Folha de S. Paulo


Leia a transcrição da entrevista de Gabriel Chalita à Folha e ao UOL - parte 2

O deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) participou do "Poder e Política", programa do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 8.mai.2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

Leia a transcrição da entrevista de Gabriel Chalita à Folha e ao UOL - parte 1

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Folha/UOL: Então vou aguarda nesta semana. O sr. já foi do PSDB, do PSB, está no PMDB. É correto mudar de partido dessa forma?

Gabriel Chalita: É correto

Folha/UOL: Por quê?

Gabriel Chalita: Porque, na verdade, o que é a política para mim? A política é uma aspiração de fazer o bem, os maiores sonhos da minha vida não são políticos, eu me realizo numa sala de aula, por exemplo, eu me realizo escrevendo livros. A literatura e a educação são as minhas paixões.

Folha/UOL: Será que não é porque, no Brasil, a gente não tem partido sólidos e há ideologias um pouco...

Gabriel Chalita: Difusas, talvez. Muitos partidos, não é?

Folha/UOL:...difusas. E os políticos mudam tanto de partido?

Gabriel Chalita: Mas o mudar de partido aqui... Veja bem, eu estava no PSDB. Eu fiquei 20 anos no PSDB. E fui muito feliz no PSDB. Eu fui para o PSDB pelo [Franco] Montoro, que foi meu grande mestre de vida, professor. Sempre tive uma ótima relação com o Alckmin. E com o Covas, com as grandes lideranças do PSDB.

E chegou um momento que eu fiz uma decisão na minha vida por causa do Serra, eu expliquei isso várias vezes. Ele estava destruindo tudo aquilo que a gente fez na educação em São Paulo. As escolas em tempo inteiro. Tudo o que eu sonhei de vida como educador. Eu, quando assumi a secretaria, disse assim: "Agora é a oportunidade que eu tenho de mostrar que é possível ter uma escola pública de qualidade". E eu não quis apoiá-lo para presidente. Então, eu fui sincero naquele momento. Eu queria apoiar a Dilma e saí do PSDB para apoiar a Dilma [na eleição presidencial de 2010]. Eu não quis fazer duas caras. Ficar no PSDB e fingir que estava apoiando o Serra e apoiava um outro candidato. Eu achei que era melhor dizer para o meu eleitor: "Olha, eu vou trocar de partido porque o PSDB não dá o espaço que eu gostaria de ter para desenvolver a política".

Folha/UOL: O sr. foi eleito por um partido. Logo em seguida mudou para um terceiro, que é o PMDB.

Gabriel Chalita: Exatamente.

Folha/UOL: Por quê?

Gabriel Chalita: Porque, aí eu cheguei no PSB... Ali no PSB, eu imaginava que o PSB era uma coisa e não foi aquilo que eu imaginei. O PSB em São Paulo não tinha diretórios constituídos. Você só tinha uma pessoa que mandava no partido todo. Uma das pessoas que...

Folha/UOL: Mas isso aí todo mundo sabe.

Gabriel Chalita: Talvez, eu entrei no PSB, eu te confesso...

Folha/UOL: O sr. estava já na política há tantos anos e não sabia?

Gabriel Chalita: Eu te confesso que com uma certa ingenuidade. Eu cheguei ali, a [Luiza] Erundina estava no PSB, que é uma mulher que eu considero muito séria. Eu entrei ali com vontade de fazer política de uma forma diferente. E eu vi que aquilo não iria acontecer. Eu ia ser candidato ao Senado. O PSB não deixou eu ser candidato ao Senado naquele momento. Eu vi que eles iam me lançar candidato a prefeito, não iam deixar eu ser candidato. Não é que eu tivesse que ser. Mas eu não queria ser usado politicamente. E aí, fui para o PMDB.

A Marina [Silva] trocou de partido três vezes e ela é uma mulher séria. O Tancredo [Neves] trocou de partido. Para mim, o problema não é trocar de partido. Para mim, o problema da política é a mentira e a demagogia. É quando você diz uma coisa e faz outra. Tudo aquilo que o eleitor sabe que você fez, para mim não é um problema. Então, eu não acho que a grande questão... O prefeito do Rio [Eduardo Paes, do PMDB] trocou várias vezes de partido.

