Folha de S. Paulo


Advogada 'escondida' fez ponte entre Miller e Joesley

Divulgação/MPMG
Ex procurador da Republica, Marcelo Miller. Foto: Divulgacao/MPMG ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O ex-procurador Marcelo Miller, que foi braço-direito de Rodrigo Janot na Procuradoria

Pivô da polêmica envolvendo o processo de delação da JBS, o ex-procurador Marcello Miller foi apresentado ao empresário Joesley Batista por uma advogada que também já havia participado de casos de gravações escondidas, segundo apurou a Folha.

Fernanda Tórtima conheceu Miller no Rio, cidade de ambos, e mantiveram proximidade ao longo dos anos.

Eles trabalharam juntos em algumas oportunidades, cada um de um lado do balcão, quando Miller ainda estava no Ministério Público.

O caso mais emblemático que contou com a participação da dupla foi o de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que usou dos mesmos procedimentos de gravação escondida em seu acordo de colaboração.

Ela era advogada de Machado e Miller, então auxiliar próximo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tocou o acordo do lado do Ministério Público.

Apesar de ter iniciado o contato com Joesley no início deste ano, Tórtima só aparece formalmente como advogada do empresário em junho, em depoimentos na Polícia Federal, no Ministério Público e em outras medidas.

Tórtima foi quem acompanhou Joesley e Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico da J&F, no inquérito administrativo instalado pela corregedoria do MPF contra Angelo Goulart Vilella.

Procurador da República, Vilella foi acusado pelos delatores de ter recebido propina em troca de informação privilegiada da força-tarefa da Operação Greenfield. Vilella ficou preso de maio a agosto em decorrência da delação. Ele nega as acusações.

Em uma lista de registros de ligações apresentadas para a Procuradoria, duas foram realizadas por Joesley para Tórtima, ambas no dia 23 de março, uma de 12 minutos e outra de 7 minutos.

De acordo com Janot, o primeiro contato para dar início a tratativas de acordo aconteceu por volta do dia 27 de março, ou seja, quatro dias depois das conversas.

A Folha perguntou para a JBS quando teria acontecido a contratação de Tórtima, mas a empresa se limitou a responder genericamente que os colaboradores continuam à disposição para cooperar com a Justiça. "Não é possível fornecer detalhes porque esses dados estão sob sigilo."

A reportagem argumentou que esse ponto não era secreto, mas a assessoria de imprensa da companhia mesmo assim não quis comentar.

Procurados, Tórtima e Miller não quiseram comentar. Em nota, o ex-procurador afirmou que não cometeu qualquer crime ou ato de improbidade administrativa.

OUTRO LADO

No dia seguinte à publicação, a advogada Fernanda Tórtima enviou nota negando que tenha atuado informalmente para Joesley.

"Diferentemente do que foi publicado, em nenhum momento me mantive escondida e, ao contrário, venho atuando ativa e formalmente desde novembro de 2016, prestando assessoria jurídica aos executivos da empresa em inquérito envolvendo o BNDES, com procuração e petições juntadas nos autos".

A partir de março, quando ela diz que tomou ciência da intenção dos executivos de realizarem uma colaboração, "fui consultada em algumas oportunidades sobre o tema. E depois de publicizada a colaboração, continuei a atuar ativa e formalmente no inquérito envolvendo BNDES, inclusive levando clientes para depoimentos na PF e na PRDF, bem como ajuizando reclamação no STF e mandados de segurança no TRF1".

"Por fim, também ao contrário do que foi noticiado, não fui responsável por apresentar Marcello Miller a Joesley Batista", concluiu.


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