Folha de S. Paulo


Leia a transcrição da entrevista de Duda Mendonça à Folha e ao UOL - Parte 1

Duda Mendonça, publicitário, participou do "Poder e Política", programa da Folha e do UOL conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu no dia 12 de junho de 2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

Leia a transcrição da entrevista de Duda Mendonça à Folha e ao UOL - Parte 2

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Duda Mendonça - 12/6/2013

Narração de abertura: José Eduardo Cavalcanti de Mendonça, o Duda Mendonça, tem 68 anos. É publicitário. Baiano, filho de artista plástico, abandonou a Faculdade de Administração para ser corretor imobiliário. Em 1972, fundou sua própria imobiliária. Três anos depois, criou a agência de publicidade DM9, com as inicias de seu nome.

Em 1977, alcançou projeção nacional com a campanha da pomada Gelol (buscar foto). Ganhou o prêmio de agência do ano. Duda Mendonça também ganhou três vezes o Leão de Cannes, maior prêmio da publicidade mundial. Na década de 80, entrou no marketing político. Em 1992, fez a campanha vitoriosa de Paulo Maluf à Prefeitura de São Paulo, usando como logomarca um coração para humanizar o candidato. Deu certo.

Em 2002, foi o publicitário da campanha presidencial vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva. A imagem de Lula agressivo e radical saiu do mapa. Entrou o "Lulinha paz e amor". Em 2005, acusado de receber dinheiro do esquema do mensalão, Duda chorou em depoimento na CPI dos Correios. Admitiu ter recebido 10 milhões numa conta nas Bahamas.

Duda foi absolvido da acusação de lavagem de dinheiro, mas ficou com suas contas bancárias e imóveis bloqueados por 7 anos. No início de junho de 2013, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, liberou seus bens.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. A gravação desta edição está sendo realizada no estúdio UOL, em São Paulo porque o entrevistado desta vez é o publicitário, Duda Mendonça.

Folha/UOL: Duda, muito obrigado por aceitar o convite para essa entrevista para a Folha de S.Paulo e para o UOL. Faz tempo que eu não falo com você. Começo perguntando: Como é que está a sua saúde?
Duda Mendonça: A minha saúde? Eu diria que está bem. Atravessei momentos delicados.

Você teve um problema no olho essa semana passada?
Tive.

O que aconteceu?
Eu tive um problema no olho que meu médico achou que devia fazer uma ligeira intervenção de laser e um olho está já bem direitinho, limpinho, e o outro não. Porque, há tempos atrás, eu fiz [a operação à] laser para deixar de ter óculos. Então, foi uma coisa curiosa que as pessoas perguntam. Ele [o médico] fez um olho para longe e um olho para perto. Então, eu tenho um olho para [ver de] longe e um olho para perto. Funciona maravilhosamente bem. Há 13 anos que eu tenho. Então, eu não uso óculos nem para longe, nem para perto e tudo funciona bem. Agora começou a dar irritação, um tipo de vermelhão. E aí, ele [o médico] resolveu fazer uma ligeira intervenção.

Você teve, há alguns anos, um problema no coração mais sério?
Tive, meu amigo. Muito grave.

O que você teve?
Eu não cheguei a ter um infarto. Mas, com as agonias todas desses últimos tempos, seis, cinco anos atrás, eu fui parar no Sírio [Hospital Sírio Libanês, em São Paulo] e não cheguei a ter infarto, mas acabei botando duas pontes de safena e duas mamárias.

E nunca mais teve problema no coração?
Graças a Deus, não porque eu não cheguei a ter infarto. Então, graças a Deus, eu pelo menos fui beneficiado. Deus me ajudou, passou e, de lá para cá, eu tenho estado muito bem. Graças a Deus.

Duda, você, que é uma pessoa que, pela profissão, tem que interpretar muito o sentimento da população, dos eleitores, qual é a sua leitura sobre essas manifestações de rua nos grandes centros, sobretudo em São Paulo, contra, em princípio, o aumento da passagem de ônibus, mas agora, aparentemente, por conta de outras coisas também?
Veja, isso é a democracia. Não é? Eu acho que as pessoas têm o direito de se manifestar contra aquilo que acha errado, contra aquilo que incomoda, contra aquilo que bate no seu bolso, sobretudo. Agora, é lógico que sempre no período de eleição essas coisas ganham uma dimensão.