Folha/UOL: O sr. teve uma boa votação, em termos de PMDB, na eleição para prefeito de São Paulo em 2012. Perdeu. Ficou em 3º lugar, mas teve uma votação expressiva, perto de 14% [dos votos], que é, para o PMDB, uma mudança grande. O PMDB não vinha bem na cidade de São Paulo. Quais são os seus planos eleitorais para 2014?

Gabriel Chalita: Olha, eu estou muito concentrado agora naquilo que eu te disse, da grande oportunidade de ser secretário da Educação. Para mim, presidir a Comissão de Educação do Congresso é uma grande oportunidade de tentar realizar um projeto com a consolidação das leis educacionais, ajudar a fazer uma lei de responsabilidade educacional. Tem uma comissão específica que eu também estou dentro dessa comissão. Eu quero, assim, trabalhar muito na Comissão de Educação. Eu quero, modéstia à parte, deixar um legado legislativo nessa área educacional. Então, eu vou me concentrar de corpo e alma nisso. Eu estou presidindo o código, também, de...

Folha/UOL: Tudo bem. Mas e na eleição de 2014?

Gabriel Chalita: Espere aí, eu chego lá [risos]. Eu estou presidindo o código, também, que a comissão está escrevendo o Código de Ciência, Tecnologia e Inovação, que também é uma honra, não é? Você imaginar que daqui a 40 anos as pessoas vão estudar num código, vão atuar num código que eu tenho oportunidade de presidir. Então, eu estou muito focado nisso.

Diferentemente da campanha de prefeito, é que eu estava com muita vontade de ser candidato a prefeito, eu, enfim, não estou com o olhar, assim, de cargos majoritários para o ano que vem. Isso não está nos meus projetos. Talvez, candidato a deputado. Depende de muitos arranjos ainda, não é?

Folha/UOL: O sr. deseja, se possível, continuar como deputado federal mais um tempo então?

Gabriel Chalita: É. Eu acho que o caminho de continuar na Câmara, de fazer um trabalho na Câmara, eu acho que esse é um caminho interessante. Eu não estou, assim, como projeto de vida nesse momento, num cargo majoritário na próxima eleição.

Folha/UOL: Quem é o candidato a governador pelo seu partido em São Paulo?

Gabriel Chalita: Acho que tem muita coisa para acontecer até o ano que vem. Tem muita discussão.

Folha/UOL: Quem são os seus prediletos?

Gabriel Chalita: Não, não tenho, ainda, um predileto.

Folha/UOL: O seu partido tem dito, vários integrantes do seu partido, o PMDB, tem dito que o candidato a governador de São Paulo deve ser o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. O sr. acha que isso já está decidido?

Gabriel Chalita: Não, não está decidido. Ele é um pré-candidato, colocou a pré-candidatura dele à disposição. Mas acho que isso é uma discussão para o ano que vem, Fernando. Muita coisa vai acontecer.

Folha/UOL: Então, não é certo, ainda, que será Paulo Skaf?

Gabriel Chalita: Não, não é certo. Pode ser que seja ele, pode ser que não seja.

Folha/UOL: Quem são os outros nomes, prospectivamente falando?

Gabriel Chalita: Você tem possiblidades do PMDB fazer parcerias com partidos lá em São Paulo, você tem lideranças no interior, tem bons prefeitos no interior, do PMDB. O PMDB cresceu em São Paulo, elegeu prefeitos de cidades importantes. Então, eu acho que tem muita coisa para acontecer até o ano que vem ainda.

Folha/UOL: O sr. tem uma relação pessoal de amizade com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que é do PSDB, não é do seu partido. Ele deve concorrer à reeleição em 2014. Ele é um bom nome para continuar governando São Paulo?

Gabriel Chalita: O Alckmin é um homem muito sério, eu sempre disse isso. Quando eu estava no PSB ou no PMDB, quando as pessoas me perguntavam se eu gostava do Alckmin e se eu o respeitava. Eu sempre respeitei muito. Eu acho que ele é um homem sério, correto. Ele vai ter uma proposta política que o eleitor vai analisar. E tem que ver os outros candidatos aí. Aí, depende da...

