Folha de S. Paulo


Leia a transcrição da entrevista de Duda Mendonça à Folha e ao UOL - Parte 2

Duda Mendonça, publicitário, participou do "Poder e Política", programa da Folha e do UOL conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu no dia 12 de junho de 2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

Leia a transcrição da entrevista de Duda Mendonça à Folha e ao UOL - Parte 1

http://www3.uol.com.br/module/playlist-videos/2013/trechos-da-entrevista-com-duda-mendonca-1371253303943.js

A presidente Dilma Rousseff está cuidando bem de sua imagem? Da imagem dela?
Acho que está. É uma situação que, para mim, é desconfortável falar. Eu acho o trabalho dela está [bem]. Agora, até que ponto isso é... O João [Santana] pode dizer ou fazer... Porque tem muito do seguinte: a imagem do marqueteiro é muito ampliada. Então, você pode dar conselhos e o presidente, ou governador, ou o político aceita alguns ou não aceita. Existem alguns que aceitam mais. Outros são mais cabeça-dura. Eu acho que a presidente Dilma é uma pessoa quem tem pulso firme. Então, eu, pelo que conheço dela, deve aceitar alguns e não aceitar outros. Então, você não pode nem dar o mérito inteiro do seu trabalho ao marqueteiro, mas também não dar à ele o ônus.

O PT, recentemente, em abril, fez muitas propagandas na televisão que foram assinadas pelo marqueteiro João Santana. E, ali, foi usada massivamente a imagem da presidente Dilma e do ex-presidente Lula. Como estratégia, [foi] correta?
Veja, ele deve ter informações. O João é um bom profissional. Deve ter informações que levaram ele a fazer isso. É difícil você saber não estando do lado de lá.

Mas, pela sua experiência, olhando a conjuntura, achou que foram eficazes os comerciais?
É difícil você dizer isso. Porque o que é eficaz? Eficaz é dar resultado.

Você gostou?
A propaganda não é feita para se gostar. Ela é importante para ter eficiência.

Ainda assim, você gostou?
Eu achei que ela cumpriu uma finalidade. Na medida em que junta dois ícones fortes e um governo popular, ela reforça a imagem dos dois.

Com a sua intuição, o que você faria se tivesse que fazer alguma coisa?
Ah, meu amigo, isso é difícil. É difícil porque não é adivinhação e não é intuição. Eu acho que, assim, a minha linha é emoção. Eu acredito que a eleição passa por uma dose muito grande de emoção. A escolha é como uma compra de uma casa. É como um casamento de um filho. É uma coisa que mexe muito com as pessoas. E é aí que a televisão ganha de importância. Qualquer comunicação... Porque, veja bem, tem uma coisa que as pessoas precisam entender. Existe forma e existe conteúdo. Na verdade, a forma é feita para ampliar a força do conteúdo. Então, a primeira cosia que você precisa ter é conteúdo. Se você não tem, não faz mágica, não tem forma. Mas, na medida em que você tem um bom conteúdo, você, na televisão, o trabalho de emoção, de você criar uma embalagem que valorize aquilo é muito importante.

Está faltando emoção no marketing da presidente?
Duda Mendonça: Não. Não estou dizendo isso. Estou dizendo que a minha linha é emoção. Em muitas campanhas se usa muito a razão e outras usam a emoção. Eu acho que não tem certo e errado. Quer ver outra coisa que eu acho que é um equívoco? Eu comecei, há muito tempo atrás, a fazer as pesquisas qualitativas. E é uma ilusão. Como se a pesquisa qualitativa fosse capaz de lhe dar o mapa da mina. Você a seguia e você botava lá e dava certo. Não é verdade. As pessoas não sabem o que não querem... Elas não sabem o que querem. Elas sabem o que não querem. Então, você pega uma campanha média - média, feijão com arroz - e botar em um grupo, as pessoas gostam dela. Não incomoda, não tem nada ali. Mas uma outra seria capaz de alavancar muito mais. Não foi mostrada ela.
E outra coisa mais importante. Nem sempre a campanha que vai funcionar muito, na hora que você mostra a primeira vez, as pessoas aceitam ou concordam. Eu me lembro da campanha de Maluf, a que eu fiz do coração. Eu fiz um teste de grupo e levou bomba. E eu não entendia por que. Eu tinha feito uma campanha anos atrás, na Bahia, do ex-prefeito [de Salvador] da época, Mário Kertész, e o símbolo era um coração. E que [foi] uma emoção muito grande. Deu música. Aí foi um contágio maravilhoso. Eu achava que o Maluf precisava de um pouco de emoção.

