Folha de S. Paulo


Bolsonaro defenderá agenda econômica liberal, diz 'guru' dele

Divulgação/OAB
Adolfo Sachsida, doutor em Economia pela UNB e advogado
Adolfo Sachsida, doutor em Economia pela UNB e advogado

Conselheiro do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) para assuntos econômicos, o pesquisador Adolfo Sachsida, 45, diz que o pré-candidato à Presidência deverá defender na campanha "uma pauta conservadora nos valores e liberal na economia".

Sachsida é funcionário do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento, e tem sido ouvido por Bolsonaro nas últimas semanas, em encontros pela manhã no gabinete do parlamentar e em caminhadas pelo Congresso.

"Sempre fora do meu horário de expediente", afirma o servidor público mencionado como "guru econômico" da candidatura. Ele tem doutorado em economia pela Universidade de Brasília e já lecionou na Universidade do Texas, nos Estados Unidos.

"Pelo que eu entendo, ele [Bolsonaro] proporia uma política econômica liberal, algo na linha do [Ronald] Reagan e da [Margaret] Thatcher", diz. Sachsida é filiado ao DEM e foi integrante do MBL (Movimento Brasil Livre) até 2015.

Procurado, o parlamentar não comentou as reuniões. Via assessoria, afirmou: "Tenho me encontrado com o citado economista, ocasiões em que de forma espontânea temos conversado diversos assuntos sobre economia".

O pesquisador rechaça a ideia de que atue como um "professor". Diz que faz as orientações como voluntário e que se aproximou de Bolsonaro após uma palestra do político. "É uma parceria em prol do nosso país. Não tem dinheiro envolvido."

Em junho, ao se declarar em um vídeo na internet a favor da candidatura do deputado, Sachsida disse que a única solução para o Brasil seria eleger alguém "de fora do establishment". Na gravação, criticou os bancos, o empresariado, o PT e o Tribunal Superior Eleitoral (por "livrar a cara" da chapa Dilma/Temer).

'BATE BASTANTE'

"As conversas são mais ou menos assim: ele explica para mim, por exemplo, a preocupação dele com a China, pergunta se eu concordo ou não", relata o pesquisador.

"Nesse tema, ele pensa como algumas pessoas da linha do conservadorismo americano que conheci no Texas. Eles têm algumas restrições ao comércio com a China, por ser uma ditadura. Noto que o deputado tem um pouco dessa pauta geopolítica."

No geral, diz Sachsida, o viés liberal de Bolsonaro "costuma bater bastante" com seus pensamentos. "Ele gostaria de diminuir a carga tributária. Falei: mais do que isso, o Brasil precisa hoje simplificar a tributação. A situação fiscal está muito ruim", afirma.

Outros conselhos do consultor econômico para o pré-candidato giram em torno de temas como a abertura da economia, a reavaliação de políticas de subsídio e cautela em relação a privatizações.

Sobre a possibilidade de venda da Petrobras, ideia com que Bolsonaro simpatiza, Sachsida advertiu: "Tem que pensar muito. Precisa vir dentro de uma estratégia de competitividade. Não é vender por vender. É patrimônio público e merece respeito".

Diretrizes citadas nas reuniões são colocadas no papel, mas mais como guia. "Não é nem perto de um plano de governo", diz o pesquisador.

Bolsonaro tem dito que quem vai falar de economia em nome dele, numa eventual gestão, será a equipe responsável pelo tema. Recentemente, viralizou em redes sociais o trecho de uma entrevista à RedeTV! em que o deputado se esquiva de uma pergunta a respeito de sua opinião sobre o tripé macroeconômico.

"Com base no que conversamos, o tripé vai ser mantido", diz o auxiliar do pré-candidato. "Aliás, vamos fazer o que este governo [Temer] está fazendo, que é a ideia de responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e independência do Banco Central para que ele controle a inflação."

Sachsida acredita que Bolsonaro é mais cobrado sobre conhecimento econômico do que ex-presidentes como Lula e Fernando Henrique Cardoso porque não teria na retaguarda um partido forte.

"Ele entende [de economia]. Tem clareza de que é necessário ter responsabilidade fiscal e diminuir a burocracia e a complexidade tributária", afirma o conselheiro.


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