Folha/UOL: Mas o seu partido, possivelmente, o PMDB deve fazer uma aliança fora do campo da aliança de Geraldo Alckmin. O seu partido, certamente, não vai apoiar a eleição de Geraldo Alckmin. O sr. acompanhará o seu partido e fará campanha para o candidato que o seu partido apoiar, ou não?

Gabriel Chalita: Eu vou acompanhar o meu partido. Agora, sempre respeitando o Alckmin. Eu não fiz campanha para o Alckmin na última eleição e nunca critiquei o Alckmin ou falei mal dele, ou fui desrespeitoso com ele. Eu seria incorreto comigo mesmo porque eu diria uma coisa que não acredito. Foi o que eu disse para você quando eu resolvi apoiar a Dilma. Eu apoiei a Dilma por acreditar na Dilma, eu apoiei o Haddad por acreditar no Haddad, por respeitá-lo. E não criticaria outras pessoas mesmo que eu não tivesse apoiando só por não estar no projeto político dessas pessoas.

Folha/UOL: No caso, aí, seria uma espécie de, vamos dizer, uma bola dividida. O sr. não faria campanha contra Geraldo Alckmin, mas teria que fazer a favor daquele que o seu partido indicar ou apoiar?

Gabriel Chalita: Sem criticar o Geraldo Alckmin né.

Folha/UOL: Entendi. No caso da presidente Dilma Rousseff, que deve ser candidata á reeleição, que tem também na chapa Michel Temer, que é o presidente do seu partido, o PMDB. Aí, o sr. evidentemente vai participar da campanha?

Gabriel Chalita: Vou participar da campanha. Vou me colocar à disposição e, enfim, fico muito feliz de ter apoiado a Dilma. Ter entrado na campanha...

Folha/UOL: O sr. acha que ela faz um bom governo e merece ser reeleita?

Gabriel Chalita: Ela faz um bom governo, é uma pessoa comprometida com as causas sociais, ela tem uma visão objetiva de gestão. É difícil, Fernando. Não dá para as pessoas resolverem todos os problemas de uma hora para a outra. A complexidade do sistema político brasileiro, a complexidade do Congresso, não é? Há problemas no Brasil, evidentemente.

Folha/UOL: O sr., num dado momento - logo depois da eleição para prefeito de São Paulo -, foi muito citado como possível integrante do ministério da presidente Dilma, citado como possível ministro da Educação. O sr. ainda acha que, no futuro, pode vir a ajudar o governo na área executiva como ministro, mais adiante?

Gabriel Chalita: Eu não apoio as pessoas por causa de cargos. As pessoas achavam que eu apoiei o Haddad em troca de um ministério que eu receberia. Nunca houve essa promessa, nem essa conversa, e o Haddad sabe disso. Aliás, eu quis apoiar o Haddad no dia da eleição, no primeiro turno já. Porque eu achava que, no quadro de São Paulo, ele era o melhor a ser apoiado e não me arrependo disso. Então, eu não apoio para receber ministérios.

Claro que, se um dia... Uma vez me perguntaram, recentemente: "Entre ser ministro ou governador, você preferiria o quê?" Eu falei assim: "Nesse momento, eu prefiriria ser ministro". Mas não que ela [a presidente Dilma] tivesse me convidado. Também resposta sincera. "Não. Você não pode dizer isso. Não se queime", não é? Mas, para mim, teria sido uma honra ser ministro desse governo. Não fui convidado, não estou chateado por causa disso, estou fazendo o meu trabalho na Câmara dos Deputados, mas, enfim, o futuro a Deus pertence, não é?

Folha/UOL: O sr. gostaria? O sr. acha que poderia colaborar eventualmente?

Gabriel Chalita: Eu acho que sim. Acho que tenho condições para isso. Tenho vontade política para isso.

Folha/UOL: Talvez no segundo mandato, se a presidente Dilma ganhar, então?

Gabriel Chalita: E se me convidar. E se não me convidar, também estamos aí para torcer pelo Brasil.