Mas a eleição não é só no ano que vem?
Não. A eleição está na rua. É só você ler os jornais. Pega a Folha para você ver. Então, a eleição está na rua. Ainda mais quando tem uma eleição de presidente por trás, ela [a eleição] acelera a eleição de governador, acelera a eleição de deputado. Então, o calor está na rua.

Mas o sr. acha que essas manifestações tem algum cunho eleitoral?
Eu acho assim: Não estou dizendo que tem um cunho eleitoral. Estou dizendo que, exatamente nesse momento, olhar um aumento na passagem de ônibus, atinge bem o povão. O que acontece? Aí, cabe ao governador, o ao prefeito, aquele que aprovou a lei ou que foi colocar a medida em lei fazer um estudo que ele [o aumento nas passagens] vale a pena. É importante fazer aquilo? Vai atingir a população mais pobre. Vale? Essa é a única maneira? Eu não sou governador. Nunca fui prefeito. Eu não sei. Mas eles sabem do que vai acontecer. Às vezes, é necessário, é a única forma. Se começa com a inflação, ele [o governador, prefeito etc.] entra com essa medida. Agora, ele deve estar esperando ou deve dar explicações para a população que convençam que é a única forma. Agora, veja, o que eu estou lhe dizendo é assim: A eleição é uma coisa que mexe muito com o país. Mexe muito com as pessoas pobres. Então, nesse momento, mistura tudo. É uma emoção só.

Agora, em geral, o que diz é que os países todos, democráticos e estáveis, têm ciclos. As coisas vão melhorando, vão melhorar, mas daí, por motivos difusos vários, a população fica insatisfeita e prefere mudar, apesar de as coisas não estarem indo tão bem. Esse é o caso do Brasil? Ou não?
Duda Mendonça: É difícil você dizer isso. Mas, assim, essa é uma tendência natural no mundo inteiro. É como um técnico de futebol. Depois de um tempo, você se acostuma com as vitórias e quer ter sempre. Na hora que tem uma derrota, o pau quebra. Então, eu acho assim, o governo vai. Depois de quatro anos, depois de oito anos, as pessoas se habituam com as conquistas. E querem outras. Na hora que elas sentem que qualquer coisa mexeu, elas esquecem um pouco tudo de bom que elas ganharam e querem mais.

No plano nacional, no Brasil hoje, a gente tem um grupo que está no poder há 10 anos e meio e meio agora, que é o PT. Antes foi o PSDB. Ficou oito anos. Mas a gente tem grupos que estão há mais tempo no poder em estados. Por exemplo, o PSDB, há duas décadas. Tem uma fórmula sobre essa fatiga de material que pode acontecer ou não. Como funciona?
Não. Não tem essa fórmula. Graças a Deus, não existe essa fórmula. Se existisse, era muito responsabilidade para quem lida com isso. Acontece que, assim, elas [as fórmulas] vão se renovando. Quer dizer, as pessoas querem mais. E querem, às vezes, atitudes mais jovens. Querem reviravoltas mais importantes. E aquilo: quanto mais ela acontece, mais ela quer mais. Então é assim. No Brasil, ninguém pode deixar de dizer que o Brasil melhorou muito nos últimos anos. Mas, essa melhora as pessoas assimilaram e querem mais. Então, elas estão esperando que isso aconteça.

Você acha que as pessoas sabem diferenciar o que foi a melhora por conta dos oito anos do ex-presidente Lula e o que foi já esse de período de dois anos e meio da presidente Dilma? Ou, não, é tudo uma coisa só?
Veja, eu acho que, nesse caso, é uma coisa que venha dando seguimento à outra com algum outro estilo de governar. Mas vem dando seguimento. Eu acho que o governo da presidente Dilma e o governo do presidente Lula foi uma sequência. E isso tem vantagens, até, porque não há uma interrupção. Chegou um, parou, muda o outro. Agora, o eleitor, hoje, está muito mais sábio, muito mais experiente, muito mais maduro.

Dê um exemplo.
Ah, ele [o eleitor] percebe tudo. Bobo é achar que o eleitor é bobo. Então, a televisão, antigamente, quem batia no outro, eles [os eleitores] aceitavam tudo. Depois descobriam que aquele que batia, que criticava, que levantava críticas muitas, ele era pior do que estava e era mentira. E ele está pior do que estava sendo acusado. Então, ele [o eleitor] entendeu que a televisão não é o espaço para bater nem para agredir ninguém. É um espaço para se falar de planos, de progresso.