Isso em 1990?
Em 90. Conversamos até antes de entrar aqui. Naquele tempo, a gente se encontrou pela primeira vez.
Mas, assim, ele é muito racional. Muito frio. Então, eu achei que precisava de alguma coisa para dar uma dosagem de emoção. E quando eu testei no grupo, as pessoas: "Não, isso não é Maluf. Um coração? Isso aqui em São Paulo? Um coração é a Lopes". Que tem uma construtora que tem um coração que pulsa [como logomarca] em São Paulo. E eu fiquei com aquilo na cabeça. Depois, disse: "Sabe do mais? Eu vou correr o risco". E peguei. Larguei a pesquisa e botei no ar. Um mês depois, o mesmo grupo de eleitores, o mesmo formato de grupo, não eram as mesmas pessoas, estavam adorando a campanha.
Então, eu aprendi uma lição. Quer dizer, você, às vezes, tem que contrariar algumas tendências para poder aparecer. E eu acho que, às vezes, as campanhas ficam muito mesmice, dizendo as mesmas coisas. Entendeu? E, aí, não há aparece. Se a pessoa já não era uma pessoa muito... [Se a pessoa] já é uma imagem conhecida com discurso conhecido e previsível, nada acontece. Eu acho que a boa comunicação em televisão, quando desliga, ela fica na cabeça. Ela tem uma obrigação de deixar alguma coisa que mexa com você. "Será isso"? É como eu estava conversando já com alguns políticos e eles diziam assim: "Mas o que é que você vai fazer? O que você quer desse comercial"? Eu quero somente que a pessoa, quando acabar de assistir, diga assim: "Gostei desse cara". Pronto. O "gostei desse cara" traduz tudo o que eu quero. Não precisa dizer: "Não, ele fala bem"... Isso tudo, assim: "O plano de governo dele é bom. Ele é simpático. Ele fala"... Não. Para que ele dissesse "eu gostei", acabou-se. As pessoas não sabem dizer "a fotografia está bonita", "o paletó dele está bom", "ele tem um plano de governo bom". Não. As pessoas, simplesmente, começam a criar uma empatia. A simpatia vai se ampliando.
E, aí, vem uma coisa. O que é o sentimento mais perfeito? Eu acho que a admiração. Porque a admiração agrega coisas que você nem sabe. Se você discute o Ayrton Senna e dissesse: "Você acha que ele era bom filho"? Seguramente, ah, ele deve ser. Era um cara tão legal. Será que ele era um bom marido? Você nem sabe. Podia até bater na mulher. Mas, "ah, ele era um cara tão legal, tão simpático". [A admiração] é um sentimento maravilhoso. Então, eu acho que quando você consegue conquistar essa imagem, isso é extremamente poderoso.

A admiração?
A admiração. Para mim, esse é o sentimento mais forte que existe.

Como é que estão os seus negócios no exterior? Você disse tem negócios na Polônia...
Em Portugal e Polônia.

... E em Portugal. E no Brasil? Me conta o que você tem feito? Quais são os seus negócios no momento?
No momento, eu tenho uma Duda Propaganda que, agora, eu fiz uma aliança com a Black Ninja, do [Antonio] Lavareda] e do Benjinha [Benjamin Azevedo], e estamos agora fechando. E cria para a gente várias unidades. Não só em São Paulo, como no Maranhão, como em Recife. E cresce. Porque, para mim, agora, está no momento de dividir um pouco, sabe? O peso está muito grande. No lado de Marketing político, não sei.

Na Polônia, o que é que você tem?
Propaganda. Na Polônia e em Portugal. É uma história engraçada. Eu fui para Portugal quando a coisa aqui ficou meio ruim para mim. Na verdade, ninguém queria dar uma conta à um marqueteiro que estrava em um processo. Não é? Então, a gente sofreu muito. O faturamento da empresa veio muito [abaixo]. Eu espero agora que as pessoas digam assim: "O Duda foi absolvido e"... Sabe? Acho que eu mereço. Sabe? Uma conta de uma empresa ou de outra que eu tinha e perdi muitas. Aí eu digo assim: "Bom, eu confio no meu taco. Eu vou á luta".

É uma rede de supermercados, não é isso?
Em Portugal, o Pingo Doce.

O Pingo Doce?
É a segunda maior rede de supermercado. É um grupo fortíssimo com 350 lojas. E nós chegamos lá, fizemos um projeto ousado, que era pagar os nossos custos e ganhar no aumento da renda. O cliente ficou contente. A gente foi ousado e deu certo. Então a gente está lá acho que há quatro ou cinco anos. E depois daí, mesmo com toda dificuldade que Portugal atravessa recentemente, tem sido um bom negócio para o cliente e um bom negócio para a gente. Fizemos um nome em Portugal. Ganhamos prêmios, eu fui o publicitário do ano. E depois eles perguntaram: "Dá para você criar isso na Polônia"? Eles têm 2.500 lojas. É o maior grupo privado da Polônia. E a Polônia está em um momento crescente.

Supermercados também?
Supermercados também. E, aí, foi uma loucura. Porque, você pensa, [eu sou] baiano, não sei falar polonês. Criar música e criar uma campanha de varejo, que é uma campanha popular, na Polônia. E a gente deu conta do recado. Quando o cliente perguntou: "Duda, você acha que você não dá conta? A sua turma da conta"? Eu disse: "Eu não sei. Vamos tentar". E, aí, tentamos. Estamos lá já há dois anos. Bem. Graças à Deus, cada dia melhor.

E, aqui no Brasil, tem essa operação agora com o Lavareda e a Black Ninja?
A Black Ninja. E o marketing político com uma interrogação.

Entendi. Eu estava antes sobre a imagem da presidente Dilma. Ela tem sido cuidada, assim como foi cuidada já o final do mandato do presidente Lula, pelo marqueteiro João Santana, que trabalhou com você no passado. O João Santana elegeu Lula, não é? Participou em 2006. 2010 com Dilma. Elegeu vários presidentes no exterior. Participou em El Salvador, República Dominicana, Angola e Venezuela recentemente. O João Santana é hoje o marqueteiro mais bem sucedido da história recente?
Você que julgue [risos]. Eu não. Eu fiz o meu trabalho. O João é um cara competente. Sem dúvida. Temos estilos diferentes. Eu lhe diria que o João é muito bom no conteúdo. Eu acho que eu sou muito bom na transformação do conteúdo e forma. Por quê? Porque a minha coisa é televisão. Eu sou publicitário. Então, acho que o trabalho que nós fizemos juntos vários anos foi muito bom porque era o efeito complementar. Mas acho que ele é um bom publicitário. Inegavelmente, ele teve sucesso. E como é que você mede isso? É o sucesso. Eu fiz o meu trabalho. Grandes vitórias, difíceis.