Folha/UOL: Como deve ser a relação entre política e religião, na sua opinião?

Gabriel Chalita: Eu acho que ela tem que ser uma relação correta, honesta. Eu sou uma pessoa religiosa, mas eu não vou nas missas pedir voto.

Folha/UOL: O sr. é católico, não é?

Gabriel Chalita: Eu sou católico, sou um católico praticante, não escondo isso. Tenho muito respeito pelas outras religiões. Na campanha, eu fui convidado por pastores, por exemplo, para discutir política ali, com aqueles líderes evangélicos. Eu acho que isso está correto. Um padre te convidar para um debate com candidatos... O cardeal [dom Odilo Scherer] fez isso em São Paulo. Convidou os candidatos para debaterem com padres. Aí está correto. Agora, você ir num culto religioso, numa missa, num culto, num elemento e transformar aquilo em um ato político, eu acho absolutamente incorreto. Agora, a Igreja querer ouvir propostas, faz parte. Como ir numa faculdade. Se eu sou convidado para ir numa faculdade para dar uma palestra de direito penal, eu vou falar de direito penal. Se me convidarem e convidarem outros candidatos para debater [sobre] a cidade, eu vou para debater [sobre] a cidade.

Folha/UOL: E os temas que são relevantes para líderes religiosos e que, muitas vezes, são transplantados para o debate político? Temas como aborto, casamento gay, descriminalização do uso de drogas, entre outros, que têm sido usados por vários candidatos nas campanhas. Essas discussões são próprias para as campanhas políticas?

Gabriel Chalita: Eu acho que elas diminuem o debate político. Elas são ruins para o debate político. É claro que as pessoas saberem o que os candidatos pensam faz parte do processo, o que cada candidato pensa. Agora, você transformar uma eleição presidencial em um debate sobre aborto... Primeiro que é assim: não é o presidente que define se terá aborto ou não. Quem define é o Congresso. Eu sou contra o aborto, já disse isso várias vezes, por razões as quais eu já expliquei. Mas, ás vezes, você tem um reducionismo disso. Então, o Brasil tem tantos problemas, aí você pega alguma coisa que você pega alguma coisa que você percebe que pode fragilizar o adversário e faz uma campanha com base nisso. Eu acho que isso é ruim para a política.

Folha/UOL: Sobre esses pontos, especificamente. Flexibilizar ou ampliar a lei do aborto atual. O sr. é a favor ou contra?

Gabriel Chalita: Eu sou contra. Eu acho que a lei...

Folha/UOL: Tem que ficar como está? Uma mulher, por exemplo, que é vítima de um estupro não poderia...

Gabriel Chalita: Mas já há previsão legal para o estupro.

Folha/UOL: Eu digo, se ela não foi vítima de um estupro e quiser fazer um aborto até a 12ª semana de gravidez, o sr. acha que isso não deveria ser permitido?

Gabriel Chalita: Não deveria ser permitido por uma questão que, para mim, é constitucional, que é o amplo direito à vida. Ali tem vida. Onde tem vida, você tem que proteger o direito à vida.

Folha/UOL: Mas no caso do estupro, pode?

Gabriel Chalita: O caso do estupro pode. Ela não é obrigada a fazer. É uma decisão dela. Você tem uma diminuição disso porque aquilo foi praticado por meio de um crime.

Folha/UOL: Mas aí, então, pela mesma concepção, vai se tirar uma vida do mesmo jeito.

Gabriel Chalita: É. Pela mesma concepção, você pode matar alguém como legítima defesa. Você também está tirando uma vida, mas você tem uma previsão legal que te garanta que faça isso, porque você seria morto, então, para não ser morto, você tem o direito de defender a sua vida.

Folha/UOL: Mas, nesse caso, não há uma vida em risco.

Gabriel Chalita: Você está defendendo uma vida da mulher. Você não sabe quem, enfim, a estuprou. Então, já houve uma construção legal nesse sentido. Eu não acho que a questão --e nem sinto que líderes religiosos defendam dessa forma-- não é prender a mulher que fez o aborto, acabar com a vida da mulher que fez o aborto. A questão é mostrar que isso, do ponto de vista penal, vai contra, vai de encontro a um mandamento constitucional que é o direito à vida.

