Folha de S. Paulo


Dodge pede ao Supremo condenação de Gleisi e reparação de R$ 4 milhões

Franklin de Freitas - 31.out.10/Folhapress
CURITIBA, PR, BRASIL, 31-10-2010: Eleição Presidencial no Brasil, 2010: o ministro das Comunicações Paulo Bernardo e sua mulher, a senadora eleita Gleisi Hoffmann, votam para presidente, na Sociedade Água Verde. (Foto: Franklin de Freitas/Folhapress, 1556)
O ex-ministro Paulo Bernardo e sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em 2010

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a condenação da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, e de um empresário pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, além do pagamento de R$ 4 milhões como reparação de danos morais e materiais.

Dodge entregou nesta sexta-feira (24) as alegações finais no âmbito de uma ação penal derivada da Operação Lava Jato. Essa é a última etapa do processo, sob relatoria do ministro Edson Fachin, antes da sentença.

Segundo a procuradora-geral, o esquema de corrupção na Petrobras viabilizou R$ 1 milhão para a campanha de Gleisi ao Senado em 2010. O valor, de acordo com a PGR, saiu de empresas que tinham contratos com a estatal e era arrecadado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, que se tornou delator.

O dinheiro desviado era repassado ao doleiro Alberto Youssef, que operava o esquema na diretoria de Costa. Youssef, por sua vez, fez o repasse ao empresário Ernesto Kugler Rodrigues, segundo a acusação.

Dodge pediu ao STF que a pena de Gleisi e de Paulo Bernardo seja agravada. "No presente caso, Gleisi Hoffmann e seu marido se cuidam de políticos experientes. Ambos receberam valores em função de cargos que materializam em essência a outorga do povo do Estado do Paraná. Portanto, mais do que a corrupção de um mero agente público, houve corrupções em séries por titulares de cargos dos mais relevantes da República, cuja responsabilidade faz agravar sua culpa na mesma proporção", escreveu.

Os R$ 4 milhões pedidos pela PGR, para serem pagos em conjunto pelos réus, representam o quádruplo do valor da propina, "já que os prejuízos decorrentes da corrupção são difusos (lesões à ordem econômica, à administração da justiça e à administração pública, inclusive à respeitabilidade do parlamento perante a sociedade brasileira), sendo dificilmente quantificados", justificou Dodge.

OUTRO LADO

A denúncia contra os petistas foi recebida pela Segunda Turma do Supremo em setembro do ano passado. Em agosto deste ano, Gleisi negou as acusações e disse que o processo tem "alto grau de politização".

"Eu neguei o que estão me acusando e pedi para que o Ministério Público mostre quais são as provas de que eu cometi corrupção passiva ou lavagem de dinheiro", disse Gleisi na ocasião, após prestar depoimento.

"Eu não tive contato com Paulo Roberto Costa, nunca tive ascendência na Petrobras, nunca facilitei ou dei condições ou me relacionei com fornecedores da Petrobras para beneficiá-los. Isso teria que estar caracterizado no processo para estarem me acusando como estão", afirmou.

Paulo Bernardo também negou os crimes."Nunca pedi dinheiro ao Paulo Roberto Costa", disse, também em agosto.

Em nota, o advogado de Gleisi, Rodrigo Mudrovitsch, diz que a acusação da PGR se baseou "somente em depoimentos claramente conflitantes de três colaboradores premiados".

"Ao longo do processo, foram apresentados documentos, prestados testemunhos e ouvidos outros colaboradores que refutaram veementemente a acusação, seja sob o prisma da inexistente solicitação de valores a Paulo Roberto Costa ou da mentirosa história de entrega de valores por Alberto Youssef e Antônio Pieruccini", afirma Mudrovitsch.

Segundo a defesa, a senadora está "certa de que os fatos foram integralmente esclarecidos ao longo da instrução" e "apresentará as suas alegações finais confiando em sua absolvição através de um julgamento técnico por parte do Supremo Tribunal Federal".


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