Folha de S. Paulo


Moro se diz 'cansado' e que trabalho da Lava Jato em Curitiba está no fim

Dário Oliveira - 15.ago.2017/Folhapress
O juiz federal Sérgio Moro participa de debate sobre a autonomia das instituições brasileiras e o efeito pós Lava-Jato nos poderes e nos negócios, nesta terça-feira (15) durante a 4ª edição do Fórum Mitos & Fatos, promovido pela rádio Jovem Pan, no hotel Tivoli em São Paulo.
O juiz federal Sergio Moro durante debate em São Paulo

O juiz Sergio Moro afirmou nesta segunda-feira (2) que o trabalho da Operação Lava Jato em Curitiba se aproxima do fim, mas que "o movimento anticorrupção" no Brasil tomou outras formas e seguirá por outros caminhos.

"Em Curitiba há os contratos da Petrobras e das pessoas que se beneficiaram deles. Elas já foram processadas, e acredito que está indo para a fase final. Mas o rótulo de Lava Jato existe, faz parte do movimento anticorrupção", afirmou o magistrado, que conduz os processos da operação na capital paranaense.

Moro esteve em São Paulo para receber uma homenagem da Universidade Notre Dame, dos EUA, com um título da instituição que já foi dado a personalidades como Madre Teresa de Calcutá.

O prêmio foi entregue em um almoço no hotel Fasano. O juiz fez o mesmo discurso duas vezes —em inglês e depois em português.

Ele não especificou a data em que a força-tarefa será completada no Paraná. "Boa parte do trabalho foi feita, mas isso não significa que não tem trabalho."

Ele negou a possibilidade de que os processos sejam enviados a um outro juiz: "Estou cansado, foi um trabalho duro, mas não há previsão concreta de tirar [o processo da] vara".

DITADURA

A ditadura militar foi "um grande erro", disse Moro na solenidade.

A democratização, de acordo com o magistrado, trouxe novos problemas. "Houve abuso do poder público para benefício privado, e a democracia exige a regra da imposição da lei."

Os brasileiros, segundo o juiz, perceberam os efeitos perniciosos da corrupção durante o escândalo do mensalão, mas o movimento para combatê-la se fortaleceu. Para ele, acabou no país a era dos "barões ladrões" (referência ao fim do século 19, nos Estados Unidos, quando grandes empresários se aproveitaram do Estado para enriquecer).

Moro não respondeu se a aceitação ou não da denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados poderia pôr essa tese em risco. "Não dei declarações durante o impeachment da presidente Dilma, não vou me colocar desta vez", justificou-se.

Denunciado sob acusação de obstrução da Justiça e participação em organização criminosa, Temer faz articulações com deputados para tentar barrar o seguimento da investigação.

ELEIÇÕES

"Quem fizer pesquisa eleitoral que inclua meu nome perderá seu tempo. Já fiz essa afirmação categoricamente", disse o juiz. Seu futuro, disse, é como magistrado.

Moro, que tem descartado concorrer a presidente, alcançou empate técnico com o ex-presidente Lula em simulação de segundo turno na última pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo (1º). Esse hipotético confronto, de acordo com o levantamento, seria o único em que o petista não venceria o adversário.

Quando um repórter estrangeiro lhe perguntou se a possibilidade de uma eleição de Lula, condenado por ele na Lava Jato, representaria o fracasso do trabalho anticorrupção, Moro não respondeu, afirmando que há outros processos em curso.

Por fim, o magistrado defendeu as prisões preventivas, argumentando que "nunca foram usadas para forçar colaborações". Afirmou que elas são um mecanismo que existe para proteger as pessoas e que a maioria das prisões determinadas por ele não foi revertida por instâncias superiores.


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