Folha de S. Paulo


Odebrecht tenta evitar racha entre delatores

Uma divergência entre os depoimentos de Marcelo Odebrecht e de um outro ex-executivo da empreiteira levou a Odebrecht a convocar reuniões para debater o alinhamento entre delatores na Operação Lava Jato.

Os delatores foram convidados para o encontro a pretexto de serem atualizados sobre o andamento dos processos decorrentes das delações premiadas. Chegando lá, porém, o assunto principal foi a discrepância nos relatos à Justiça. A orientação da companhia foi a de que os delatores devem evitar contradições.

Há um mês, em depoimento ao juiz Sergio Moro, na ação penal sobre a compra de um terreno para o Instituto Lula, Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, cobrou publicamente que seus ex-subordinados evitem "omissões e mentiras" em seus relatos.

Essa mesma audiência escancarou um desacordo entre o empreiteiro e o ex-executivo da Odebrecht Realizações Paulo Melo, réu sob acusação de lavar dinheiro para Lula.

Marcelo disse ter informado Melo que a empresa arcaria com a compra do terreno do instituto, em 2010, e que debitaria os gastos de uma espécie de conta-corrente de repasses clandestinos do grupo com o PT. Também disse que o ex-executivo coordenou pagamentos para o projeto.

O subordinado, porém, negou que tivesse conhecimento de detalhes sobre a propina. Disse a Moro que não cuidou dos pagamentos e que não via na época ilegalidade na atuação da empreiteira junto ao Instituto Lula. A defesa de Melo vai pedir a absolvição dele nas alegações finais. Mesmo tendo fechado o acordo de delação em conjunto, cada delator da Odebrecht geralmente possui advogado próprio nas ações penais.

Uma eventual absolvição perante Moro pode ajudar o réu a postergar o cumprimento da pena já acertada no acordo de delação. O acordo feito entre delatores e Ministério Público Federal era que os executivos começariam a cumprir pena imediatamente após a validação da colaboração premiada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Conforme a Folha mostrou na semana passada, despacho da presidente do STF, Cármen Lúcia, abre a possibilidade de que os delatores só passem a cumprir a punição combinada após o fim dos processos, o que pode levar anos.

Entre os 77 delatores, apenas Marcelo Odebrecht está preso hoje e somente outros quatro já receberam condenações. A maioria não virou réu.

Na audiência com Moro em setembro, o empresário disse: "Nossos colaboradores precisam virar a chave. Eles não podem se omitir de responsabilidades porque dificulta a elucidação do caso".


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