O ato em apoio ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, reuniu nesta quinta-feira (24) artistas, políticos, juízes e procuradores no centro do Rio. A manifestação colocou no mesmo lado até os antagônicos grupos "Vem pra Rua" e "Mídia Ninja".
Ao lado do cantor Caetano Veloso e do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Bretas ouviu discursos com críticas ao ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O juiz não falou e permaneceu o tempo todo sem esboçar reações –reagiu apenas em agradecimento, quando foi aplaudido.
"Os artistas são uma parte visível da sociedade. É importante que se saiba que a sociedade está se movimentando. [...] Há uma ameaça à Lava Jato e ao desfazimento da organização corrupta que insiste em se manter no Brasil", disse Caetano.
"Mendes conseguiu reunir pessoas que pensam diferente e que estão aqui. Há tanta corrupção que não há mais lado A e B. Essa coisa de 'mortadela' e 'coxinha'", afirmou o ator Marcelo Serrado, que interpreta o juiz Sergio Moro no filme "A Lei é para Todos".
A manifestação foi organizada em resposta a Gilmar Mendes, que classificou novos mandados de prisão expedidos por Bretas como "atípicos".
Na semana passada, o ministro disse: "Em geral o rabo não abana o cachorro, é o cachorro que abana o rabo".
"Ele desceu às raias mais baixas de um comentário a respeito de uma decisão judicial. A população fica sem entender como um ministro do STF vai se comportar em relação a uma decisão judicial", disse o presidente da Ajufe (Associação de Juízes Federais), Roberto Veloso.
Ele afirmou que Gilmar tem tomado atitudes que combinam com os que querem "intimidar o Judiciário".
HABEAS CORPUS
Na véspera da declaração, Gilmar havia concedido habeas corpus para o empresário Jacob Barata Filho e o ex-presidente da Fetranspor Lélis Teixeira, presos na Operação Ponto Final.
Bretas utilizou processos já em andamento para expedir novos mandados e impedir a saída dos acusados. Essas decisões foram criticadas pelo ministro, que determinou mais uma vez a saída dos dois, e em seguida estendeu o benefício a outros sete réus.
A procuradora Maria Cristina Cordeiro, representante da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores), pediu que a presidente do STF, Cármen Lúcia, se posicione sobre o caso e coloque em pauta o pedido de suspeição contra Gilmar proposto pelo procurador-geral Rodrigo Janot.
Também alvo de críticas de Gilmar, os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Rio decidiram "adotar" os adjetivos atribuídos a eles pelo ministro.
"Trêfegos e barulhentos", como o magistrado se referiu aos membros do MPF, se tornou o nome do grupo de mensagens dos investigadores.
"Nós não aceitamos adjetivações. Mas uma vez que elas foram dadas, como bons cariocas, vamos levar na esportiva. É a melhor resposta que a gente pode dar", disse o procurador Sérgio Pinel, membro da força-tarefa.
"Decisões judiciais que prendem ou soltam pessoas são normais do jogo democrático. O que nos coloca de uma posição de apreensão, os casos em que houve habeas corpus há risco de fuga, e até de ameaças", disse Pinel.
Além de juízes e procuradores, estavam presentes os atores Thiago Lacerda, Maria Padilha, Paula Burlamarqui e Lucinha Lins, o cantor Jorge Vercilo, os deputados Alessandro Molon (Rede), Elionar Coelho (PSOL) e Marcelo Freixo (PSOL).
Leonardo Wen - 12.jun.2017/Folhapress | ||
O juiz Marcelo Bretas, ao lado do vereador Otoni de Paula, em junho |