Teve uma eleição recente da qual o João foi o publicitário, que foi a eleição do prefeito de São Paulo atual, Fernando Haddad. Em dado momento, acreditava-se que havia algum ruído na comunicação. Mas, no final, acabou dando certo. Ele foi eleito prefeito de São Paulo. O sr. acha que, com algum ajuste na comunicação, poderia ter sido mais fácil?
Eu acho que sempre acontece isso. Se não ganha: "Ah, a culpa é da comunicação". E quando ganha, o mérito é do candidato. Eu fiz um livro que eu comecei a escrever e o título era "Nem príncipe, nem sapo". Porque eu achava que quando a gente ganhava a campanha, a gente era gênio. Quando perdia uma, era charlatão. Acabou mudando. Eu acabei virando esse livro, e comecei a falar da minha vida e dei para o Washington Olivetto e várias pessoas para ler. E gostavam muito dos textos, que eu contava a minha vida, sobre a relação com o meu pai e meus filhos. Então, acabou virando "Casos e coisas", que teve um sucesso e eu falo das duas coisas. Mas eu quero dizer que a própria mídia endeusou, durante muito tempo, muito o marqueteiro. Então, as pessoas acham que tem gênio. Não é gênio. É um trabalho técnico que você tem certas...

Mas, nesse caso específico da eleição para prefeito de São Paulo, houve algum ruído ali, na comunicação? O sr. acha que poderia ter...
Eu não acompanhei a eleição, mas não acredito que não. Eu acho que a campanha tem altos e baixos. Quando eu fiz a campanha do Lula, a primeira campanha do Lula que eu fiz, onde ele foi eleito...

Em 2002.
É. A gente tinha mais ou menos 30% que queriam votar em Lula, e mais ou menos 30% que não queriam e 30% que estava na dúvida e sempre tinha medo. Então, assim, durante um tempo, a gente entendeu que a rota era quem não votava, não ia votar. Quem votava ia continuar votando. Era tentar levar logo essa disputa para o segundo turno fortalecendo aquele núcleo dos que tinham vontade de votar, mas tinham medo. Bom, isso não funciona de um dia para o outro. E, dentro do próprio PT, houve momentos que disseram: "Será que isso está dando certo"? Porque ele vinha em uma linha horizontal, não é? De repente, deu uma subida. Então, é sempre. Quando a gente discutiu... O Lula ia para o debate, o PT, na época, não queria que o Lula fosse para o debate. E eu disse: "Meu Deus, se [há] um ponto que as pessoas acham que o Lula não tem preparo para ser presidente da República, como é que ele não pode ir a um debate"? Porque, no outro debate, ele com Fernando Collor, ele tinha chegado de Brasília, cansado, chegou em casa, foi [para o debate] inteiramente despreparado, sem a cabeça. Porque é importante em um debate que se pare dois dias para botar a cabeça no lugar. E chegou em um dia lá na reunião, eu vi o Lula discutindo sobre política econômica com o [Aloísio] Mercadante e com o [Antonio] Palocci. Eu me assustei. [Pensei]: "Rapaz, se isso for gravado aqui e botar no ar, ninguém espera". Eu me assustei com o Lula discutindo política econômica com eles dois. Ele ia para um debate com o [José] Serra e podemos perguntar para o Serra sobre política econômica. Aí, teve gente do PT que disse: "Mas, pera aí. Aí o Serra vai sair muito bem". Pois eu disse: "É a obrigação do Serra. Agora, o Lula é que vai surpreender por ter a ousadia de discutir com o Serra". E deu certo. Foi para o debate, discutiu, basicamente, grande parte do debate sobre política econômica. Não dá para você enganar. Ali não dá para fazer pegadinha. Todo mundo tem uma discussão de nível. E o Lula se fortaleceu com aquilo.

Por falar nisso, eleições em geral, quando nenhum dos candidatos está disputando a reeleição, em geral, há mais debates. Quando um está disputando a reeleição, o debate fica mais escasso. Em 2014 há um caso desses. A presidente da República disputa a reeleição. A tendência é haver menos debates ou nenhum debate no primeiro turno. Isso prejudica quem disputa a eleição? Ou não?
Veja, eu tenho uma visão diferenciada. Eu acho que se fala muito em diminuir a força do dinheiro nas eleições, não é? O candidato que tem mais dinheiro tem mais chance de ganhar do que o candidato que tem menos dinheiro. A origem de recursos e tudo isso. Então, eu digo assim: A força grande é televisão. Bom, por que não fazemos assim? Debates com temas transmitidos por um pool de televisão. Então, o candidato vai ter que alugar um paletó ou tomar emprestado e ter uma pessoa que assessore ele no que diz respeito a vídeo e posição de câmera, algumas coisas, mas não dá para maquiar um cara. Não dá para pegar ele e modificar para ele suportar um debate de uma hora, duas horas com outros candidatos de nível.
Então, eu acho que, aí, imagine que tivesse um debate por semana sobre um tema. Vamos discutir saúde. Vamos deixar um bloco pequeno para também o bate-boca se não fica muito sem graça. Eu acho que os debates... As formas estão muito enjauladas. Todo mundo vai buscando segurança do seu candidato. Eu também fiz isso durante muito tempo. E, na medida que você vai buscando a segurança, e a televisão vai fazendo concessões, aquilo vai ficando enjaulado a um ponto que quase ninguém pode sair dali. E fica uma coisa chata. O horário também. O povo não assiste o horário de uma televisão, onde entre um debate às 11 horas, meia noite. Isso devia ser 8 horas. Imagine um pool de debate às 8 horas da noite?