Mas isso aí não é desde sempre, não?
Não. Não. Nas as primeiras eleições diretas, quando a televisão foi usada, as vitórias, quase todas, foram feitas à base de acusação, na base de crítica, na base de denúncias que depois da eleição, às vezes, acabava lhes mostrando que elas não eram reais. Então, assim, hoje é uma coisa assim: primeiro, como é que a eleição funciona na cabeça das pessoas? A mudança grande é que, antigamente, o formador de opinião era o jornalista, era a imprensa, eram os artistas. Hoje, a pirâmide se inverteu.

Por quê?
Porque quem forma opinião é o povo, é o igual. Hoje, as pessoas acham que você encher a sua televisão de artistas não funciona. Elas acham que aquele povo dali está ganhando dinheiro como um profissional qualquer para fazer esse trabalho. Então, hoje, a pessoa sabe que quem influencia ele é o colega de trabalho, é o marido, é a mulher, é o filho, é a escola. Então, por exemplo, qual é a função de uma campanha hoje? É dar argumentos. Para mim, não é nada mais do que dar argumentos.

Para aquele que vai votar em mim usar?
Não. Se tem um que quer votar em você e tem outro que quer votar em mim - e nós estamos no clube de futebol, ou estamos em um bar tomando cerveja, ou no metrô -, eu começo a discutir com você. E esse cara que vai votar em mim vai discutir com você e vai dar os argumentos dele. E o cara que quer votar em você vai dar os argumentos para você. E aquele povo ali está assistindo. São dois iguais dando os seus argumentos. Naturalmente, aquele que tiver mais argumentos, que convencer mais, vai começar a contagiar a população.

Entendi.
E é por isso que eu acho. Você faz grupos hoje. Se você tem um grupo e a pergunta é assim: "Vocês conhecem um hospital que foi inaugurado lá não sei aonde?" As pessoas: "Não, não conheço e tal". Mas se um diz assim: "Olha, eu tive uma tia que levou uma sobrinha lá e funcionou muito bem". Na mesma hora contagia a todos. Agora, quando sair no jornal, para o povão não tem essa credibilidade toda. Para uma elite, tem.

E que papel desempenha o meio digital, a internet, hoje em dia?
Cresce assustadoramente.

Mas ainda parece que não teve o efeito que alguns achavam que teria. Por quê?
Não. Eu acho que um efeito... Eu entendo todas as outras críticas, os outros pontos de vista, mas o meu é diferente. No ano passado, retrasado, houve um modismo por causa da eleição do Obama dizendo que a internet esse efeito avassalador.

Nos Estados Unidos?
Nos Estados Unidos. Eu não concordo. Além de a internet estar com um outro tamanho que agora no Brasil começou a ter...

Nos Estados Unidos teve um efeito?
Sim. Mas eu acho que não. Nos Estados Unidos, na verdade... Eu vi uma palestra de uns marqueteiros de lá. Na verdade, é assim: aquilo ali explodiu. Na hora que explodiu, explode em todos os veículos. A internet, como uma coisa grande, enorme, começou. Mas o efeito dela foi muito mais receptor de dinheiro que eles usaram na televisão. Eu acho que a televisão é, sem dúvida, o grande veículo para uma campanha política. Agora, a internet, cada vez mais, cresce e vai crescer e, quem sabe, até superar a televisão em prazo. E, sobretudo, com um público jovem.

Mas, no ano de 2014, ano que vem, internet e redes sociais ainda não serão um fator decisivo?
Não. Não acho. Mas acho que cada vez tem uma fatia maior. Você vê a quantidade de gente que é vista. Não é? Hoje, o movimento que faz... A sua própria entrevista, antigamente, era só na Folha. Hoje, já vai ao mesmo tempo, para a internet. Outra coisa: o acesso às pessoas mais pobres. Antigamente, isso era uma coisa de elite. Hoje, não. Hoje, todo mundo tem internet. Todo mundo vê.

O que você acha que, se a internet não vai ser o grande fator, se a televisão continuará a ser o elemento principal de mídia e se o país está relativamente estável - como a gente sabe que está, apesar da economia não crescer como muitos gostariam - vai ser o fator para mudar o cenário atual no qual a gente vê, no plano nacional, a presidente Dilma Rousseff como grande favorita e os outros muito embaixo? O que poderia mudar isso até o ano que vem, então?
O processo começou, mas ainda não tem carta marcada para ninguém.

