidente interveio. Não, ela respeitou os contratos. Os contratos estavam vencendo de concessão e ela falou: quem quiser renovar o contrato antecipe e dê desconto de energia. Por que ela disse que tinha de descontar de 18% a 32% de energia? Porque um dos países que está se recuperando, os Estados Unidos reduziu o preço do gás de US$13 para US$3, US$4, esse é o grande instrumento de aumento de competitividade da economia americana. Então, ela falou: temos de reduzir o custo de energia, se já amortizou o custo de energia, tem de reduzir a tarifa para distribuir com a indústria e consumidor. Isso prejudicou alguns investidores? Prejudicou. Mas você acha que deveríamos reajustar como fizeram com os contratos de pedágio, sem reduzir a tarifa? Não. Isso ela fez dentro do respeito ao contrato. Ela repartiu com o consumidor, com as famílias e com as empresas a redução do custo da energia. Depois veio a questão dos portos, disseram que ela foi muito intervencionista. Nós tínhamos um comércio de US$ 100 bilhões a oito anos e agora temos um comércio de quase US$ 500 bilhões. Os custos portuários do Brasil estão elevadíssimos, não tem como sermos competitivos sem reduzir o custo do porto. O que ela fez? Abriu os portos, o país que tem um litoral deste tamanho não tem que abrir o investimento para os portos? Só esta semana foram anunciados R$ 11,5 bilhões de investimento nos portos brasileiros porque mudou o marco regulatório, foi uma disputa duríssima por causa dos interesses consolidados nos portos, mas é uma uma abertura para eficiência, para o investimento, é uma intervenção que abre outras oportunidades para a economia. Se você pegar as principais medidas que a presidente tomou sempre foram marcadas pelo espírito público, pelo interesse coletivo, para aumentar a competitividade e a eficiência da economia brasileira.

O sr. falou que a presidente vai se recuperar e se reeleger.

É a minha convicção profunda, é o melhor projeto para o Brasil.

Duas perguntas objetivas. Ela tem condições de se reeleger no primeiro turno e reunir uma aliança, como em 2010, com dez partidos na coligação? Pode repetir esse número ou até ampliar?

Eu acho que temos. Em todas as conversas com todos os partidos, temos algumas dificuldades no parlamento, mas fomos muito bem em termos de aliança para 2014. Todo mundo vê na presidente Dilma um grande projeto de continuidade das mudanças no Brasil e uma grande perspectiva eleitoral. E não só as pesquisas, porque o Datafolha não publicou o segundo turno.

Não fez pesquisa de segundo turno.

Mas daria Dilma disparado. Na minha opinião, não há ainda nenhuma candidatura... Hoje, por exemplo, se você pegar na última eleição de 2010, o candidato da oposição, na época José Serra, neste período ele tinha 35% da intenção de voto. Não tem nada próximo a isso na oposição, há uma dispersão, e nenhuma candidatura conseguiu ampliar em termos de aliança, não estão conseguindo ampliar em termos de aliança, não estão conseguindo construir palanques estaduais fortes e não conseguiram crescer apresentando alternativas ao Brasil. Quais foram as ideias que foram debatidas no Brasil nesta crise? Me diga uma ideia da oposição. Eu vi uma hoje: acabar com a reeleição, que não fomos nós que construímos. E o povo votou a favor da reeleição, Fernando Henrique se reelegeu, Lula se reelegeu, vários governadores se reelegeram. Não vi uma intervenção, não que a oposição não tenha ideia, [digo] projetos marcantes, ideias generosas, ousadas, alternativa da politica econômica, alternativa de políticas sociais, uma alternativa para as reformas políticas do país. A agenda do país é a agenda da presidente Dilma, uma agenda ousada, corajosa, que está permitindo o Brasil manter o emprego, crescer, distribuir renda, manter a democracia, realizar as metas de redução e é por isso que o país é essa referência internacional.

O sr. diz então que a situação é mais confortável do que 2010?

Seguramente é mais confortável. A presidente Dilma, em 2009, ela não existia nas pesquisas, ela era o que vocês diziam, traço, não tinha chance nenhuma, não tinha vocação para política. Leiam tudo o que foi escrito no período, não tinha a menor chance de se eleger, era uma aventura, e ganhou. Hoje ela tem história, realizações destes dez anos para mostrar e, na hora que começa a campanha, ganha quem tem café no bule, quem tem argumento, que tem o que mostrar o que fez para o país. E na narrativa deste período também vai ficar registrado que quem teve iniciativa, apresentou uma agenda, quem apresentou avanços para o país é a presidente Dilma. Foi ela que dirigiu o país com segurança, firmeza e espírito democrático.