Mas isso não vai acontecer, infelizmente. A gente sabe.
Mas por que não vai acontecer?

Não vai acontecer, primeiro, porque não tem uma lei que trate disso, a lei impede. Segundo, porque a maioria dos candidatos vai sair por alto.
Então, na verdade, assim, todo mundo...

Considerando-se o fato...
Mas ninguém quer outra solução.

Pois é. Mas eu acho que, aí, o bom senso leva a isso. Mas, enfim, dado o fato de que a lei vai obrigar a ter um debate engessado e um debate no primeiro turno, em geral, tem vários candidatos de oposição e um de situação, o de situação prefere, muitas vezes, não ir. A presidente Dilma, no ano que vem, deveria ir á debates? Ou não, talvez?
Sabe, isso é uma coisa difícil de você... Depende muito da posição. Depende muito dela. Depende muito do momento político. Se há necessidade. Veja bem, você em uma posição de liderança... O bom senso diz que você não vai correr risco a toa. E o debate é um risco. Então, se você olhar... O debate é, realmente, um momento onde uma derrapagem... Porque o debate é um show. Não se engane que o debate é uma troca de posições, mas, por exemplo, não é somente o que se diz que é importante. É o jeito que você diz. O formato que você chega, se coloca. Entendeu? Então, tudo isso é, no final, um frase que você dá, de efeito. É o que fica para o debate inteiro.
Então, se você está em um momento onde você está muito bem, em tese, é desaconselhável você ir. Mas, se você tem o que dizer, se o momento não é muito bom ou se você acha que... Isso é uma coisa de técnico de futebol. Até nos bastidores, antes de o time entrar em campo, depende muito do adversário.

Você está fazendo campanha ou cuidando da conta de publicidade da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] no momento? O que é esse contrato? Explique para mim.
*Veja, eu ganhei uma concorrência do Sesi e do Senai para fazer duas campanhas específicas que já foram para o ar. E fui convidado pelo Skaf no início do ano passado. Eu fiz a campanha dele e, depois, ele me pediu para me prestar uma assessoria à Fiesp. Eles queriam começar a ter uma atuação maior, ficar mais conhecidos e ter uma situação política. Porque: O que é a Fiesp? Não é? É um órgão que representa a maioria das empresas em São Paulo e milhares de trabalhadores. E tem - e deve, na minha opinião - nos momentos mais importantes da vida brasileira se pronunciar.

Neste momento, a sua empresa, ou você, tem um contrato com a Fiesp?
Com a Fiesp.

E, deixe eu te perguntar, nesse caso, esse contrato foi uma licitação também? Nesse caso, não?
Não. No caso da Fiesp, não precisa de licitação.

Então, o contrato é um contrato particular, não devem ser divulgados os dados, então?
Olha, por mim, pode divulgar se interessar. Isso quem diz é o cliente, mas eu não tenho segredo de nada.

Mas você pode divulgar agora? Ou não?
Não. Eu acho que eu aconselharia, se quiser, você perguntava à eles e eles divulgavam.

Há uma situação em que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, preside a entidade mas é também um politico agora, é filiado ao PMDB e deseja ser candidato a governador de São Paulo. Há um conflito de interesses nesse caso?
Acho que não. Você pode olhar sob a ótica de que há um conflito. E você pode olhar sob a ótica de que não há um conflito. Veja bem.

Por que que não haveria?
Porque, assim, participar da vida politica nacional e dar depoimentos e opiniões sobre regras, sobre regras, sobre leis, sobre projetos da presidente da República, é uma coisa que não se pode botar um garoto como apresentador, não pode botar um ator pra dizer aquilo. Aquilo é a visão oficial de uma entidade como é a Fiesp. Ali, na verdade, o Paulo aparece sendo na qualidade de presidente e porta-voz daquela organização. Então, com isso, ele defendeu grandes mudanças que tem beneficiado o Brasil.
Naturalmente, a Fiesp capitalizou muito isso e ele também. Então, eu não acho um conflito porque, veja bem, poderia-se fazer o que? Botar quem ali? Um garoto propaganda? Um ator? Não, não tem peso. Eu já fiz isso com loja de varejo, onde se você coloca o dono da cadeia de varejo falando sobre uma liquidação e se comprometendo abaixar os preços tem uma credibilidade muito maior. Por quê? Porque ele é o presidente. Então nesse caso ele [Skaf] falando pela entidade tem um peso muito maior. Naturalmente, ele também apareceu mais, ficou mais conhecido, ficou mais respeitado.

Essa sua relação com a Fiesp se sobrepõe ou ela é concomitante também à relação que você teve com ele também do ponto de vista politico para a eleição de 2010?
Não há nenhuma ligação. A ligação existe assim: eu sou o mesmo. OK. Mas a minha empresa não faz marketing político. Tanto que eu estou dizendo aqui agora que a minha empresa... Eu estou me associando ao Lavareda. E [para] o marketing político, sou Duda. Eu tenho outra empresa de marketing politico com outros sócios. Então são duas coisas inteiramente diferentes.