O que isso significa?
Eu lhe diria que a gente pode ter surpresas esse ano em São Paulo e pode não ocorrer do jeito que as pessoas esperam exatamente no cenário nacional. Eu acho que a presidente Dilma continua como a grande favorita. Eu acho que aqui em São Paulo, pelos números, o Alckmin continua favorito. Mas eu acho que ainda tem tempo. Tem pessoas novas chegando e tem ainda um espaço para as pessoas discutirem. E quando abre a televisão é que cada tem a oportunidade de colocar os seus projetos.

Deixe eu te falar do plano nacional. Com a presidente Dilma Rousseff, o que poderia tirar dela esse favoritismo? Ou consolidar?
Veja, eu não tenho uma bola de cristal. Mas, de dúvida nenhuma, o seguinte: hoje, uma inflação que começa é uma coisa perigosa. Só que tem tempo e as medidas podem ser tomadas. E essa inflação, que agora aparece, esse mês parece que já caiu. Então, essas coisas as pessoas vão acompanhando. Então, esse movimento todo começa a acontecer.
Depois tem o seguinte. Vão surgindo pessoas novas, não é? Eu acho que a Dilma, por exemplo, foi uma pessoa nova. Eu, pessoalmente, tenho, assim, um carinho por ela muito grande. Acho que ela foi corajosa, tomou medidas impactantes. Duras, mas que precisavam ser tomadas. Agora, em um país como o Brasil que tem muitos problemas, se resolve alguns e se cria outros.

A estratégia que a gente enxerga, tanto do ex-presidente Lula, para quem você trabalhou, agora da presidente Dilma, parece muito clara. É um governo popular que trata muito da população menos favorecida. Massifica o marketing em torno disso. Essa é uma fórmula que foi eficaz até agora? Ela pode continuar a ser replicada?
Lógico. Eu acho que as pessoas, hoje, se decepcionaram muitas vezes com muitos eleitos, não é? Muitos governadores, muitos prefeitos, muitos deputados, muitos senadores, muitos presidentes decepcionaram muito o seu público com promessas que não se cumpriam. Hoje, o povo é muito pragmático. "Melhorou minha vida, eu estou com você. Não melhorou, eu estou com outro".

Qual é a principal marca da presidente Dilma?
Veja, eu acho que são os projetos sociais. Eu lhe diria que, na minha visão, os projetos sociais. A continuidade que ela deu, a ampliação e as medidas ousadas que ela tomou. Eu acho que, por exemplo, a poupança. Eu acho que ela chegar e ter a coragem de... A medida recente de mudar as legislações dos portos. Eu acho que a medida de abaixar a conta de luz. Isso são medidas que atingem não só o povão, mas atingem também as indústrias, as empresas. Então, acho que, sem dúvida, isso. Eu acho que o Brasil evoluiu. A gente é muito exigente, é óbvio. E tem que ser. A gente quer que o Brasil a cada ano vá melhor. Mas se você olhar, assim, como era o Brasil há 50 anos atrás e como é hoje, a gente andou muito para frente. Eu ando fora do Brasil muito. Eu tenho um negócio na Polônia. Eu tenho um negócio em Portugal. E o respeito... O Brasil não é mais o país do futebol e o país das mulatas. O Brasil, hoje, é respeitado no mundo inteiro.

Olhando ainda no plano nacional, eu queria te perguntar depois dessas suas operações fora, mas antes queria fazer alguma coisa sobre plano nacional e política. Dos pré-candidatos já apresentados para presidente --Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva--, qual dos três é mais apetrechado para ir nessa luta e tentar desafiar o poder que, no momento, é do PT?
Veja, eu acho que a grande luta seria primeiro conseguir levar essa eleição para um segundo turno, não é? Depois, eu acho que tem o Aécio Neves, que foi um governador de um estado grande, que fez um governo elogiado. Eu acho que a Marina é uma figura conhecida nacionalmente, que defende muito as florestas e tudo isso, é uma pessoa simpática. E tem o Eduardo que, verdadeiramente, é o novo. Ele é um cara simpático. Fala muito bem. Tem uma grande experiência. É um governador com um nível de aceitação imensa e, sem dúvida, é um quadro que eu não tenho dúvida que ele terá oportunidade, se não agora, no futuro. Por outro lado, a Dilma vem fazendo o governo que tem um limite de aceitação enorme. Essa oscilação que teve agora, eu não acho que ela é significativa. Ela pode cair, pode subir. Essas curvas acontecem. Então, o que eu acho é assim: se houver uma inflação que cresce, se a ministra de queda, e eu acho que esse outro lado...