Folha/UOL: Casamento gay. Deve haver alguma ampliação no que já existe a respeito de casamento gay no Brasil na legislação?

Gabriel Chalita: Eu acho que o Supremo decidiu isso de uma forma muito correta, mostrando que você não pode ter nenhum tipo de preconceito a uma relação estável entre duas pessoas, sejam elas do mesmo sexo ou de sexos diferentes. Agora, no caso das igrejas, eu acho que cada igreja tem que decidir o casamento que ela faz. Agora, contra todo tipo de preconceito, eu acho que é lamentável uma sociedade que tenha quaisquer sentimentos de homofobia, que destrua as pessoas porque elas têm uma orientação sexual diferente ou porque elas têm uma história de vida diferente.

Folha/UOL: Por exemplo, já que o sr. está falando sobre isso, teve o caso desse padre - padre Beto, de Bauru - que foi excomungado por ter manifestado apoio ao relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo. O sr. concordou com essa atitude de excomunhão do padre Beto, de Bauru?

Gabriel Chalita: A Igreja está dizendo que ele não foi excomungado por causa disso. Está dizendo que ele foi excomungado porque ele desobedeceu bispo, enfim, ele fez um juramento de obediência, ele desobedeceu isso, não é? Eu, na verdade, por causa da defesa dele da questão das pessoas poderem ser felizes, eu não vejo com bons olhos isso. Eu acho que ele tem o direito de expressar...

Folha/UOL: O sr. não vê com bons olhos...

Gabriel Chalita: A excomunhão. É. Padre Cícero foi excomungado também, não é?

Folha/UOL: O sr. acha, então, que não foi a melhor atitude da Igreja?

Gabriel Chalita: Eu não quero criticar [a Igreja]. Eu acho que a Igreja erra e acerta, mas...

Folha/UOL: Nesse caso?

Gabriel Chalita: Eu vi, inclusive, a demonstração do povo de Bauru pelo grande padre que ele é, pela forma carinhosa como ele trata as pessoas, pela liderança dele. Agora, eu não tenho detalhes do motivo da excomunhão, como é que ela foi desenvolvida. Eu também não quero ser leviano com relação a isso. Mas, quando eu vi a primeira colocação na imprensa, de que ele foi excomungado por causa disso, eu achei incorreta a excomunhão. É a minha opinião de leigo ali vendo. Eu acho que as pessoas precisam ser acolhidas, não excomungadas.

Folha/UOL: Descriminalização do uso de drogas, ou pelo menos das drogas leves. Deve ser adotada essa descriminalização no Brasil, ou não?

Gabriel Chalita: Sabe que essa é uma discussão complexa. Eu estava lendo, na Folha mesmo, a entrevista do ex-presidente da Colômbia dizendo que o Brasil está indo numa direção incorreta com relação a isso. A história da cracolândia, a internação compulsória, que isso não vai resolver. Eu em princípio, Fernando, eu sou contrário porque eu acho que uma droga leva às outras drogas. Mas eu estou cada vez mais estudando isso porque esse é um problema da sociedade. O crack é um problema da sociedade, é cruel demais. Você vê as pessoas se destruindo. E nós precisamos aprender com políticas de outros países. Eu fui de novo conhecer a experiência de Nova York, como é que eles conseguiram transformar uma área, que é o Chelsea, que era uma grande cracolândia, hoje num centro cultural totalmente diferente. E o caminho ali não foi internação compulsória. Mesmo com uma política de tolerância zero lá, foi um caminho de convencimento daquelas pessoas, de levar essas pessoas a clínicas terapêuticas. Em alguns casos, inclusive, com medicamentos com drogas porque eles tinham um processo de uma dependência de tal ordem... Então, eu acho que isso é um problema de saúde pública que a gente não deve transformar num tabu, mas deve chegar a algumas conclusões...

Folha/UOL: Mas o sr. tem alguma posição definida, ou não, hoje sobre flexibilizar o uso de drogas ou de drogas leves?