Em 2010 a campanha do Paulo Skaf a governador foi cuidada...
Duda e uma equipe.

Pela sua equipe.
Por Duda e uma equipe. Porque, na verdade, eu não tenho uma equipe grande fixa.

Várias notas nos jornais dizendo que, dessa campanha, foi uma campanha difícil porque ele ainda não era conhecido. A campanha deixou uma dívida grande. Ficou uma divida com a sua empresa?
Não. Naturalmente, uma campanha que não ganha ela tem dificuldades financeiras, mas nada que não se possa, de comum acordo, equacionar e serem cumpridos. Ele cumpriu. Com o PMDB, cumpriu todos os tratos comigo que estavam em contrato. As minhas dividas foram pagas.

Ele apareceu agora no mês de junho, no Datafolha, Paulo Skaf, em segundo lugar nas pesquisas para governador de São Paulo para o ano que vem. Como é que ele faz a partir daí? Ele se posicionou. Quais as chances reais de ele, a partir desse patamar, progredir ou não?
Eu acho que ele é um competidor forte para a eleição do governador. Agora, até onde vai, infelizmente não da pra prever. Mas eu acho que ele saiu de um, no ano passado, tinha um minuto na televisão, e ele chegou a 16. A Fiesp cresceu muito. O trabalho que nos fizemos, modéstia à parte, pro Sesi e Senai, tornou o Sesi e o Senai muito mais conhecidos, apesar de... Não só conhecidos como agregados à Fiesp. As pessoas não agregavam.
Então, tudo isso eu acho que, na hora, ajuda a Fiesp, a torna mais conhecida, valoriza seu presidente, não é? Então, assim, eu acho que ele... Agora é óbvio que o trabalho de marketing aí é muito pequeno porque, por exemplo, eu, um publicitário, não sabe se aquela medida dos portos é uma medida que deve ser apoiada ou deve ser contra, se há outra. Essa é uma decisão dele e do comitê que ele tem. Quais as posições que ele deve apoiar ou deve ser contra. Houve momentos em que ele foi contra. Por exemplo, no governo do Lula ele foi contra na hora do imposto do cheque. Ele foi contra o governo. Hoje, ele tem tido algumas razões e se sente confortável pra defender várias medidas da presidente Dilma. Ele tem feito isso. Então isso deve continuar.

A fadiga de material do PSDB no Estado de São Paulo existe de fato ou isso é uma lenda?
É difícil você radicalizar. Eu acho que o Alckmin está aí com um nível satisfatório. Depende muito. Acho que, assim, fim de governo é a hora de aparecer o trabalho, não é? Porque o cara pega no primeiro ano, vai, vai planejamento... Está na hora de ele botar o bloco na rua e dar conteúdo às coisas dele.

Por que eu pergunto? Havia uma interpretação corrente dentro do PT sobretudo, de que finalmente, em 2014, vai chegar a hora de o PT ganhar o estado de São Paulo. E parece que, por enquanto, não é bem assim. Qual que é sua avaliação sobre isso?
Acho que a eleição de São Paulo vai ser uma eleição muito complicada. Eu lhe diria que eu, do jeito que eu estou enxergando, a não ser que haja grandes mudanças, ela vai ser uma eleição muito complicada.

Em que sentido complicada?
Todos. Eu acho que existe, por exemplo, o PT é um partido forte. Tem a candidata a presidente mais forte. O Alckmin mostrou que é bom de eleição. Na outra eleição ele conseguiu ganhar e agora continua em um patamar muito alto. Apesar de ter problemas políticos aí, problemas de segurança, problemas agora de aumento de ônibus, tudo isso. Mas ele vem se mantende. Por outro lado eu acho que tem o Skaf, que é um nome novo e que vem crescendo e vem ganhando uma posição.

Surpreendeu no Datafolha o Geraldo Alckmin ganhar com larga margem de vantagem em um simulação até contra o ex-presidente Lula?
Não. Eu acho que as pessoas, por agora, não entendem que Lula pode ser candidato ao governo de São Paulo. Eu acho que pesquisa é um retrato de um momento. Eu acho que se o Lula resolver se lançar, o patamar dele não é aquele. Eu acho que o patamar dele é mais alto.
Agora, é preciso que ele, ao se lançar, faça uma campanha. Eu acho que nem gente do PT acredita que ele seria candidato. Se ele eventualmente for, eu acho que ele é um candidato forte. Imagine uma chapa Dilma candidata a presidente e Lula governador de São Paulo? É uma chapa fortíssima. É por isso que eu digo. Quem sabe se ele não vai sair? Não sei. Então a gente tem ainda muitas interrogações. É muito importante pro PT tentar ganhar, não é? E o PMDB? O que diz o PMDB, e é o que parece, é que vai ter candidato próprio. Mas como é que fica no segundo turno, se tiver segundo turno? Então, há muitas composições e todas elas, se você olhar, começam com tempo de televisão. Por quê? Porque ali é o mapa da mina.

O que vai ser do PT em um era pós-Lula e, eventualmente, pós-Dilma, na sua opinião?
Meu amigo, não sei. Tem tanta coisa que pode acontecer, não é? O PT já teve momentos maravilhosos, já teve momentos críticos, difíceis, depois voltou a uma posição. A entrada de Dilma... Ninguém esperava que Dilma chegasse ao ponto que ela chegou. Ela é uma pessoa muito segura, dura até, mas que é uma pessoa diferente do Lula. Sem dúvida nenhuma, o Lula é mais o político, o que conversa. Ela é mais decidida. E foi uma surpresa pro brasileiro. Mas teve acertos. Tantos que está no patamar que está.

