Folha de S. Paulo


Arma letal, submarino é claustrofóbico e balançante

A Força de Submarinos da Marinha do Brasil tem mais de cem anos e sempre foi uma espécie de "legião estrangeira". A chamada Flotilha de Submersíveis foi criada em 1914 com a chegada ao Brasil dos submarinos F-1, F-3 e F-5 fabricados na Itália.

Até o final da Segunda Guerra os submarinos vieram de lá e durante o conflito foram usados principalmente para treinar as forças anti-submarinas da Marinha.

Após a guerra o país adquiriu submarinos de modelo americano. Depois foram comprados três submarinos no Reino Unido. A força atual é composta por cinco submarinos de projeto alemão. E estão em fabricação em Itaguaí (RJ) quatro submarinos convencionais de projeto francês.

Um dos submarinos da classe britânica Oberon está exposto no Rio como um navio-museu. O visitante inevitavelmente fica espantado com o espaço apertado a bordo. O corredor é estreito, há fios e tubulações por todos os cantos. É óbvio, mas precisa ser dito: a sensação de claustrofobia é intensa.

Bem, trata-se de um "barco" -os submarinistas gostam de usar o termo, "boat", em inglês- de projeto antigo. Certamente um submarino mais moderno deve ser mais confortável, certo?

Engano puro, como foi demonstrado por uma visita a um dos modernos submarinos de projeto alemão, o S-33 Tapajó, na Base Almirante Castro e Silva, na ilha de Mocanguê, Niterói. Mesmo atracado ele não ficava quieto. Meramente entrar nele por uma prancha balançante já foi uma pequena aventura. Até a escada que levava ao seu interior tinha que ser explicada ao visitante -"coloque o pé aqui, depois ali, segure com a mão desse jeito".

Uma vez no interior do "barco" as dimensões restritas ficam aparentes. Há o mesmo corredor em que apenas uma pessoa consegue passar de cada vez. Beliches minúsculos. Uma cozinha ridiculamente pequena, que faria um chef chorar.

Em compensação, a comida a bordo costuma ser de ótima qualidade, uma maneira de compensar as privações, segundo o capitão-de-corveta Rogerio da Silva Muniz Pereira, hoje oficial de planejamento da Força de Submarinos, e que em breve será o imediato (segundo em comando) do Tapajó.

A "praça d'armas" mal consegue dar espaço para meia dúzia de oficiais. Caberia dentro de um lavabo. O Tapajó e seus irmãos -S-30 Tupi, S-31 Tamoio, S-32 Timbira e o ligeiramente maior S-34 Tikuna- são o lar de 37 tripulantes, entre oficiais e praças; e sua autonomia é de até 50 dias de mar.

Mas, apesar desses detalhes, o submarino é acima de tudo uma arma de guerra letal. Os submarinistas costumam dizer que só existem dois tipos de navios: os submarinos e os alvos.

Mesmo com toda a tecnologia hoje disponível, é difícil detectar um submarino submerso.

No passado, eles eram "submersíveis", operavam principalmente na superfície, e mergulhavam para se esconder ou atacar. O moderno submarino foi criado pelos alemães no final da Segunda Guerra. Ele foi projetado para ficar mais tempo embaixo d'água, utilizando um número bem maior de baterias elétricas, e usando um snorkel para poder ligar os motores diesel.

Os submarinos da classe Tupi são mais rápidos submersos do que na superfície –21,5 nós (39,8 km/h) mergulhado, 12 nós (22,2 km/h) na superfície.

E como seria a sensação de submergir em um cilindro de metal claustrofóbico?

Queda Livre
Otavio Frias Filho
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Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, coincidentemente viajou a bordo do Tapajó anos atrás, e descreveu a experiência no livro "Queda Livre - Ensaios de Risco" (Companhia das Letras), lançado em 2003.

"Às 10h20 o Tapajó submergiu, a poucas dezenas de quilômetros da costa. O procedimento envolve uma série complexa de checagens, anunciadas pelo circuito interno. O navio inclina a proa para baixo o suficiente para que você, em pé tenha de se segurar em algum corrimão. Instrumentos representam a silhueta do barco, indicam suas condições e profundidade, é um momento de visível tensão", escreveu Frias Filho.

"A ausência de janelas e oscilações, uma vez atingida a cota desejada, dá ao mergulho uma percepção estranhamente irreal, como se do lado de lá do casco de 23 milímetros, fabricado pela estatal Nuclep, não estivesse aquela massa opaca de líquido 'querendo entrar', na expressão de um oficial", afirmou o jornalista.


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