*[interrompe] A ministra, presidente.*
Presidente. Desculpe porque eu a conheci como ministra e ficou na minha cabeça. O outro lado tiver o discurso mais ou menos homogêneo, aí correríamos o risco de ter um segundo turno. Aí, segundo turno para quem está no poder é perigosíssimo. O segundo mandato deve ser ganho no primeiro turno. Porque, se fica para depois, é sinal de que não teve uma maioria substancial para vencer logo uma eleição.

É um risco para a Dilma ir para o segundo turno? Mas por quê?
Eu acho um risco para a Dilma. Mas um risco para o Alckmin.

Mas, veja só no caso da Dilma. Vou chegar no Alckmin, mas no caso da Dilma, chegar ao segundo turno significa que ela seria mais desafiada, mais questionada do que o normal?
Não. Significa que ela não teve um nível de aceitação capaz de de ganhar no primeiro turno.

O Lula foi para o segundo turno e ganhou.
Foi para o segundo turno e ganhou. Não estou dizendo que não ganha. Mas eu estou lhe dizendo que o Lula não estava na... Eu acho que o Lula... É difícil porque cada um tem pontos de vistas diferentes. Eu acho que o Lula poderia ter ganhado no primeiro turno. Não ganhou. Mas chegou bem lá e depois cresceu. E depois ganhou no segundo turno. O que eu estou lhe dizendo é o seguinte: que um presidente ou governador que está no nível de popularidade que a Dilma está e que o Alckmin está aqui em São Paulo, e que outros estão...

Tem a obrigação de ganhar?
A eleição tranquila deve procurar ganhar no primeiro turno.

É uma obrigação?
Nunca é obrigação. Mas eu acho que é mais fácil.

Mais fácil com certeza.
Lógico. Então, no segundo turno, passa a ter um risco. Para quem está hoje com 70% de popularidade, não faz sentido não ganhar no primeiro turno. Significa que tem alguma coisa que está mexendo

E, nesse caso, no segundo turno, para a presidente Dilma Rousseff, desses pré-candidatos já apresentados, quem que representaria um risco maior na sua avaliação dos três?
Difícil. É difícil dizer. Mas...

Pela sua percepção.
Pela minha percepção é Eduardo Campos.

Por quê?
Porque ele é realmente novo. Ele é a surpresa. O Aécio já tem muito tempo aí. A Marina também. Já não são novidades. Eu acho que o Eduardo é um sujeito que vem crescendo. É desconhecido ainda, muito, da população da brasileira. Mas ninguém pode deixar de ver que ele é um cara competente, um cara preparado, um cara jovem. Entendeu? Acho que é um risco. Um risco de...

Seria um risco maior para a presidente?
Um risco maior. Eu acho. Acho que é um risco maior.

Porque seria a contraposição de algo verdadeiramente mais novo do que ela, embora ela também seja?
Sem dúvida. Mas alguém também formado, competente e com a visão, eu acho que, muito semelhante. Se você olhar o governo dele, também é muito voltado para as pessoas mais pobres, Então, acho que ele tem um pavio. Eu acho que o Eduardo é alguém assim, que eu acho que vai ter muita chance nesse futuro. É um político novo, simpático, fala muito bem, é um bom administrador e eu acho que tem um lugar... Se você perguntar o que eu acho que vai ocorrer, eu acho que a Dilma tem muitas chances de ganhar, eu acho, que até no primeiro turno. A não ser que haja uma grande modificação. O que não significa que o Eduardo, na próxima eleição, não seja um candidato muito forte.

Nesse contexto, você acha que Eduardo Campos ganha ou perde se lançando candidato, apesar do favoritismo de Dilma?
Se você me perguntar o que eu acho, eu acho que ele devia competir.

Em qualquer hipótese?
Em qualquer hipótese. Por quê? Porque, chegar de primeira, desconhecido, e ganhar uma eleição presidencial é muito difícil. Você olhe que o Lula ralou em quatro eleições para poder ganhar. Então você vai tendo... Vai ganhando a confiança, As pessoas vão começar a dizer... Ao contrário do que as pessoas pensam, quando alguém perde uma eleição e depois concorre novamente: "Esse cara ou essa moça tem alguma coisa para mostrar". Não necessariamente é uma derrota. Não necessariamente. É até uma prova de...