Das forças, enfim, que existem aí pelos estados, os estados maiores, onde é que o seu radar aponta que pode haver alguma mudança?
Eu lhe digo assim: A Bahia é um outro lugar que é uma grande interrogação. Acho que é uma grande interrogação.

Não dá pra saber o que vai acontecer?
Não. Acho que tem muitas variáveis no campo. Eu acho que Minas [Gerais]... Acho que não. Acho que ali vai ser tranquilo. No Rio [de Janeiro] há algumas interrogações, não é?

O PT, o PMDB?
=É. Tem o Lindenberg [Farias], que é um candidato jovem, forte, tem o Pezão [Luiz Fernando de Souza], que é o candidato do governador, também forte. Eles sairão em lados opostos ou, na hora H, se estuda uma grande dobradinha? Tudo isso vai acontecendo, não é? Eu acho que cada um agora faz a sua força e lá adiante o que decide é o voto. Quer dizer, eu inclusive defendo uma coisa que para os candidatos que eu trabalho: que não se preocupem agora com os grandes conchavos políticos porque, na realidade, adiante se o voto, se não sair com um bom número na pesquisa...

Eu assisti outro dia uma propaganda curta, longa na televisão de um partido que não é novo mas cresce a cada eleição que é Partido Social Cristão, o PSC. Cresce, já tem muitos deputados, e que diz que vai lançar um candidato a presidente. Um pastor. O pastor Everaldo. Falou na televisão com valores, assim, religiosos, conservadores, da família. Tem espaço no Brasil pra esse tipo de força crescer?
Lógico que tem.

Por que nunca cresceu então, na eleição?
Porque nunca teve a força que tem hoje, mas se você olhar eles vêm crescendo a cada ano que passa. Não sei se vai ganhar, mas a bancada que eles têm hoje de deputados, de vereadores, é muito grande. Ainda não chegaram na majoritária, mas eles vêm crescendo sem duvida.

Uma campanha a presidente, com esse candidato, pastor Everaldo, que é um dirigente do PSC, fazendo esse discurso mais conservador em termos de costumes. Ele vai ser um micro-candidato, de 1, 2%? Que é o que todo mundo imagina, ou vai ser um candidato mais robusto?
Depende dele, depende de tempo de televisão, basicamente para ele poder aparecer.

Mas, assim, vai ter pouco tempo com certeza porque não é de um partido grande.
O que é pouco tempo? Porque dizer, assim, pouco tempo três minutos é uma coisa, pouco tempo com um minuto é outra.

Mas ainda assim, a gente sabe mais ou menos como vai ser.
Acho que ele terá uma influência na eleição. Eu lhe diria que acho que ele num segundo turno vai ser extremamente procurado.

E acha que no primeiro turno ele tem potencial pra ter quanto? 1%, 5%, 2%?
Eu lhe diria que no mínimo 5% ele teria.

Tudo isso?
Porque o universo de evangélicos no Brasil hoje cada vez cresce mais, em qualquer lugar.

Mas eles não votaram em Marina Silva na última vez?
Não sei, é difícil você dar um parecer de uma coisa que você não tem número, não tem pesquisa. Agora eu acho que os evangélicos hoje são uma força. E eles têm uma coisa, eles jogam junto. Então, você vê de repente um deputado, que ninguém sabia quem era, sair como o mais votado, sai como o segundo mais votado, não é? Eles são uma forca, e uma força coesa. Acho que eles representam uma força que fatalmente terá um número de votos, mas depende de tempo.
Eles são bons oradores, para o publico dele, porque eles falam muito, têm habilidade de dicção, de tudo isso. E falam a linguagem do público dele, senão eles não estavam crescendo tanto na televisão, não tinham tanta força.

Tem chance de ser um ator relevante?
Um ator. Eu não sei se relevante, mas não um ator lá de baixo não. Eu acho que, sobretudo no segundo turno, o apoio dele vai ser muito disputado.

Marina Silva teve muitos votos dessa camada do eleitorado mais religioso. Muita gente acha que, em 2014, Marina pode não repetir o desempenho de 2010. Por que muita gente fala isso? Você tem um palpite sobre isso?
Difícil. Não tenho um palpite. Acho apenas que ela não é, não vai ser nesse ano a novidade que foi naquele ano. Mudou. Mas depende. Ela ficou ausente muito tempo aí, tem atores novos nesse novo espetáculo. Então, é difícil de você dizer. Acho que ela tem muita gente que gosta dela. Ela é uma pessoa fantástica, um pessoa humilde, uma pessoa direita. Quer dizer, ela tem trunfos enormes. E, às vezes, um descontente em determinada eleição vai pra um, vem pra outro, entendeu? Acho que ela vai ter uma participação relevante, mas não acho que ela atingirá o patamar do ano passado.

Duda eu te conheço há muitos e muitos anos e sinto que você está um pouco mais aliviado agora por conta do final do processo do mensalão. Você foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal. E agora, bem recentemente, os seus bens, que ficaram bloqueados muitos anos, foram desbloqueados. Como você está se sentindo?
Veja, os meus verdadeiros bens, esses nunca foram bloqueados. Esses são minha família, são meus filhos, meus netos, minha mulher, meus amigos. O que aconteceu com o bloqueio de meus bens foi uma coisa muito moral em cima de mim também, não é? O que é que eu fiz? E passei uma pena muito grande. Mas, pra mim, serviu de experiência. Eu acho que tudo na vida... Eu me perguntei muito "por quê"?

