Folha de S. Paulo


Defesa de Lula diz que Palocci não tem provas e busca fechar delação

Bruno Santos - 03.set.2017/Folhapress
O ex-presidente Lula discursa em Timon (MA) neste domingo (3). É o décimo oitavo dia da caravana do petista por 25 municípios do Nordeste.
O ex-presidente Lula discursa em Timon (MA) em sua caravana pelo Nordeste

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o depoimento de Antonio Palocci, ex-ministro de seu governo, é contraditório, carece de provas e almeja um acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato.

Os advogados sustentam que as acusações de Palocci estão em desacordo com as informações fornecidas por "testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas". Essa mesma tese foi defendida pela assessoria de imprensa do Instituto Lula, em nota divulgada na noite desta sexta (6).

Ambos defendem que as acusações contra Lula são "falsas" e "sem provas".

Nesta tarde, Palocci afirmou ao juiz Sergio Moro que Lula avalizou o pagamento de R$ 300 milhões em propinas da Odebrecht ao PT entre o final de seu governo (2003-2010) e os primeiros anos do governo Dilma.

O ex-ministro foi ouvido na ação em que Lula é acusado de ter recebido um terreno de R$ 12,4 milhões, que seria a nova sede do Instituto Lula (negócio que acabou não se concretizando), além de um apartamento de R$ 540 mil em São Bernardo do Campo (SP), vizinho ao que o petista mora com a família. Em junho, ele foi condenado por Moro a 12 anos de prisão.

"Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula. Como Léo Pinheiro [ex-presidente da OAS] e Delcídio [do Amaral, ex-senador], Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena", disse o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins.

"Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo Ministério Público", prosseguiu Zanin.

A assessoria de imprensa do Instituto Lula diz que Palocci "desiste de se defender" e "valida as acusações do Ministério Público para obter redução de pena".

A organização "reafirma" não ter pedido ou recebido um terreno da Odebrecht e, em nome de Lula, diz que o ex-presidente nega ter cometido atos ilícitos "nem antes, nem durante, nem depois de exercer dois mandatos de presidente da República".

Veja, abaixo, a íntegra dos dois posicionamentos.

Nota de Cristiano Zanin Martins, advogado do ex-presidente Lula

Palocci muda depoimento em busca de delação

O depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas.

Preso e sob pressão, Palocci negocia com o Ministério Público acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula.

Como Léo Pinheiro e Delcídio, Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do Ministério Público para obter redução de pena.

Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito, como "pacto de sangue", esta última anotada em papéis por ele usados na audiência.

Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo Ministério Público.

Nota do Instituto Lula

A história que Antonio Palocci conta é contraditória com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e provas e que só se compreende dentro da situação de um homem preso e condenado em outros processos pelo juiz Sérgio Moro que busca negociar com o Ministério Público e o próprio juiz Moro um acordo de delação premiada que exige que se justifique acusações falsas e sem provas contra o ex-presidente Lula.

Palocci repete o papel de réu que não só desiste de se defender como, sem o compromisso de dizer a verdade, valida as acusações do Ministério Público para obter redução de pena e que no processo do tríplex foi de Léo Pinheiro. A acusação do Ministério Público fala que o terreno teria sido comprado com recursos desviados de contratos da Petrobras, e só por envolver Petrobras o caso é julgado no Paraná por Sérgio Moro. Não há nada no processo ou no depoimento de Palocci que confirme isso. Sobre a tal "planilha", mesmo Palocci diz que era um controle interno do Marcelo Odebrecht e que "acha" que se refere a ele. Ou seja, nem Palocci conhecia a tal planilha, quanto mais Lula.

Palocci falou de uma série de reuniões onde não estava e de outras onde não haveriam testemunhas de suas conversas. Todas falas sem provas.

Marcelo por sua vez diz ter pedido que seu pai contasse para Lula e Emílio negou ter contado isso para Lula.

O réu Glauco da Costa Marques reafirmou em depoimento ser o proprietário do imóvel vizinho ao da residência do ex-presidente e ter contrato de aluguel com a família do ex-presidente, e que está recebendo o aluguel. Uma relação de locador e locatário não se confunde com propriedade oculta.

Processos fora da devida jurisdição com juiz de notória parcialidade, sentenças que não apontam nem ato de corrupção nem benefício recebido, negociações secretas de delação com réus presos que mudam versões de depoimento em busca de acordos com o juízo explicitam cada vez mais que os processos contra o ex-presidente Lula na Operação Lava Jato em Curitiba não obedecem o devido processo legal.

O Instituto Lula reafirma que jamais solicitou ou recebeu qualquer terreno da empresa Odebrecht e jamais teve qualquer outra sede que não o sobrado onde funciona no bairro do Ipiranga em residência adquirida em 1991.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirma que jamais cometeu qualquer ilícito nem antes, nem durante, nem depois de exercer dois mandatos de presidente da República eleito pela população brasileira.


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