De persistência?
De persistência. Então, assim, [o Eduardo Campos] é um jovem. Tem um caminho enorme pela frente. Como o Aécio também tem. Como a Marina também tem. O que eu acho é que o novo, realmente, hoje é o Eduardo. E a surpresa porque é um novo que tem experiência. Agora, eu continuo dizendo a você, eu acho que, em condições normais, o Brasil, se você olhar os problemas que tem hoje e que vai ter sempre pela sua dimensão, vem melhorando. Eu acho que era bom para o Brasil, na minha cabeça, que a Dilma continuasse. E, para mim, era muito bom para o Brasil que o próximo presidente, na minha opinião como eleitor e como pai de sete filhos e sete netos que quer que esse país cresça e evolua muito, eu acho o Aécio um bom nome.

O Aécio?
O Aécio [não]. Me desculpe. Olha. Falha. Eu acho o Eduardo Campos um bom nome. Nada contra o Aécio, hein? Mas eu acho o...

O governador Eduardo Campos, que é do PSB, e está aí prospectando a candidatura, foi protagonista de algumas notícias que mostravam que, eventualmente, você poderia contribuir com a campanha dele. O que aconteceu?
Nada. [risos]

Conversou com ele?
Não conversei com ele. Somos amigos de muito tempo, como eu sou amigo da [Dilma Rousseff]...

O sr. gostaria de fazer a campanha dele?
Não sei. Hoje, se você me perguntar assim: "Você vai fazer campanha"? Essa é a resposta que eu não tenho. Nesse momento, eu estou saindo do meu pesadelo, entrando em uma outra fase. E eu tenho, como disse, filhos e neto. Está na hora de eu começar a dar um pouco mais de atenção à minha família. O meu trabalho aqui no Brasil e fora do Brasil é muito intenso. E está na hora de ouvir o que eu quero. E agora eu vou poder dizer o que eu quero.
Então, se você me perguntar: "O que você está fazendo nesse momento"? Exatamente retomando a minha vida, avaliando o que eu tenho e o que eu não tenho, como fica e o que eu quero. Agora eu não tenho uma desculpa. Dizer assim: "Eu faço campanha porque eu não tenho outra alternativa". Agora, não. Agora eu vou saber o que eu quero verdadeiramente. E, aí, eu vou tomar a decisão. Pode ser que eu faça campanha. Pode ser que eu não faça campanha.

Eu vou te perguntar já sobre todas essas suas atividades...
Mas não tive [uma conversa com Eduardo Campos], sabe? Saiu muito na imprensa, mas não teve nenhuma conversa sobre esse assunto [de fazer campanha para a presidência] com o presidente Eduardo Campos... Com o governador Eduardo Campos.

Deixe eu te fazer uma pergunta, Duda. Em uma situação em que o governante é muito bem avaliado, a inflação... Diz um presidente: "A inflação subiu um pouco, mas está relativamente controlada. Não vai subir mais". É impossível derrotar esse presidente?
Bem, a palavra impossível não é adequada. Mas é muito difícil. Sobretudo, se ele tiver um trabalho correto. Aquilo de argumentos, não é? Seus argumentos... Ele tem um espaço grande para vender o seu governo. Do mesmo modo que ele tem um espaço grande para ser criticado, porque ele está no pilar mais alto, ele tem um espaço grande para vender o que ele fez.
Então, se ele está agradando, se o governo vai mais ou menos bem, ele tem toda a chance de continuar no poder. Até porque as pessoas não querem correr risco.

E como é que faz? Quem está na oposição, daí, fica em uma posição difícil, então? Não há muito o que fazer.
Não. Porque eu acho que a eleição não é somente ganhar ou poder. Eu acho que isso é uma ilusão. Eu acho que a eleição é você dizer assim: "Qual é o próximo grau"? Então, eu acho que você não consegue, em um país como o Brasil, ou em um estado como o São Paulo, como Bahia, como Minas [Gerais], de uma hora para outra ficar popular, de uma hora para a outra ficar conhecido. Eu olho o [Paulo] Skaf. Ele teve 1% da eleição passada. Agora, está com 16%. Então, na verdade, às vezes, você tem um pilar, tem uma escada. O que eu acho importante em uma campanha - e aí, sim - não faz o menor sentido você ter um trabalho de marketing, você ter um trabalho de divulgação grande e não conseguir sair melhor do que entrou. Eu acho que o mínimo que você tem que ter em uma campanha é sair melhor do que entrou. Se não der para ganhar, OK. Mas você vai subir uma escada.


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