Qual foi a resposta que você encontrou?
Para dizer assim, algumas coisas eu amadureci e outras eu ainda vou amadurecer. Mas, de repente, nesse momento, eu acho que a tempestade passou, é sacudir a poeira, dar a volta por cima. Não vou falar sobre mensalão. Acho que o Supremo, a lei é lei. No máximo eu posso dizer que às vezes demora, mas acontece. No meu caso, eu acho que eu fui justiçado e tenho que sentir contente com isso, com meus advogados e com os juízes que me elegeram e que me apoiaram, que acharam que eu fui realmente inocente e que me deram essa coisa.
Então, tudo que aconteceu, não tenho nada a reclamar. Sofri no momento de sofrer, mas passou. Agora é a volta por cima.

Duda, olhando em retrospecto, você se arrepende de alguma coisa nesse episódio do mensalão?
Olha, eu vou lhe dizer uma coisa. Essa é uma dúvida que eu só vou esclarecer mais para frente.

Como assim?
Como e lhe digo, assim, teve coisas que eu tive tempo para refletir muita coisa. Então, eu não poso lhe dizer ainda. Às vezes você tem que digerir com o passar do tempo. Eu tenho um livro que eu comecei a escrever dizendo que vale a pena falar a verdade ou não vale a pena falar a verdade? E houve um tempo que o titulo certamente seria não vale a pena falar a verdade.

E hoje?
Hoje, não sei, sinceramente. Hoje, talvez, está bem equilibrado.

Você sabe que se você não tivesse decidido espontaneamente falar aquele dia na CPI em 2005, talvez muita coisa não tivesse acontecido, não é?
Quem sabe? Eu não gosto muito de olhar para trás. Eu tenho um temperamento que eu sou muito otimista e olho muito pra frente. Acho que o que aconteceu, de alguma forma, eu acredito muito nas forcas do universo. E acredito que, de alguma forma, talvez tivesse escrito na minha história que eu tinha que passar por isso.
O que eu me perguntei sempre é: por quê? E o que que eu devo aprender com isso? E agora sim. E agora? Com essa lição toda, com tudo que aconteceu, o que que eu devo fazer daqui pra frente? Essa é a minha preocupação. Daqui pra trás não. Daqui pra trás aconteceu. Não tem jeito. Entendeu? Daqui pra trás aconteceu. Graças à Deus, eu levantei tudo de cabeça erguida, meus filhos estiveram do meu lado o tempo todo.

Mas você encontrou alguma resposta? Um por que com você, etc.?
Rapaz, são respostas muito profundas que eu, hoje, não estaria pronto, sobretudo para falar na televisão. São coisas muito íntimas que eu tenho refletido e ainda tenho muito a refletir.

Você é um profissional que foi muito vem sucedido e é, na sua área. Você sabe que se não tivesse acontecido o mensalão, você possivelmente teria ajudado a reeleger o presidente Lula, ia ter participado, talvez, da campanha da eleição da presidente Dilma, e tudo isso acabou ficando fora do seu horizonte.
Mas veja bem, se olhar por esse lado eu podia ter feito a minha operação e ter morrido, eu não precisaria ir a Portugal e não enfrentar o desafio que foi na Polônia. Então as coisas, às vezes, acontecem, sabe? E não dá pra você... Não é uma coisa estanque. Eu acho que tive uma família muito mais agregada. Eu acho que meus filhos chegaram muito mais pra perto de mim. Eu acho que sofremos todos juntos, dando a mão, e isso uniu mais a família, preparou muito mais os meus filhos.

Você era muito próximo... Ficou muito próximo do então presidente Lula. Depois daquele episódio, vocês voltaram a se falar?
Não, eu acho...

Nunca mais, Duda?
Não, nunca mais. A vida distanciou a gente, não é? E é normal. Naquele momento ele seguiu o caminho dele e eu segui o caminho que restou pra mim. Então não há mal. Eu continuo admirando ele, continuo admirando o trabalho que ele fez, entendeu? Acho que é uma pessoa popular, cumpriu as promessas. Não me arrependo, fazer a campanha dele pra mim foi um marco. Eu sou conhecido no mundo inteiro como o cara que fez a campanha do Lula.

Mas por que nunca mais você conversou com ele?
Não sei dizer à você. Não houve oportunidade. Quem sabe um dia se a gente não senta e...

Você gostaria de ter a oportunidade de sentar com ele e conversar?
Eu lhe digo sinceramente, se ele tivesse oportunidade e gostasse de sentar comigo para conversar. Outra coisa assim, se houver um momento em que a gente possa sentar, bater uma bola, tomar uma cerveja, nem que seja conversando sobre política, é óbvio que eu gostaria. Mas não baste que eu gostasse, precisa ele gostar também. A vida dele levou para um rumo e a minha levou por outro.

