Primeiro delator da Operação Zelotes, o ex-auditor Paulo Roberto Cortez disse em seu acordo de colaboração premiada que o empresário Victor Sandri afirmava ter poder de influenciar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para conseguir alterações na composição do Carf.
Vinculado ao Ministério da Fazenda, o Carf é um tribunal administrativo que analisa recursos apresentados por empresas contra multas aplicadas pela Receita Federal.
Sandri é dono da Cimentos Penha, que conseguiu por meio de recurso no Carf, segundo o Ministério Público, livrar-se de uma multa de R$ 57 milhões aplicada em 2004.
Segundo o delator, empresários tinham interesse em influir na composição das turmas do conselho e alguns nomes de conselheiros eram entregues a Sandri, que os repassava a Mantega. Cortez afirma que nomes foram alterados de forma a acolher os pedidos dos empresários.
Cortez disse que Sandri afirmava se reunir pelo menos uma vez por semana com Mantega em São Paulo, em jantares às sextas-feiras. Segundo Cortez, ele e Sandri usavam um código para se referir a Mantega: "Amiga".
O delator entregou e-mails que comprovariam contatos mantidos com Sandri, mas não o conteúdo das conversas, que não foram gravadas.
Cortez é o segundo delator que vincula Sandri a Mantega. Em depoimento neste ano à PGR (Procuradoria Geral da República) e à PF, o empresário de carnes Joesley Batisa disse que pagou R$ 50 mil mensais para Sandri que, em troca, "intermediou" contatos com o ex-ministro. Joesley tinha interesse em obter empréstimos no BNDES.
A participação de Mantega nos esquemas investigados pela Zelotes não foi confirmada até o momento pela PF.
Em janeiro passado, a instituição concluiu inquérito que tratou dos mesmos fatos relatados por Cortez, mas não indiciou Mantega, pois não foram encontradas provas de crimes cometidos por ele.
O inquérito terminou com o indiciamento de Sandri por supostas corrupção e lavagem de dinheiro.
O advogado do empresário, Ticiano Figueiredo, afirmou que seu cliente "jamais participou de qualquer ato ilícito, seja ele próprio, seja em nome do ex-ministro" Guido Mantega.
"Apesar de não ter tido acesso ao conteúdo da delação, a defesa considera mais uma tentativa de vê-lo envolvido na prática de atos ilícitos sem qualquer tipo de prova", disse o advogado.
O defensor de Mantega, procurado, não foi localizado para comentar o assunto.