Folha de S. Paulo


Bolsonaro cancela participação em debate em universidade americana

Joel Silva/Folhapress
O deputado Jair Bolsonaro visita a festa do peão de Barretos
O deputado Jair Bolsonaro visita a festa do peão de Barretos

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), pré-candidato à Presidência, cancelou, nesta quinta (12), sua participação em um debate na Universidade George Washington (GWU), na capital americana, que estava programado para o fim da tarde desta sexta-feira (13).

O organizador da conferência, Mark Langevin, diretor da Iniciativa Brasil, da Escola Elliott de Assuntos Internacionais da GWU, disse ter recebido um telefonema da equipe que está com Bolsonaro em Nova York dizendo que o deputado não iria mais para Washington.

"Fiquei totalmente decepcionado", disse Langevin. "Faz uma semana que eu estava notando uma certa ansiedade da turma [equipe do deputado]. Hoje [quinta] recebi um telefonema do chefe da delegação dizendo que não ia dar."

O diretor fez questão de ressaltar que a decisão de cancelar não foi da universidade, que estava sendo questionada por organizar o evento. "Inclusive o meu reitor me mandou um recado hoje falando que não era para cancelar, só se tivesse uma ameaça de violência. E ele depois me falou que queria, inclusive, estar presente", afirmou.

Uma pessoa que está coordenando a agenda do pré-candidato em Nova York disse à Folha que o gabinete do deputado em Brasília pediu para que se concentrasse nos compromissos na cidade.

"Surgiu um 'high class problem', uma coisa até legal", disse Gerald Brant, empresário que auxilia a equipe de Bolsonaro nos EUA. "A demanda foi tão alta aqui que preferimos ficar para tentar encaixar outros compromissos."

Entre eles, está a ida ao presídio de Rikers Island, visita que teria acontecido na chegada do deputado à cidade, mas foi desmarcada.

Nesta quinta (12), Bolsonaro jantou em Hell's Kitchen, num restaurante brasileiro a poucos metros de um bar gay. Da mesma forma que na noite anterior, numa churrascaria no Queens, as janelas do local foram cobertas com bandeiras do Brasil.

Na saída, Bolsonaro saiu pela cozinha do restaurante, para evitar passar pelo salão, onde um grande número de brasileiros jantavam, alguns curiosos para ver o deputado.

Ele não quis comentar por que cancelou a ida Washington, dizendo apenas que foi uma decisão de sua equipe.

Na semana passada, um grupo de acadêmicos brasileiros e ativistas contrários a Bolsonaro criou um abaixo-assinado para tentar impedir a palestra. Nesta quinta, havia 900 assinaturas - só sete delas identificadas como alunos ou professores da GWU. Grande parte dos signatários tem ligação com universidades no Brasil.

Segundo o texto, o evento com Bolsonaro na universidade "faz parte de um tour que busca validá-lo como um candidato viável para a Presidência brasileira e suavizar sua imagem preconceituosa para cortejar mais votos liberais".

No último dia 5, Langevin havia respondido à carta dizendo reconhecer "que muitos se opõem a qualquer dialogo com o deputado", mas que a programação estava mantida.

"Ainda assim, democracia requer respeito e bom senso com todos, mesmo com aqueles que têm opiniões e promovem preferências de políticas questionáveis, se não antidemocráticas", escreveu Langevin, em carta datada de quinta (5).

Na carta, o diretor dizia que seu instituto "não endossa as provocações de Bolsonaro", mas que o convite tinha sido feito para que o deputado "esclarecesse e debatesse suas posições".

Este não foi o primeiro evento canceladono "tour" de Bolsonaro pelos EUA, que incluiu, além de Nova York, passagens por Miami e Boston.

Em Nova York, um encontro com investidores na XP Investimentos também foi desmarcado -sem que o grupo desse explicações.


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