Ela tem condições de vencer no primeiro turno e com dez partidos?

Tem. Eu acho que tem. Seguramente a aliança vai estar em torno disso. Vai ser mais forte do que foi na última eleição. A aliança nacional, hoje eu vejo com mais chances de se ampliar, em torno disso, depende mais da qualidade do que do número de partidos. Mas os principais partidos do país, que são da base de sustentação do governo, estarão com a presidente. Nos Estados vamos ter de ter mais de um palanque.

E no primeiro ou segundo turno?

Temos chances de vencer no primeiro turno. Apesar de que, em todas as eleições presidenciais nossas, nós vencemos no segundo turno. Temos de nos preparar para o segundo e trabalhar para ganhar no primeiro. E o João Santana é um grande estrategista.

*O governador Eduardo Campos, do PSB, da base de apoio da presidente Dilma, sinaliza que pode não deixar a aliança e ser candidato. Essa é uma baixa já certa? *
Não, ele não definiu ainda que será candidato. É uma liderança nova, que tem futuro político, é absolutamente legítimo se ele quiser ser candidato, nós estamos preparados para a disputa eleitoral. E, se você olhar as grandes realizações do governo dele, tem muito a ver com o presidente Lula e com a presidente Dilma. O porto de Suape, a ferrovia Transnordestina, a duplicação da rodovia, o polo petroquímico, a fábrica de hemoderivados, a ida da fábrica da Fiat e o polo automotivo, todas essas grandes realizações do governo são projetos estruturantes do governo federal. Então, essa aliança com o governo federal foi muito importante. Já em 89, eu me lembro que eu ia com o presidente Lula fazer aliança com o Miguel Arraes. Quando ele tomou posse em 1961, como governador, eu até já citei essa frase numa entrevista ao jornal Valor, ele fala assim: É muito importante manter a unidade e a aliança do campo popular. Que a nossa divisão sempre levou a um retrocesso político e atraso na história do Brasil.
Então o sr. acha que ele deveria ficar na aliança da presidente Dilma?

Evidente que ele sempre será sempre muito bem recebido no campo de alianças, mas se ele quiser sair vamos respeitar e é um direito legítimo e democrático. Será sempre bem recebido o PSB na nossa aliança.

Quem é o principal adversário da presidente Dilma?

Olhando para as últimas eleições, o partido mais estruturado no país é o PSDB, tem mais governadores, tem mais base social, tem base econômica. A dificuldade deles é comparar os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso com os dez anos de Lula e Dilma. Essa é a grande dificuldade eleitoral, eles perderam base social e política no país. Mas ainda é o partido com maior inserção e maior capacidade de aliança e maior potencial eleitoral.

O sr. enxerga a possibilidade de uma terceira via, fora da disputa entre PT e PSDB?

Hoje eu não vejo ainda nenhuma candidatura fora dessa alternância de poder com chances reais de construir uma aliança e se viabilizar eleitoralmente. Agora, eleição é uma eleição, vamos esperar. Hoje eu diria que o projeto hegemônico na sociedade, majoritário na aliança política, que vai ter os melhores palanques estaduais, que tem mais história para mostrar, indicadores e realizações é o governo da presidente Dilma. Quem vai ser o adversário? Se me perguntar hoje, a candidatura mais estruturada ainda é a do PSDB.

E a hipótese do volta-Lula?

O presidente Lula pode ser candidato a qualquer coisa depois de tudo que ele fez pelo país. Mas ele tem um profundo carinho, respeito e compromisso com o governo da presidente Dilma. E o candidato de Dilma é Lula. Todas as tentativas de separar os dois fracassarão.

O candidato de Dilma é Lula? Tem um erro aí? Foi o que o sr. falou.

E o candidato de Lula é Dilma. E vice-versa. E nessa eleição o candidato de Lula é Dilma. Ali é uma coisa só. O povo vê os dois como uma coisa só. É uma instituição só. Se ter um presidente só era muito bom, agora ter dois é melhor ainda, essa é a leitura do povo brasileiro.

Significa então que, se não der para ir de Dilma, vocês vão de Lula?

Não, nós temos uma candidata que é Dilma, mas temos o presidente Lula que é uma âncora, uma referência popular, um cabo eleitoral extraordinário, articulador político, comunicador social, tem uma história belíssima. Que é outra grande alavanca para candidatura da presidente Dilma. E é isso que vai acontecer. A candidata é Dilma e terá o apoio incondicional do presidente Lula, como tem tido em todo seu governo.

Ministro Aloizio Mercadante, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.

Obrigado a vocês.


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