Folha de S. Paulo


Advogado vai contestar caminho da propina para Michel Temer

Jaime Casal/El Pais
Rodrigo Tacla Duran, exletrado de la constructora Odebrecht, el pasado día 19 de Julio durante la entrevista en Madrid. Foto: Jaime Casal/El Pais ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Rodrigo Tacla Duran, advogado que trabalhou para a Odebrecht

O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht até 2016, usará em sua defesa na Lava Jato o registro de uma troca de e-mails indicando que uma conta bancária sua no exterior que teria sido usada pela empreiteira para pagar propina ao presidente Michel Temer estava fechada no ano da transação mencionada pela Procuradoria-Geral da República. Temer foi denunciado por organização criminosa e obstrução de justiça.

Duran é acusado pela Lava Jato de lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. Ele tentou, sem sucesso, um acordo de delação premiada. Da Espanha, país onde tem cidadania, ele dispara acusações contra a Odebrecht, o juiz Sergio Moro e a força-tarefa do Ministério Público. Moro pediu sua prisão, mas a Espanha se recusou a extraditá-lo. Ele agora é considerado um foragido da Justiça.

A denúncia contra o presidente Temer contém uma perícia do material apreendido no departamento de propinas da Odebrecht. O laudo concluiu que, entre 2011 e 2012, houve repasses que somaram US$ 19,8 milhões para o presidente Temer, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

O dinheiro, diz o laudo, foi repassado via empresas offshores (constituídas em paraísos fiscais) que tinham conta no Meinl Bank, em Antígua, banco comprado pela Odebrecht.

Segundo a denúncia, em 2011 e 2012 as empresas Innovation, Klienfeld, Magna e Trident fizeram repasses que somaram US$ 11,55 milhões e depois US$ 8,25 milhões numa conta da GVTEL, empresa de Duran. A perícia diz que a conta da GVTEL também estava no Meinl Bank.

Para tentar derrubar a tese da Procuradoria, Duran vai usar em sua defesa uma troca de e-mails entre ele e Vinícius Borin, administrador do banco, em que eles combinam o encerramento da conta da GVTEL no Meinl Bank, ainda em 2010.

A primeira mensagem é enviada por Borin (vinicius@meinlbank.com.ag) para Duran (gvtel_corp@gvtelnet.com) em 29 de outubro de 2010. "Dr. a conta da GVTEL já tem 30 dias que está aberta sem movimento. As contas com mais de 30 dias sem movimentação temos que encerrar por política do banco. Você pretende utilizar a conta nos próximos dias?", pergunta Borin.

Duran responde no dia primeiro de novembro. "Não pretendo utilizar a conta da GVTEL. Como você sabe havia aberto a conta para realizar investimentos próprios, entretanto, por questões fiscais, locais da Espanha, prefiro evitar neste momento movimentar uma conta em nome da empresa espanhola em país considerado paraíso fiscal", diz.

No dia seguinte, Borin pede que ele formalize o pedido de encerramento e em 3 de novembro Duran envia para Borin a mensagem "OK, segue anexo assinada".

COMPROVANTES

Os procuradores anexaram na denúncia comprovantes das operações feitas pelas quatro offshores que depositaram para a GVTEL. Os atestados apontam que os repasses para a empresa de Duran foram feitos por transferência interna, o que fez o perito concluir que a conta da firma do advogado estava localizada no Meinl Bank.

Os documentos bancários informam as datas das transferências, o valor de cada operação, os números das contas das offshores, mas não o número da conta GVTEL, identificada só pelo nome.

OUTRO LADO

Procurada pela Folha, a Procuradoria-Geral da República disse, em nota, que não vai se manifestar neste momento em relação a este caso "uma vez que a ação penal depende da apreciação da Câmara e do Supremo, a depender da decisão dos deputados".

A Odebrecht disse, também em nota, que com os depoimentos de 77 executivos e ex-executivos fez um dos mais amplos, detalhados e comprovados relatos de casos de corrupção envolvendo empresas, autoridades e agentes públicos no Brasil e em vários países.

"A qualidade e a eficácia da colaboração da empresa vêm sendo confirmadas dia a dia, e têm sido instrumento valioso para a ação da Justiça", diz a nota.

A empresa diz que continua colaborando com as investigações de forma definitiva, prestando todos os esclarecimentos necessários às autoridades. "A empresa está comprometida em combater e não tolerar mais qualquer forma de corrupção, e também está decidida a atuar sempre com ética, integridade e transparência, valores consagrados e respeitados pela sociedade."

O advogado Rodrigo Tacla Duran disse, via seu assessor de imprensa, que todo seu patrimônio e suas empresas no Brasil e no exterior estão declarados à Receita Federal e ao Banco Central. "Fui fiscalizado por quase dois anos pela Receita, que nunca me multou ou aplicou qualquer sanção."


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