Folha de S. Paulo


Câmara divulga em seu site áudio de Joesley Batista

A Câmara disponibilizou em seu site áudios recuperados pela perícia da Polícia Federal que estavam em sigilo por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal).

Os arquivos encontrados em um dos gravadores do empresário e delator Joesley Batista, dono da JBS, foram parte da polêmica que culminou na suspensão temporária dos benefícios de dois executivos da empresa.

O presidente Michel Temer, denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) em decorrência da delação da JBS, espera há quase quatro meses para ter acesso a essas gravações, com pedidos protocolados no Supremo.

O ministro Edson Fachin, relator do caso no STF, decretou sigilo, no fim de agosto, afirmando haver uma conversa com advogados, o que deveria ser protegido por lei. Procurada, a assessoria do ministro diz que esses áudios continuam em segredo até hoje.

O delator Ricardo Saud conversa com o ex-deputado João Magalhães (PMDB-MG), gravação recuperada pela perícia da PF

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Neste mesmo material, a Câmara disponibilizou vídeos da delação do operador financeiro Lúcio Funaro, também em sigilo no Supremo. O episódio gerou uma crise política entre o Planalto e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já que Funaro faz acusações a Temer.

Ao todo, a perícia da PF recuperou sete gravações que tinham sido apagadas por Joesley. Em uma delas, a mais polêmica, os delatores Joesley, Ricardo Saud e Francisco Assis e Silva falam sobre a participação do ex-procurador Marcello Miller na colaboração da empresa.

Joesley Batista conversa com o deputado Gabriel Guimarães (PT-MG), gravação recuperada pela perícia da PF.

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Sabendo que uma gravação com esse teor havia sido recuperada pela PF, a JBS decidiu entregar um outro áudio que continha citação de delatores sobre a atuação de Miller, como forma de prevenir que não fosse acusada de omissão de informações na delação.

Miller é suspeito de ter atuado no acordo como advogado da JBS enquanto ainda era procurador. Ele pediu exoneração do Ministério Público em março, mas só deixou o MPF em abril.

A segunda gravação fez o então procurador-geral da República Rodrigo Janot fazer um anúncio sobre a desconfiança da participação do ex-procurador e também comunicou que o acordo de Joesley e Saud estavam temporariamente suspensos. Em seguida, pediu a prisão de ambos.

Das sete gravações recuperadas, apenas três são audíveis. Além da conversa sobre Miller, há ainda um diálogo de Joesley com um interlocutor chamado Gabriel, que supostamente é o deputado Gabriel Guimarães (PT-MG). Outro é de Saud com o ex-deputado João Magalhães.

Os delatores Joesley Batista, Ricardo Saud, Francisco Assis e Silva e a advogada Fernanda Tórtima conversam dentro de um carro após reunião na PGR, gravação recuperada pela perícia da PF

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A Câmara recebeu os arquivos do Supremo no processo sobre a segunda denúncia feita pela PGR contra o presidente Temer. A previsão é de que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) vote o parecer contrário ao seguimento da denúncia nesta quarta-feira (18).

GRAVAÇÃO POLÊMICA

Além de ter menções sobre a participação de Miller no acordo de delação, a gravação polêmica recuperada pela perícia da PF também tem o advogado e delator da JBS Francisco de Assis e Silva insinuando possuir a gravação de uma reunião com a equipe de Rodrigo Janot durante as negociações da delação.

O diálogo, conforme reportagem publicada pela Folha no dia 7, ocorre dentro de um carro, logo depois de os colaboradores irem à PGR para ter retorno sobre as gravações secretas feitas com o presidente Michel Temer, seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures e o senador afastado Aécio Neves.

Segundo relatam na conversa, o encontro na PGR teve a presença de Eduardo Pelella, chefe de gabinete de Janot, e Sérgio Bruno, coordenador do grupo de trabalho da Lava Jato.

No carro estão, além de Assis e Silva, Joesley Batista, dono da JBS, e o executivo Ricardo Saud –a advogada Fernanda Tórtima também está presente no início, mas sai no caminho para outro compromisso de trabalho.

É possível concluir que o áudio é do dia 27 ou 28 de março, por volta de 10 horas da manhã. A gravação, que tem cerca de 30 minutos, se inicia com Tórtima avaliando a reunião na PGR, dizendo que o resultado havia sido muito positivo.

Quando ela deixa o carro, Saud aproveita para comentar sobre a relação entre Miller e a Procuradoria. "Não quis falar perto da Fernanda. Mas vocês viram como está claro que o Marcello está 'assim' com eles [Pelella e Sérgio Bruno]?".

O executivo relata aos colegas um episódio. "Você viu o que eu pedi pro Marcello hoje? Eu falei pra ele, 'Marcello, posso falar aqui?', ele disse 'pode'. Eu falei: 'a casa lá escondida que o Delcídio fez, você não falou pra mim que lá é o melhor lugar, que lá ninguém chega e tal?'. Aí você viu o que ele [Pelella ou Sérgio Bruno] falou? 'Tem o lugar que a gente fez com o Delcídio e tal', será que é tanta coincidência assim?".

Assis e Silva e Joesley, então, concordam com a teoria do colega. "Lógico, óbvio".

É nesse momento que Assis e Silva insinua ter uma gravação da reunião que acabara de acontecer. "E teve mais uma outra coisa que ele [Pelella ou Sérgio Bruno] falou, logo que o Joesley entrou, que era uma conversa, que que era mesmo? Eu vou ouvir aqui de novo".

Saud, segundo mostram outros áudios, foi o último a saber do início da negociação da colaboração e que Joesley estava gravando secretamente políticos.

Em algum momento, inclusive, houve receio por parte do dono da JBS de que Saud acabasse fazendo primeiro uma delação premiada, delatando Joesley.

Em depoimentos dados à PGR em meio ao imbróglio criado por causa da participação do ex-procurador, os delatores admitem ter tido contato com Miller e ter recebido orientações sobre a colaboração, mas negam que tenham sido orientados em gravações não autorizadas.


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