Ele ficou muito magoado, aparentemente, naquela época e demonstrou isso, no dia seguinte, naquela semana que você deu seu depoimento ele, sem falar seu nome, mas falava em traição, que se sentia traído.
Não. Acho que nunca ele falou que eu o traí. Porque, primeiro, não é verdade. Eu não traí ninguém. Não é do meu feitio, não é do meu caráter trair ninguém. Ao contrário, eu fui lá e falei a verdade. Isso não é trair. Eu falei exatamente o que aconteceu. Tanto que fui fiscalizado e o que descobriram foi exatamente o que eu falei. Eu recebi o meu dinheiro, eu tinha um contrato. O que há? Eu ia deixar sem receber? Então não, eu falei o que devia falar.
Agora, sabe, eu acho que no, meio de tudo isso, no Planalto e tudo isso, tem muita gente que gosta daquele buchicho, daquele fuxico. Eu não sei o que que chegou ao ouvido do presidente. Não sei como é que chegou. E, de alguma forma, é possível que ele não tenha gostado das coisas que eu falei. Como é possível que eu também não tenha gostado de outras coisas que ele falou.
Então, eu acho que a vida é assim. Eu continuo admirando ele. O destino quis que a gente se separasse. Eu torço por ele. Quando ele ficou doente, eu fiquei muito preocupado. Torci por ele, rezei por ele. Eu torci pela vitória da presidente Dilma.
Então, não me sinto [mal em relação à esse caso]. Ao contrário, acho que eles desempenharam um trabalho bacana par ao Brasil, e eu torço para que ela continue desempenhando e que o próprio presidente, venha o próximo se ganhar, esse ou aquele, que faça um trabalho bacana. Porque acima de tudo eu sou brasileiro. Tenho filhos pequenos e netos pequenos e eu quero esse país... Eu olho o Nordeste como está hoje, bacana. Eu olho o Pará como está hoje, mudando. Mas ainda é o Nordeste de ontem. É preciso que se olhe o Pará. O Pará é um estado enorme, mas, sobretudo o sul do Pará, é muito pobre, muito abandonado. Tudo. De escola, de médico, de estrada. E é um país maravilhoso, um estado maravilhoso. Muita gente boa, trabalhador.

Com a presidente Dilma houve um contato, não houve? Uma vez, que se apresentou um jingleque poderia ser usado por ela numa campanha. Como é que foi esse episódio? Em 2010.
Houve um momento, sim. No começo da eleição a gente conversou. Eu tive uma conversa com ela e a oportunidade poderia ter surgido, mas, na verdade, acabou não surgindo. Era difícil, naquele momento, se agregar um lado com outro. E, naturalmente, se eu fosse naquele momento fazer a campanha dela, haveria o mensalão todo, não é? Eu era réu do mensalão. Então aquilo era vulnerabilidade real, então eu acho que não aconteceu e acho que não deveria ter acontecido mesmo. Acho que foi melhor para ele que eu não fizesse.

Foi o único contato que você teve com ela nesses anos todos ou acabou tendo outros?
Não, foi o único contato.

E do Lula não teve nenhum interlocutor esses anos todos que tentou reaproximá-los?
Não, não tinha porque. Na verdade, eu tenho amigos que são amigos dele, a gente continuamos amigos, mas a coisa política seguiu por outro rumo, entendeu? Não houve um motivo. Acho que João [Santana] preencheu essa lacuna, vem se mostrando competente, então acabou. É aquelas oportunidades que você disse "você não teve essa oportunidade". É verdade. Talvez o rumo ali fosse esse. Mas, talvez, eu queria outros rumos.

Às vezes você pensa nisso?
Já pensei mais. Hoje, não.

Pensava como?
Já pensei sobre "puxa vida, foi interrompido um projeto". Mas por outro lado, digo assim: A minha postura hoje, é engraçado, eu tenho 68 anos. A minha postura hoje, toda essa turma de marketing, se você tirar em cada cem, você tira cinco, todos começaram comigo. O João eu não posso dizer que começou comigo, mas nós crescemos juntos. Eu acho que ele virou um pouco publicitário e eu virei um pouco jornalista. A gente aprendeu junto. Mas muita gente foi formada por mim. Então, eu hoje vejo assim: Eu me vejo como um cara que criou uma geração de marketing político, uma nova profissão, e que me passa na cabeça até começar, quem sabe, a fazer um curso disso para ajudar pessoas.
Eu estou muito mais hoje na posição de fazer coisas, sabe? Eu acho que está na hora de eu pegar campanhas culturais, de eu pegar coisas desse tipo. Eu tenho vontade de fazer filmes, eu gosto de fazer musica. Meus jingles todos eu que faço. Eu tenho vontade de fazer música. Agora, eu fiz a musica em um hotel que Betânia gravou. Aquela "De repente, eu fico rindo a toa sem saber por que" e virou musica, até tema de novela. Então, esse é um caminho que pra mim... Eu não vou ficar sem fazer nada. Eu hoje crio cavalo. Eu crio boi. Eu escrevo. Eu faço festa. Eu faço aniversario de neto. Eu faço campanha na Polônia. Eu não paro, não é? Então minha vida vai bem. Eu estou feliz. Se você dizer assim: "E o saldo de tudo isso?" O saldo é eu amadureci muito e o saldo é bom.

ou não?
Acho que não. Eu acho que já foi muito futucado. Agora é hora de julgar e rejulgar.

Da sua parte, você algum dia acha que vai contar algum detalhe que acha que falou ou não?
Não. Até porque, você sabe, eu não gosto de olhar pra trás. Para mim, passou. E passou tudo, o bom e o ruim e tudo. Agora é bola pra frente. A Copa do Mundo passada passou, o que interessa é o futuro.

Duda Mendonça, publicitário, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Obrigado a você. Espero que tenha respondido à altura as suas perguntas.


Endereço da página:

Links no texto: