Folha de S. Paulo


Ministro diz que indulto é 'ação humanitária' e que reação é 'natural'

Mateus Bonomi/Folhapress
O presidente Michel Temer (PMDB) dá posse ao novo ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, no Palácio de Planalto, em Brasília
O presidente Michel Temer (PMDB) dá posse ao ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (esq.)

O ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) afirmou que o indulto de Natal editado pelo presidente Michel Temer foi uma "ação humanitária" e que a reação da PGR (Procuradoria-Geral da República) aos benefícios "revela o pensamento do acusador".

"O indulto é uma ação humanitária que acontece historicamente desde o Império e beneficia condenados por crimes não violentos que já tenham cumprido uma parte da sua pena", disse nesta sexta-feira (29).

Para Marun, apesar de estabelecer regras que ampliam o horizonte de condenados que podem ser beneficiados, o decreto do governo seguiu os princípios de indultos anteriores.

"Como acontece todos os anos, foi publicado um decreto que é uma prerrogativa do presidente e não fugiu de forma alguma aos princípios do indulto", declarou.

A decisão de Temer de criar regras mais generosas foi frustrada pela PGR e pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A ministra Cármen Lúcia, presidente da corte, suspendeu trechos do decreto na quinta-feira (28).

O Palácio do Planalto ficou incomodado principalmente com críticas da PGR e de investigadores da força-tarefa da Lava Jato, que atacaram publicamente o presidente pela edição do decreto.

Marun disse que a reação é "natural". "A reação da procuradoria revela o pensamento do acusador. É natural que existam algumas reações, desde que não seja ferido o princípio da harmonia entre os poderes", afirmou.

NEGOCIAÇÃO

Temer deve publicar um novo decreto de indulto natalino para substituir os trechos que foram suspensos pelo STF. O Planalto vai elaborar um texto que concede o benefício a parte dos condenados que seriam favorecidos pela medida original.

Para evitar um conflito com o Judiciário, o presidente pretende acatar as observações feitas pela ministra Cármen Lúcia. A ideia é evitar que o episódio amplie o desgaste entre o Executivo e o Judiciário.

Caso não haja acordo, o presidente pretende recorrer da decisão por intermédio da AGU (Advocacia-Geral da União) após o recesso do Judiciário, em janeiro.

Em decisão provisória, a presidente do Supremo suspendeu o indulto a condenados que cumpriram um quinto da pena, se não reincidentes, e um terço da pena, se reincidentes, nos casos de crime sem grave ameaça ou violência a pessoa. A liminar também atinge o artigo que livra o condenado de pagamento de multas.

A ideia de conceder um indulto mais abrangente partiu do próprio presidente, que tem uma "visão mais liberal" sobre o benefício, segundo o ministro Torquato Jardim (Justiça). Temer foi criticado por ampliar o horizonte de favorecidos pela medida no momento em que as investigações da Operação Lava Jato atingem seus principais aliados políticos.

INDULTO DE NATAL Decreto de Temer tenta tornar medida mais generosa

PARA RECEBER O INDULTO

O que diz o decreto de número 9.246 de Temer

O item mais controverso contempla quem tenha cumprido um quinto da pena, se não reincidentes, e um terço da pena, se reincidentes, nos crimes praticados sem grave ameaça ou violência à pessoa independentemente do tempo total de condenação

Como era antes

O preso deveria ter sido condenado a, no máximo, 12 anos prisão e, caso não fosse reincidente, já ter cumprido o equivalente a um quarto da pena nos crimes praticados sem grave ameaça ou violência à pessoa

O que o decreto mudava

A principal mudança estava no tempo máximo de condenação exigido; o decreto tornava mais generosos os critérios para um presidiário receber a extinção da pena

Polêmica

A medida não acolheu recomendações feitas pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e recebeu críticas de entidades e promotores da Lava Jato

Próximos passos

Com a suspensão do decreto determinado pelo STF, ainda não está claro qual será o tempo de pena exigido para que se conceda o indulto nos casos atacados pela PGR

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PERGUNTAS E RESPOSTAS

O que é o indulto?

É um ato de clemência estatal que pode ser total ou parcial. No Brasil, é de competência exclusiva do presidente da República, segundo o artigo 84 da Constituição

Quem poderá ser contemplado com o indulto?

O preso que tenha cumprido os prazos para o benefício, à exceção de pessoas que tenham cometido crimes hediondos, de tortura e terrorismo

O que a PGR contesta?

A procuradora-geral, Raquel Dodge, alegou que chefe do Executivo não tem poder ilimitado de conceder indulto. Segundo ela, o texto é o "mais generoso" das últimas décadas e coloca a Lava Jato em risco

O que a presidente do STF, Cármen Lúcia, decidiu?

A ministra suspendeu os efeitos de três artigos, entre eles o que concede o indulto, genericamente, a quem cumpriu um quinto da pena, se não reincidente, e um terço da pena, se reincidente, nos casos de crime sem grave ameaça


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