Gabriel Chalita: Em princípio, eu sou contra. Mas, dentro de um tratamento, talvez. Mas, no conceito geral, eu sou contra.

Folha/UOL: Outro tema que está muito no noticiário: redução da maioridade penal para 16 anos. A favor ou contra?

Gabriel Chalita: Eu acho que isso acaba virando uma coisa, assim... Há uma comoção... Na verdade, eu sou contra. Mas é até complicado eu dizer. Eu estou dizendo que sou contra por ser verdadeiro. Mas isso toma uma comoção. Se você fala se é contra em um debate... Na verdade, é mínimo o número de pessoas entre 16 e 18 anos que mata alguém. O que se chegou a conclusão em São Paulo, por exemplo, é que 100 pessoas que estão na Febem tiveram ligadas a um tipo de homicídio nessa faixa entre 16 e 18 anos. Então, o problema da violência não é 16 a 18 anos. Não é esse o problema. Agora, a proposta de você endurecer as penas desses adolescentes... Na verdade, o conceito correto não é uma pena, é um...

Folha/UOL: Período corretivo.

Gabriel Chalita: Período corretivo. É uma... Daqui a pouco eu lembro o nome jurídico completo. Mas, enfim, o período que esse adolescente pega, você pode ampliar e, ele fazendo 21 anos, ele não sair. Porque a crítica é assim: então ele tinha quase 18 anos, ele fica no máximo 3 anos, aí ele fica 3 anos ali, ele cometeu um crime bárbaro e ele sai. Então, isso é um incentivo a impunidade. Então, você poderia ter uma ampliação desse tempo que ele ficaria. Fazendo 21 anos, ele iria para um sistema penitenciário. Diferenciado, mas ele iria para um sistema penitenciário. Eu acho que isso é razoável.

Folha/UOL: Isso é a proposta do governador Geraldo Alckmin?

Gabriel Chalita: É. Eu acho que é uma proposta razoável. Você não está diminuindo a maioridade penal.

Folha/UOL: O sr. conhece a proposta?

Gabriel Chalita: Conheço. É uma boa proposta.

Folha/UOL: O sr. vê com simpatia?

Gabriel Chalita: Vejo com simpatia. Acho que ela tem que ser discutida, tem que ser debatida e tal, mas eu vejo com simpatia.

Folha/UOL: E essa proposta assim, e não a simples redução da maioridade penal?

Gabriel Chalita: É. E repito. A gente tem que tomar cuidado com essas políticas muito, assim, rápidas. Como se elas fossem resolver os problemas. Foi a mesma coisa a história da cracolândia. Eu me lembro que, até em um Datafolha, toda a população aprovou a cracolândia. Eu escrevi um artigo contra. Eu disse: "Não é isso que vai resolver". Depois, passou um tempo e a população analisou e não é aquilo que resolve. Você, para conseguir resolver um problema de uma pessoa drogadita, principalmente com crack, é internação. Mas internação que a pessoa quer ser internada. Mas você pode convencer a pessoa a esse processo. E é a internação de nove meses. Não é de uma semana.

Folha/UOL: O que o sr. achou da indicação do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, foi correta?

Gabriel Chalita: Ali teve uma discussão. Os grandes partidos acabaram pegando as comissões que consideram mais importantes. E aí o PSC é um partido que cresceu muito, ele tinha direito de ter uma indicação e colocou o Marco Feliciano. Eu acho que o debate é bom.

Folha/UOL: Mas ele, com as posições que tem muito peremptórias sobre, por exemplo, homossexuais ou, enfim, drogas, essas coisas todas, ele é a pessoa apropriada para presidir a comissão?

Gabriel Chalita: Eu poderia dizer o seguinte para você. Eu discordo da maior parte dessas posições da forma como ele coloca. Agora, ele foi eleito pelo povo. E ele é deputado. A gente vive em um regime democrático. Então, ele foi eleito pelo povo e foi eleito pelos deputados. Isso faz parte do processo.

Folha/UOL: Tudo bem. Deputado Gabriel Chalita, do PMDB de São Paulo, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.

Gabriel Chalita: Eu que agradeço. Obrigado.


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