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Aliado de Beto Richa recebeu R$ 12 mi, diz delator

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Beto Richa e Fernanda Richa (à frente)Betina Antonio e Maurício Fanini (atrás)
O governador Beto Richa e sua mulher, à frente, e Maurício Fanini ao fundo

O dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, disse em acordo de delação premiada que pagou R$ 12 milhões de propina a um intermediário do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB).

O acordo foi assinado com a Procuradoria-Geral da República e aguarda homologação do ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux.

Segundo Souza, parte dos recursos foi entregue no banheiro de uma secretaria e outra parte foi camuflado em caixas de garrafas de vinho.

O delator relata que nesse montante está incluída uma mesada de R$ 100 mil, paga em 2015, que abasteceria as campanhas de Richa, seu irmão e seu filho em 2018. O governador nega as acusações.

O intermediário apontado pelo empreiteiro é Maurício Fanini, amigo de Richa que foi nomeado por ele diretor da Sude (Superintendência de Desenvolvimento Educacional), braço da Seed (Secretaria Estadual de Educação).

Fanini chegou a ser preso pela Operação Quadro Negro e é apontado por investigadores como um dos responsáveis por desvios de cerca de R$ 20 milhões na construção de escolas públicas em conjunto com o hoje delator Eduardo Souza.

A reportagem teve acesso à delação, que também cita o ministro da Saúde, Ricardo Barros, conforme revelou a Folha nesta sexta (1º).

Souza relatou ainda que Fanini acompanhou Richa em uma "viagem da vitória" a Miami e ao Caribe para comemorar a reeleição do político ao governo, em 2014.

O empreiteiro disse que deu ao ex-diretor US$ 20 mil em espécie na ocasião. Contou ainda que Fanini afirmou "que durante a viagem comprou um relógio rolex e deu de presente para o Beto Richa". "Depois ele [Fanini] me mostrou fotos dessa viagem".

O delator afirmou que, em 2015, quando Fanini foi nomeado presidente da Fundepar, autarquia que cuidaria da parte administrativa da Seed, inclusive da construção das escolas, passou a dar uma mesada de R$ 100 mil que seria direcionada ao governador do Paraná.

"Demos R$ 100 mil por mês a ele [Fanini], porque o Beto vai ser candidato a senador, o Pepe Richa (irmão do governador) vai ser candidato a deputado estadual e o Marcelo Richa (filho do governador) a deputado estadual", afirmou.

A mesada teria durado pouco tempo porque meses depois de assumir a Fundepar, Fanini foi exonerado com a deflagração da Quadro Negro, em julho de 2015.

O delator afirma que Fanini "dizia que era amigo pessoal do governador Beto Richa, com quem jogava tênis". O empreiteiro relatou que entregou cerca de R$ 12 milhões em espécie a Fanini.

"Ele [Fanini] disse que, conforme acertado com o governador, parte desses valores ficaria com ele e parte iria para a campanha".

Souza relata que os desvios chegavam ao tucano pela seguinte via: o empreiteiro repassava a propina a Fanini, que direcionava parte do montante a dois assessores e a um primo do governador.

O delator afirmou que primeiramente as entregas a Fanini aconteceram no banheiro da Sude. Os valores passaram a ser muito altos, segundo ele, e o padrão mudou.

"Eu pegava, por exemplo uma caixa com 12 garrafas, deixava duas e preenchia o restante com dinheiro. Eu deixava apenas duas garrafas para que fizesse barulho quando alguém pegasse e não levantasse suspeitas".

OUTRO LADO

O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), classificou de "mentirosas" as declarações do delator Eduardo Lopes de Souza, dono da construtora Valor. Richa afirmou que o empreiteiro fez uma delação com mentiras para "amenizar a sua pena".

"Tais ilações sequer foram referendadas pela Justiça. E suas colocações são irresponsáveis e sem provas", disse, em nota.

O governador nega ter tido qualquer contato com Souza e reitera que "sequer fez ou pediu para alguém fazer qualquer solicitação a essa pessoa para a campanha".

Richa afirmou que as doações de sua campanha de 2014 seguiram a lei.

Sobre os danos causados pela Valor, disse que a Procuradoria do Estado entrou com ações por dano ao erário contra a construtora e pessoas ligadas à empresa, como o delator. A Folha não conseguiu contato com Maurício Fanini.

Editoria de Arte/Folhapress
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