Folha de S. Paulo


Ex-governadores querem se candidatar novamente em 2018

Pedro Ladeira/Folhapress
O senador Roberto Requião (PMDB-PR), ex-governador paranaense
O senador Roberto Requião (PMDB-PR), ex-governador paranaense

Depois de ter governado o Paraná por 12 anos nas últimas três décadas, Roberto Requião (PMDB) pensa em se lançar nas urnas mais uma vez para comandar o Estado e dá de ombros para o discurso de renovação na política. "A novidade é bobagem", decreta. "Numa Olimpíada, você coloca o atleta experimentado."

Na contramão de previsões que apontam para uma disputa marcada pelo descrédito da política tradicional e pela profusão de novatos, o peemedebista e outros 14 ex-governadores estudam candidaturas para voltar ao cargo nas eleições de 2018.

O cenário de incerteza gerado pela crise política provocou um recuo de dirigentes partidários que pretendiam renovar seus quadros no ano que vem. O "recall" de nomes já conhecidos e o discurso da experiência voltaram a ser apostas.

Requião, que tentou voltar ao cargo de governador em 2014 e foi derrotado no primeiro turno, acredita que o cenário pode ser mais favorável agora. "Sem falsa modéstia, seria uma candidatura facílima. Acho que a opção do eleitor vai ser a seriedade e a experiência, não o novo."

Além dele, são citados como potenciais candidatos os ex-governadores André Puccinelli (PMDB), em Mato Grosso do Sul, Anthony Garotinho (PR), no Rio, Ronaldo Lessa (PDT), em Alagoas, e Renato Casagrande (PSB), no Espírito Santo, entre outros.

Saudade do meu ex

AVALIAÇÃO

Alguns desses nomes deixaram o cargo com boa avaliação popular, mas parte deles terá que enfrentar passivos políticos como baixa aprovação, derrotas nas eleições de seus sucessores e citações em escândalos de corrupção.

Garotinho, que governou o Rio de 1999 a 2002, ainda resiste a assumir uma candidatura, mas diz que pode usar a seu favor a investigação que culminou em sua prisão, durante um programa de rádio transmitido ao vivo.

"Isso aí só me fortaleceu. A perseguição é tão clara que as pessoas percebem que há algo mais por trás disso", afirma. Sua aposta? "Acho que o povo não vai arriscar em gente inexperiente, não..."

O ex-governador fluminense foi condenado a mais de nove anos de prisão na Operação Chequinho, que apura compra de votos na eleição de 2016 para a prefeitura de Campos, sua base política.

Ele nega irregularidades no caso e aguarda a decisão em segunda instância. Em setembro, ele foi alvo de um pedido de prisão cautelar domiciliar, decretada pelo juiz Ralph Manhães, da 100ª zona eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Rio e, posteriormente, revogada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A crise fiscal do Rio, o aumento da violência e a péssima avaliação do governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) ampliaram a incerteza na disputa do Estado.

Garotinho diz que venceu as eleições de 1998 quando a situação era "semelhante" e quer usar sua experiência para convencer o eleitorado. "Havia salários atrasados e o Estado vendia patrimônio para pagar despesas correntes."

No Maranhão, correligionários de Roseana Sarney incentivam a ex-governadora a disputar um quinto mandato no comando do Estado —apesar de ela ter deixado o cargo, em 2014, abalada por uma grave crise penitenciária e vendo seu grupo político derrotado nas urnas por Flávio Dino (PC do B).

Ela diz não ter tomado qualquer decisão sobre o próximo pleito, mas reforça a convicção de que a experiência contará pontos nas urnas.

"Avançamos muito, principalmente nas minhas duas últimas gestões. Isso me deixa com a consciência tranquila", afirma. "Sei que estávamos no caminho certo e que o povo sempre reconhecerá isso."

VELHOS CONHECIDOS

A nova aposta em velhos conhecidos nas eleições para governador está em sintonia com números detectados pelo Datafolha em sua última pesquisa nacional. Para 79% dos eleitores, é "muito importante" que um candidato a presidente tenha experiência administrativa.

Quase dois terços (65%) afirmaram prezar um "passado político conhecido" e só 31% destacam a novidade como característica relevante.

Os dados vão contra a expectativa criada pelas cúpulas de diversos partidos após os resultados das eleições municipais de 2016, quando se consagraram os novatos João Doria (PSDB), em São Paulo, e Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte.

Muitos dirigentes passaram a revisar suas estratégias depois do segundo turno da eleição suplementar para o governo do Amazonas, em agosto deste ano. Houve baixo comparecimento às urnas e quase 50% de abstenção. O eleito foi o veterano Amazonino Mendes (PDT), com 77 anos de idade e três mandatos de governador na bagagem.

"A questão da renovação será apenas um ponto do debate nas próximas eleições", avalia Renato Casagrande, ex-governador do Espírito Santo (2011-2014) e secretário-geral do PSB.

"O eleitor também está interessado na experiência, em nomes que ele conhece."


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